terça-feira, 27 de outubro de 2015

E SE A CABEÇA FOSSE DE FÉRIAS?

O estado da infeção hospitalar em Portugal é penoso, de amplitude soberba e muitíssimo grave. Abstenho-me de dissecar e de comentar a meia dúzia de casos ora vinda a público – no Hospital de Gaia - inscritos entre os vários milhares de desfechos fatais em cada ano em Portugal ocorridos sem notícia... É um fenómeno estrutural, sim! Mas a sua prevalência assenta em anomalias comportamentais e cognitivas dos profissionais e administrações a todos os níveis.
O silêncio face a tal quadro não difere em natureza da estridência que rodeia o fenómeno nutricional. As razões do desvario educacional em nutrição, infelizmente matéria transacionável disputada hoje da universidade às cabeleireiras, estão, em geral, exaustivamente explicitadas por mim numa dezena de artigos online. Não maçarei com isso os meus leitores.
É infindável o universo humano a não comer ou beber qualquer coisa três a quatro horas depois de jantar, no baixar à cama. É como se a hipoglicémia fosse pecado venial, o corpo não tivesse metabolismo de base ou o cérebro e outros órgãos vitais abalassem para férias.
Pois a química e as funções cerebrais são influenciadas pelas mudanças de curto ou longo prazo na qualidade do regime alimentar.
A glicose é o principal substrato energético do cérebro, o «carvão animal» como lhe chamava o professor Gomes da Costa. A ingestão de proteínas e aminoácidos podem influenciar a passagem do sangue para o cérebro de alguns destes, dependendo da qualidade dos já funcionantes como aminoácidos transportadores, localizados na barreira sangue cérebro. Esta não é propriamente um portão. Trata-se do labor duma ampla diversidade de transportadores, que pululam nos capilares do cérebro, e impedem ou promovem a entrada nele de moléculas ali indesejáveis. Aqueles aminoácidos vão servir para a variedade e complexidade da gordura incorporada nos neurónios, nomeadamente para a transmissão elétrica neuronial dos estímulos e respostas sensoriais e motoras.
Daí a importância crucial para cérebro e visão representada pela nutrição logo no período fetal, bem como no desenvolvimento posterior do indivíduo. É ainda essencial o adequado suprimento em vitaminas e minerais, particularmente do zinco (a deficiência deste provoca dano neurofisiológico). Tal nutriente influencia o apetite, o gosto, o cheiro, a visão e o ânimo e pode ajudar a tratar a anorexia. Nos idosos e em doentes psiquiátricos, as dietas pobres e com défice de vitaminas do complexo B e vitamina E, podem conduzir à perda de memória, depressão, demência e outras perturbações cerebrais.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica

