O estado da infeção
hospitalar em Portugal é penoso, de amplitude soberba e muitíssimo grave.
Abstenho-me de dissecar e de comentar a meia dúzia de casos ora vinda a público
– no Hospital de Gaia - inscritos entre os vários milhares de desfechos fatais
em cada ano em Portugal ocorridos sem notícia... É um fenómeno estrutural, sim!
Mas a sua prevalência assenta em anomalias comportamentais e cognitivas dos
profissionais e administrações a todos os níveis.
O silêncio face a tal
quadro não difere em natureza da estridência que rodeia o fenómeno nutricional.
As razões do desvario educacional em nutrição,
infelizmente matéria transacionável disputada hoje da universidade às
cabeleireiras, estão, em geral, exaustivamente explicitadas por mim numa dezena
de artigos online. Não
maçarei com isso os meus leitores.
É infindável o universo humano
a não comer ou beber qualquer coisa três a quatro horas depois de jantar, no
baixar à cama. É como se a hipoglicémia fosse pecado venial, o corpo não
tivesse metabolismo de base ou o cérebro e outros órgãos vitais abalassem para férias.
Pois a química e as funções
cerebrais são influenciadas pelas mudanças de curto ou longo prazo na qualidade
do regime alimentar.
A glicose é o principal
substrato energético do cérebro, o «carvão animal» como lhe chamava o professor
Gomes da Costa. A ingestão de proteínas e aminoácidos podem influenciar a
passagem do sangue para o cérebro de alguns destes, dependendo da qualidade dos
já funcionantes como aminoácidos transportadores, localizados na barreira
sangue cérebro. Esta não é propriamente um portão. Trata-se do labor duma ampla
diversidade de transportadores, que pululam nos capilares do cérebro, e impedem
ou promovem a entrada nele de moléculas ali indesejáveis. Aqueles aminoácidos vão
servir para a variedade e complexidade da gordura incorporada nos neurónios,
nomeadamente para a transmissão elétrica neuronial dos estímulos e respostas
sensoriais e motoras.
Daí a importância crucial para
cérebro e visão representada pela nutrição logo no período fetal, bem como no
desenvolvimento posterior do indivíduo. É ainda essencial o adequado suprimento
em vitaminas e minerais, particularmente do zinco (a deficiência deste provoca
dano neurofisiológico). Tal nutriente influencia o apetite, o gosto, o cheiro,
a visão e o ânimo e pode ajudar a tratar a anorexia. Nos idosos e em doentes
psiquiátricos, as dietas pobres e com défice de vitaminas do complexo B e vitamina
E, podem conduzir à perda de memória, depressão, demência e outras perturbações
cerebrais.
Henrique Pinto,
Professor Doutor
Médico graduado em Nutrição
Clínica
In Diário de Leiria, Outubro
27/15