As senhoras à conversa no café fino davam uma imagem aproximada das distorções conceptuais e reais em que o país submergiu. Do jovem Renato Seabra, hospedado em Nova Iorque em hotel caro, a expensas do homossexual português assumido mais conhecido, a quem é suposto ter assassinado, em face da confissão publicada, dizia a de roxo, «coitadinho, acredito que está inocente, tenho muita pena dele». Estavam todas de acordo. E logo aflora o tema duma alta mal sucedida na urgência do hospital local e a mesma arguente quase grita, «mataram-na, mataram-na!».
Esta ligeireza apreciativa, produto imprensa cor-de-rosa, não difere da observada nos nossos partidos. Entendeu-se agora poder melhorar a execução orçamental pela redução do número de parlamentares. Pouco importa não ser esse o caminho para melhorar o exercício democrático, a passar em primeira instância pela alteração do método de eleição sem prejuízo para os pequenos partidos. E como se fosse pouco também houve quem nos últimos dias entendesse augurar a qualidade democrática no reforço presidencialista. Talvez possa ser uma das componentes duma futura mudança. Como medida isolada, meus caros, o país não merece tamanhos tratos de polé.
Nestes momentos delicio-me sempre com as opiniões desencontradas dentro do mesmo sector partidário, jogada muito estudada e bem sucedida na diplomacia, normalmente debilitadora de quem propõe a ideia em apreço.
A ânsia de El Baradei em substituir a todo o momento o poder instituído no Egipto, subvertendo o protesto jovem das ruas, das redes sociais e da cultura, a alastrar do Magrebe à Turquia, é pornográfica. Se atentarmos na sua proximidade ao movimento Irmandade Islâmica, face política do extremismo confessional, acrescem os motivos de preocupação.
Curiosamente, esta realidade a desenrolar-se nos últimos quinze dias a uma distância Lisboa - Porto da Europa culta, não foi prevista por um analista sequer, um pouco ao jeito da bolha do imobiliário norte-americano.
Claro que em História não há ses, é irrelevante dizer-se «não fora assim e tinha sido assado». Por isso me contento com a previsível demissão das pessoas com assento na Entidade Reguladora da Comunicação Social, na esperança de os futuros dirigentes virem a impor ao órgão uma postura democrática. Pouco me importa donde venham. O exemplo de isenção política da presidência do Tribunal de Contas diz-me ser possível os indivíduos fazerem o lugar. O contrário também é possível mas temos tido menos exemplos, dada a promiscuidade antidemocrática atingida.
Tablóide ou não, desta ou daquela cor, mor das vezes a diferença no rigor informativo e de opinião é mera semântica.
Henrique Pinto
06 de janeiro 2011
FOTOS: Cidade do Cairo; El Baradei; sarcófago de Tutankhamun
O MELHOR DO ‘ORFISMO’ ESTà DE VOLTA CHEIO DE CORES OPTIMISTAS E
QUESTÕES SEM RESPOSTA
-
Numa antestreia de 1913 do Salão de Outono em Paris, onde o Orfismo era
apontado como a coisa quente na pintura, o New York Times escreveu: “As
pessoas ...
Há 4 horas
Sem comentários:
Enviar um comentário