In Diário de Leiria, Outubro 27/15

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

EM MOVIMENTO, UMA VIDA

Ando muitíssimo distraído. Só não me preocupa por aí além dado ter-se a situação como normal nesta fase de evolução da minha convalescença.
Neste fim-de-semana li de um fôlego o magnífico livro Em Movimento, Uma Via, de Oliver Sacks, falecido em 24 de Agosto último. São da sua pena, entre muitos outros livros e textos, obras como O Homem Que Confundia a Mulher com Um Chapéu, Despertares (lembremo-nos do belíssimo filme com Robert de Niro e Robin Williams), Musicofilia ou O Olhar da Mente (todos publicados na Relógio d’Água).
Oliver Saks condecorado pela Rainha Elizabeth
Em finais do ano passado, aquando estive nos Estados Unidos em trabalho, aproveitei para uma vez mais visitar alguns dos bons e velhos amigos. Foi assim que estive com Oliver Sacks, que sabia enfermo. Tencionava convidá-lo novamente a palestrar em Portugal. Mas o ilustre neurocirurgião, investigador, matemático, músico, escritor e motoqueiro, declinou em absoluto tal possibilidade. Dizia-me que o seu cancro, um Melanoma da coroide, tinha metastizado, e que julgava durar até ao Natal de 2015. Desejava completar entretanto uma série de projetos que tinha em mente. Ao que parece, terá conseguido o seu desiderato.
Oliver Saks com Robin Williams durante a rodagem de Despertares
Em Movimento é uma autobiografia por onde perpassam todos os avanços significativos do estudo do cérebro e também da consciência desde o século XIX. A Obra tem um ritmo mais acelerado no seu último terço, onde Sacks se estuda a si mesmo, porventura intuindo a megera a rondá-lo. Vejamos um trecho disso mesmo.
«(…) Em Setembro de 2009, ao fim de três anos de tratamento, a retina do meu olho direito, fragilizada pela radiação, sofreu uma hemorragia, cegando-o por completo (…).» «Privado da visão binocular, eu tinha agora  muitos e incapacitantes (mas por vezes arrebatadores!) problemas com que me defrontar – e que investigar. Esta perda
da visão estéreo não representava apenas uma lamentável privação para mim, enquanto estereófilo apaixonado, mas revelava-se amiúde também perigosa. Sem a noção de profundidade, os degraus e os lancis dos passeios apareciam-me como meras linhas no chão, e os objetos distantes pareciam estar no mesmo plano que os mais próximos. Com a perda do campo visual no meu olho direito tive muitos acidentes, colidindo com objetos ou pessoas que pareciam surgir de súbito à minha frente vindos do nada. E eu não estava apenas cego fisicamente, mas também mentalmente do lado direito.» (…) «Essa negligência unilateral, como os neurologistas lhe chamam, ocorre normalmente na sequência dum AVC ou de um tumor na região visual ou parietal do cérebro. Para mim, enquanto neurologista, estes fenómenos eram particularmente fascinantes, pois forneciam um espantoso panorama dos modos como o cérebro funciona (ou disfuncional, ou deixa de funcionar) se o input sensorial é deficiente ou anormal.» (…)
É assim que o investigador, homem brilhante no terreno e na teoria, fazedor de milhares de Estudos de Caso clínicos, de doenças raras, concentra na análise das suas próprias emoções enquanto doente, a validação das teorias dos feixes de milhares de neurónios interligados para um único estímulo/resposta, organizados em “mapas” que interagem continuamente (teorias de Edelman, Nobel da Medicina e seu amigo).
É um livro com um universo de leitores muito para além dos médicos interessados pela ciência.
Henrique Pinto

25 de Outubro 2015
Halterofilismo do duro, paixão de quando rumou à America em 1960

sábado, 24 de outubro de 2015

LUZ AO SAIR DO TÚNEL

Como médico em Rotary senti desde muito cedo a importância da luta pela erradicação da paralisia infantil no mundo. À altura Portugal já tinha conseguido este desiderato. Todavia, a doença – existe enquanto existir um único caso no mundo -, difícil de conter, era a mais cruel entre as crianças até aos cinco anos. O sarampo ocupa hoje o lugar da Pólio entre as doenças evitáveis. Também está quase extinto entre nós (logo a partir dos 85% de crianças vacinadas), coisa que os EUA estão longe de conseguir. Um bem a chegar-nos graças à imunidade de grupo. Um não vacinado pode ficar imune dentro duma comunidade de crianças vacinadas.
Alguns momentos da minha vida foram particularmente emocionantes ao envolver-me nesta saga da poliomielite. Ouvir o meu saudoso e querido amigo, colega e companheiro rotário Guilherme Wilson, numa das reuniões semanais do clube, a ler os incitamentos do Presidente mundial Carlos Canseco, foi como se incarnasse Robin Williams em Despertares, do amigo Oliver Sachs. E em 2002 impulsionei uma ida a Angola dum grupo de amigos para integrarmos uma NID, National Imunization Day, como voluntário. Aí voltaria depois por diversas vezes. Mas essa estadia marcou-me. Vem daí a amizade com José van Dunen, o atual ministro da saúde, um homem incontornável na difícil façanha de tornar o país livre da praga pólio. Lembro-me de o meu amigo Luis Vicente Giay me ter contado a conversa com Savimbi, via rádio, propondo-lhe a imunização das crianças, e a resposta deste, fulminante, «das nossas crianças tratamos nós». A Televisão Pública de Angola (TPA) fez um excelente filme da minha participação naquela NID.
Estava em Iguaçu no Brasil quando me chegou o telefonema de Bob Scott, de Chicago, a instar-me a estar em Zurique para uma reunião sobre a Pólio. Voei para a Suíça numa maratona, cheguei ao Hotel Hilton três quartos de hora antes de começar a reunião, tempo apenas para um duche e a toma do pequeno-almoço. Foi fantástico. Estavam lá os maiores desta causa, na altura, de Rotary International, Organização Mundial de Saúde e UNICEF, pessoas de toda a Europa. Foi passado o filme da TPA, eu intervim durante quinze minutos já quase no final da manhã. Minutos depois Carl Wilhelm Stenhammer, futuro presidente mundial de RI, veio junto de mim pedir-me um cartão meu. Viemos a tornarmo-nos grandes amigos. Integrei o seu team enquanto presidente. Uma amizade sólida tal como aconteceu com Bob Scott (ria sempre muito por eu tratar a Kris Tsau por Darling e não dear), Linda Muller e por aí em diante.
Uns anos depois conheci de fato o médico Carlos Canseco em Los Angeles, considerado em 2002 um dos Public Health Heroes of the Americas. Pela Organização de Saúde do continente americano. Jantámos até num restaurante mexicano, com um grupo de companheiros amigos sul americanos. Tenho esse encontro por momento único na minha vida. Sinto essa emoção como fortíssima ao evoca-lo hoje no Dia Mundial da Pólio (World Polio Day).
Leiria, 24 de Outubro de 2015
Henrique Pinto

domingo, 18 de outubro de 2015

NAUFRÁGIO EM CASCAIS, O RUÍDO DOS SILÊNCIOS

Estou «fascinado» com a «beleza» do encalhe em Cascais! Lembro-me dos tempos de criança, antes ainda da marinhagem por GPS, quando tanto o Hildebrando quanto o Juanita embateram na costa do Cabo Raso, a dez quilómetros para oeste deste desastre.
Estou maravilhado com a qualidade da informação a este respeito, sobretudo das televisões. Pelo que repetem até à náusea o navio está «ao largo de Cascais». Mas não é verdade, enterrou a proa praticamente junto à Marina.
Só que ainda não vi qualquer repórter ou locutor procurar uma explicação para o fato de um petroleiro com tais proporções, antes ancorado a mais de três milhas da costa, esperando entrar na barra poupando antes bons milhares de euros de acostagem em Lisboa, percorrer tal distância, desnorteado e em pleno dia. Também não vi nenhum responsável da marinha, dentre os vários ali presentes, ousar meter-se por tais caminhos.
E nós a pensarmos que estes procedimentos eram apanágio apenas dos dirigentes políticos e do futebol! 
Outubro 2015 
Henrique Pinto
                                       Fotos partilhadas com João Marques Valentim

sábado, 17 de outubro de 2015

DAS UNIVERSIDADES ÀS CABELEIREIRAS

A propósito do Dia Mundial da Alimentação

Com companheiros de Rotary International no descanso de almoço, voluntários num Banco Alimentar em Orange County, Los Angeles, EUA, distribuidor de 7,5 milões de refeições por dia para instituições de apoio aos pobres

Ontem foi o Dia Mundial da Alimentação. Nos dias tão cheios de notícia (boa, má e péssima) haja um pretexto, uma efeméride por exemplo, para focar num ou mais spots as incertezas, mitos, convicções e certezas, condicionantes do móbil da dita celebração.
A Fome no mundo é uma catástrofe. Mais aguda nos países em guerras, nos desprovidos dos recursos indispensáveis e naqueles com mais pobres.
Todavia, é seguro dizer, esta modalidade de pobres sem alimentação corre transversalmente todos os países do mundo a latere da escala de riqueza dos países. Vejamos, nos EUA supera largamente os trinta milhões de cidadãos e não será menor em proporção na Federação Russa.
Mas a fome não é o único parceiro da alimentação. A abundância de comida está no cerne de praticamente todas as «doenças da civilização», mormente as crónico-degenerativas. O excesso em álcool, em hidratos de carbono complexos, as gorduras saturadas, a falta de controlo nas doses, horários, trabalho por turnos, vida notívaga, etc., induz obesidade excessiva e doentia em volumes cada vez mais amplos das populações.
Perante a ausência duma educação alimentar coerente, a contrastar com a ineficiência e pouca preocupação política das autoridades para minorar a influência dum exército agressor feito de múltiplas frentes legais mas ilegítimas, uma mera consulta de nutrição é disputada das universidades às cabeleireiras.
Henrique Pinto, Professor Doutor

Outubro 2015 
                                      Foto e confeção Andreia Pinto

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O INEM VAI DE MAL A PIOR

O senhor presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) foi suspenso das suas funções na sequência de acusações quanto a ter sido usado um helicóptero do serviço para levar do Hospital de Cascais a outro departamento uma doente das suas relações próximas. O senhor ministro da saúde levantou-lhe posteriormente um inquérito.
Quase seria um evento de someninhos – é hábito velho noutras instituições, fala-se muito de corrupção mas em geral a cunha é socialmente bem tolerada -, não fora a circunstância de nos últimos tempos a instituição ir de mal a pior no respeitante ao serviço prestado às populações. As queixas são muitas.
Diz-se de quem poupa no que não deve em absoluto e sem motivos financeiros para tal – seriam escusadas as transferências para nutrir o setor privado da saúde não supletivo –, certamente induzirá resultados que o pagante de impostos informado não deveria tolerar. Como disse Carlos dos Santos Moreira (conselheiro nacional de Auditoria e Qualidade) à revista da Ordem dos Médicos, «o Serviço Nacional de Saúde, enquanto expressão maior da Democracia política, económica e social, é uma concretização dos valores da igualdade e da solidariedade, essenciais à existência de um Estado democrático social, pois garante o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social…». O INEM é um dos seus serviços de grande préstimo. E servirá portanto ricos e pobres… Pois, pois!
Uma pequena história diz tudo da reorganização estrutural infeliz ali operada.
Um colega meu presenciou um aparatoso acidente de viação em Leiria. De pronto reanimou o condutor, em aparente paragem cardiorrespiratória, e logo ligou ao INEM, identificando-se e clamando por urgência. Quem atendeu a chamada fez perguntas e mais perguntas. O pior é que não sabia localizar onde ocorrera o sinistro apesar de lhe terem sido dadas todas as referências possíveis para um GPS de pechisbeque. Sabedor da profissão de quem lhe telefonou e do diagnóstico do sinistrado, disse estar a atender do Porto e ir passar a chamada a um médico. É então que este colega, em Lisboa, faz um ror de perguntas e nunca mais se resolvia. Foi necessário um ultimato do seu par em Leiria. Entre o pedido de socorro e a chegada da equipa médica decorreram 28 minutos enquanto a ambulância, com gente competente e séria, gastou tão só três minutinhos.
Felizmente o motorista fora socorrido a tempo e horas por um cidadão qualificado. Caso contrário poderia ter sucumbido ali mesmo. É notório que esta descentralização do INEM não funciona e os recursos estarão longe do exigível.
Outubro 2015

Henrique Pinto

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Ó GAMEIRO, QUEM O MANDA TOCAR RABECA?

Numa edição recente do Expresso o meu colega José Gameiro, psiquiatra, extravasou as suas competências médicas, tombando, a meu ver, para o lado do grande exército dos que interferem negativamente nas recomendações dietéticas. A linguagem tipo copo de vinho e mariscada, que não comento, parece-me a menos recomendável para quem se julgue proactivo na educação em saúde. O rol de adversários da alimentação saudável estaria neutralizado se confinável a este episódio triste. Muita gente faz uns dinheirinhos pouco devotamente no vultuoso negócio alimentar, a começar nos média, passando por profissionais (mesmo se legalmente habilitados) e terminando nos charlatães de toda a índole. A falta de escrúpulos é assustadora.
Refiro hoje aqui apenas os suplementos vitamínicos e minerais (com a ênfase no cálcio) cuja publicitação tanto rende aos seus promotores. Alguns destes estão presentes de manhã à noite na rádio e canais televisivos, nomeadamente nos reality shows.
Em geral pode dizer-se bastar um regime alimentar saudável para se ingerirem todos os ingredientes desta natureza, com algumas exceções. Eis como exemplo resultados de algumas meta análises direcionadas a tal respeito.
É muito limitado o suporte científico no recomendar suplementos multivitamínicos (MVM) para obter resultados positivos em saúde.
Não há provas suficientes para recomendar ou não vitaminas A, C e E, ou combinados de antioxidantes, para prevenir doenças cardiovasculares ou o cancro, nem qualquer evidência de benefício ou dolo associados a suplementos de vitamina C.
Há crescentes provas para argumentar contra suplementos por vitamina E, dada a preocupação pelo aumento da mortalidade, e mesmo em doses inferiores a 400 UI, por possível incremento de AVC por hemorragia.
A quantidade de cálcio num suplemento MVM é bastante baixa (menos de 200 mg) para ter alguma importância fisiológica. Quando este for mesmo necessário o «doente» deve ser aconselhado a privilegiar ao máximo o cálcio da comida e só então recorrer a reforço para atingir 1 a 1,2 gramas por dia. Nos idosos com fraca exposição ao sol e/ou outros fatores de risco de aterosclerose pode ser recomendável um suplemento de vitamina D (importante no metabolismo do mineral) de cerca de 800 UI.
Apesar dos estudos não serem unânimes estabeleceu-se o consenso de prescrever suplementos com vitamina D (7-800 UI) na prevenção de quedas e fraturas insidiosas.
Entre a necessidade e o negócio o fosso é dramático.
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição Clínica



ANTÓNIO TRAVASSOS, CIRURGIÃO UNIVERSAL

O Dr. António Travassos foi meu contemporâneo de Coimbra, e é com ele e com o Professor Rui Proença, seu colega de equipa, que costumo aconselhar-me. Fomos todos alunos do Professor Cunha Vaz. Uma personalidade tão notável quanto estes seus dois discípulos. Formou gerações dos melhores oftalmologistas do país. Tive oportunidade de me aperceber no estrangeiro da importância científica para o mundo por ele corporizada.
Pois a referida cirurgia constitui um grande feito do colega António Travassos, um novo pioneiro universal. Já salientei nesta página o papel que o Centro Cirúrgico de Coimbra, por ele levantado e dirigido, representa para muita gente planeta fora.
Em todas as ocasiões evoco a circunstância de o CCC ter exatamente os mesmos princípio e espírito das tão famosas Clínicas Mayo, mas com uma atmosfera de maior serenidade. Falta-lhe, por enquanto, o aeroporto…
Mas o insigne cirurgião, é, a meu ver, tão artista e inovador na medicina quanto na arte e na sensibilidade reservada. Uma pequena amostra de imagens do fundo do olho, perspetivas fascinantes, retirada dum espólio seu com dois milhões de similares, começou por ser Exposição temporária do Museu Ciência Viva, em Coimbra, para se tornar hoje num ícone mais e mais apreciado, país após país a acolher tão singela mostra.

É a ciência exaltada ao melhor estilo. Bem haja.
Henrique Pinto
Outubro 2015


domingo, 11 de outubro de 2015

MONOTONIA ENTEDIANTE

O homicídio domina superlativamente a temática fílmica e televisiva. Depois dos westerns – adoro o género, digo já – onde os cowboys no cinema eliminaram metade dos habitantes da Califórnia, nas últimas décadas o assassinato ganhou foros de eleição no mundo dos textos e scripts, da literatura à tela. Há bons estudos sociológicos a isentarem os média como responsáveis pelos crimes da vida real. Alguns, porém, admitem a criação de clima favorável. De qualquer modo só a monotonia já se torna entediante em termos de saúde mental.
É possível e desejável fazer obras muito boas no filme como na literatura longe desta temática. A série Lei e Ordem, da conservadora Fox, é afinal, dentro do género crime, um produto de boa qualidade, explorando preventivamente outras abordagens, designadamente o rapto de menores e o abuso e violação sexual. Há formas de escapar à generalização.
A globalização – coisa boa em si – teve no cinema uma das suas expressões mais conseguidas. Talvez se falasse com mais propriedade se nos referíssemos mesmo a americanização.
Todavia, se em muitos aspetos tal mundialização não fechou no global deixando as portas abertas à transição deste estádio para o particular, ao invés do imaginado e temido por inúmeros profetas da desgraça, na verdade afigura-se difícil para já uma reversão da temática homicídio. Tanto mais quanto o liberalismo económico dominante na União Europeia não parece suficientemente forte para o evitar, nem sensível à frase da campanha de Clinton, tão reiterada, «as pessoas em primeiro lugar», aquando em sede de discussão do acordo global de comércio com os EUA.
Outubro 2015

Henrique Pinto
Julianne Margulies

A QUARENTONA NÃO O PERMITIRÁ!

Se o emprego baixa em pleno Agosto a economia tem de estar complicada. É difícil a um leigo como eu, mesmo se instruído, encontrar quaisquer melhorias nos últimos quatro anos. Como não é crível serem de todo ignorantes dois terços dos votantes, provavelmente os portugueses ter-se-ão demonstrado mesmo descontentes com semelhante estatuto do país. Se a isto somarmos o maior número de abstencionistas de sempre em eleições para o parlamento, compreende-se mal o sururu reinante entre a crítica situacionista. O reino como o mar não pode ficar à mercê das mesmas correntes.
E não é necessário pegar na macroeconomia para aí chegar, embora custe a crer como o dinheiro externo e interno se esvaiu sem alguma vantagem. Atente-se tão só em dois ou três aspetos conjunturais singelos. Tanto se fala na zona económica exclusiva no nosso mar. E que se fez? Se nem mesmo a proteção da costa e o apetrechamento das barras tem o mínimo de sustentação. O naufrágio da Figueira da Foz é apenas um dos sintomas do desinvestimento, dum olhar de soslaio e pouco sério.
Quando se favorece o ensino e a saúde privadas num quadro de não insuficiência estrutural do setor público, e se desamparam de tal modo franjas da inteligência e sensibilidade, como o ensino artístico, a investigação, o desejável enquadramento de universidades e politécnicos, que pensar? Quando se deixa ao Deus dará quadrantes específicos da saúde, mormente nas doenças raras, na oncologia com listas de espera por cirurgias inapeláveis a engrossarem, por muita simpatia que o ministro possa suscitar, que pensar? Que dizer do mandante educacional tão acérrimo crítico dos seus antecessores? Que crédito a atribuir ao influente colega meu que secretaria a saúde enquanto governante? Até aplicou taxas moderadoras aos dadores de sangue, alegando superavit, para logo depois ter de se importar travejamento tão vital para as vidas em risco!
Creio assim imperioso o explorar de todas as possibilidades de efetivar novas maiorias políticas, em face dos dados eleitorais recentes, tanto mais quanto a quarentona Lei eleitoral só por si jamais o possibilitará.
Outubro 2015

Henrique Pinto

sábado, 10 de outubro de 2015

O ESTAGIÁRIO, HISTÓRIA BELÍSSIMA

Corre por aí o belíssimo filme O estagiário, com o veterano ator Robert de Niro. A idade cronológica do espetador, penso eu, não será o motivo mais forte de identificação com a personagem mor da história. Mesmo se esta enfatiza a juventude e a capacidade dum septuagenário retirado em voltar ao trabalho numa empresa jovem, superdinâmica e exigente em inspiração. Porquanto as restantes personagens, gente jovem, bonita, interagem fantasticamente com De Niro numa coexistência proativa de gerações. 
Se há Obras que dão um sentido novo e atraente ao Envelhecimento Saudável, esta é incontornável a tal respeito. É algo de bem construído a acrescentar valor à vida. Há dois anos participei num colóquio muito interessante sobre este tema a convite do amigo e colega António Sales. Que pena só agora aparecer este filme, um instrumento de qualidade para a sensibilização.
Outubro 2015

Henrique Pinto


QUE SE DANE O NIRVANA DA MENTIRA!

Nos EUA governante ou gente pública a cometer perjúrio ou a viver um deslize sexual é, não raro, esconjurado na grande praça da ignomínia. Por cá, exaltam-se ambas as faces de Jano. Pois bem, cada um que tenha os eflúvios sensuais a seu gosto. Ao mascarar da verdade um sumiço lhe dê!
Um amigo meu comentava aqui, enigmaticamente para mim, a ausência do grosso do povo socialista no comício de Costa em Leiria, atribuindo-a a uma nuvem conspiratória local. As minhas militâncias nunca foram partidárias, antes se cingiram à cultura, à educação, a causas cívicas e ao saber fazer em áreas profissionais. Porém, sempre entendi as dissensões em momentos de necessária unidade como o escancarar da capoeira quando a fome é rainha.
Conheço António Costa, sei dele ser pessoa íntegra e muito capaz. Desconheço o que lhe vai na alma. Porém, a procura e consolidação de caminhos nunca trilhados afigura-se-me a via da difícil verdade. Aos distraídos no momento do ousar apenas me ocorre dizer, olhem para a Europa onde há maiorias de governo constituídas por segundos, terceiros e mesmo quintos votados. Sejam corajosos e humildes, guardem as supostas afrontas para outras núpcias, não borrem a pintura!
O meu amigo Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura, deixou agora a liderança do Tribunal de Contas para entrar no executivo da Fundação Gulbenkian, em substituição do seu antecessor como ministro da educação. Tal mudança representa um upgrade cultural e educacional substantivo num país onde falar de tal coisa é descer ao nível da minhoca aos olhos neoliberais. Está no mesmo patamar da procura de soluções governativas em terreno onde estes mesmos valores colhem particular atenção. Não queiramos recair no nirvana da mentira.
Outubro 2015
Henrique Pinto



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

CAMPANHA “GIVE ME 5 FOR POLIO”

                                      Angola 2001, na Saga da Polio
A Comissão Distrital da Fundação Rotária de RI, através da sua Subcomissão Polio Plus, idealizou uma campanha destinada a lembrar o dia mundial da pólio, de uma forma simples e produtora de resultados financeiros que permitam reforçar a luta final contra a doença. Como sabemos, o presidente de RI, K.R. Ravindran, convidou todos os rotários do mundo a assistirem ao vivo, via internet, ao 3º evento pelo Dia Mundial de Combate à Pólio, que acontecerá no dia 23 de Outubro, às 18H30 de Nova Iorque (23H30 portuguesas). Associando-nos a esta iniciativa, entendemos que uma excelente forma de celebrar o Dia Mundial da Pólio passará também por uma vertente de angariação de fundos para acorrer aos esforços finais de Rotary no sentido da erradicação desta doença da face da terra. Porque não, então, os clubes reunirem-se no dia 23 de Outubro (os que não reúnem à sexta, transitariam a sua reunião semanal para a sexta-feira, dia 23 de Outubro), dedicarem essa reunião ao tema POLIO PLUS e assistirem à transmissão do evento mundial? O formato da reunião fica ao critério de cada clube: ou reunião de café e companheirismo, ou reunião de carácter mais abrangente, aberta à comunidade. Se são puder ser no dia 23 de Outubro, que seja no dia 24, ou em dia próximo. No nosso Distrito, criámos a imagem e a campanha GIVE ME 5 FOR POLIO, que significa um apelo à doação de 5 euros por cada companheiro, para o combate à Pólio, e, simultaneamente, um gesto de regozijo por estarmos tão perto de alcançar o objetivo de erradicação da doença. Vamos também sensibilizar os nossos amigos, colegas de trabalho, parceiros de negócio, para esta doação e para esta causa! O dinheiro angariado deverá ser transferido, até 30 de Novembro de 2015, para o NIB 001800032251646202019, com o descritivo “DONATIVO POLIO” Vamos, pois, Companheiros, participar ativamente nesta campanha! De 23 de Outubro a 30 de Novembro.
Outubro 2015
António Vaz
                                      Convenção de Lisboa de RI, 2013

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A NUDEZ DE CRISTINA

Diretor clínico num reputado hospital o colega arregalou os olhos, quase em choque. Você diz-me que a nossa comida não presta? Não meu caro, mas está em desconformidade com a chamada alimentação saudável. As principais refeições são hipercalóricas. Depois, apesar da boa qualidade dos condimentos há um sem número de procedimentos menos corretos. Antes do adormecer, quando pelo ritmo circadiano normal o organismo se prepara para o metabolismo basal, e tem estado em repouso, deixa-se-lhes leite. Manteiga ou margarina aparecem diariamente. Fritos e batata são uma constante. E à instituição não falta gente qualificada!
Uma Escola Secundária de Leiria foi distinguida recentemente por, entre outros atributos, ter uma alimentação apropriada. Mas não tem. Recomendo a todos os meus clientes que os filhos levem comida de casa.
                                       Selfie de Andreia Pinto
É bem animador ver alunos universitários cada vez mais a usarem a sua marmita, aquecendo-a nos inúmeros micro-ondas postados nos corredores. Razões económicas contam. No entanto seria errado menosprezar a crescente consciencialização dos jovens portugueses para o bem inalienável, a Saúde, cuja harmonia é influenciada pelo valor dietético da comida ingerida.
Meu saudoso professor Gonçalves Ferreira chamava amiúde à atenção para a relevância económica da alimentação, e particularmente da coletiva, por via do seu impacto na saúde e na doença.
Sobretudo na Europa e nos EUA, aquilo que se come é por demais influenciado pelos média e pelos pares.
Façamos uma inflexão ligeira pela televisão. Cristina Ferreira é uma senhora de ótimo aspeto visual e cativante receção pelos espetadores com mais consumo, dado o número (classes C/D). Têm-na por empresária de sucesso e não será tão só pela nudez das personagens famosas a aparecerem despidas na sua revista. É responsável por conteúdos. Em pessoa ou com o contributo de  colegas, alimenta diariamente entrevistas (publicidade encapotada) sobre os produtos mais descabidos nesta ou naquela doença. Uma boa alimentação mais ajudaria.
Henrique Pinto, Professor Doutor

Médico pós-graduado em Nutrição Clínica