Como médico em Rotary senti
desde muito cedo a importância da luta pela erradicação da paralisia infantil
no mundo. À altura Portugal já tinha conseguido este desiderato. Todavia, a
doença – existe enquanto existir um único caso no mundo -, difícil de conter,
era a mais cruel entre as crianças até aos cinco anos. O sarampo ocupa hoje o
lugar da Pólio entre as doenças evitáveis. Também está quase extinto entre nós
(logo a partir dos 85% de crianças vacinadas), coisa que os EUA estão longe de
conseguir. Um bem a chegar-nos graças à imunidade de grupo. Um não vacinado
pode ficar imune dentro duma comunidade de crianças vacinadas.
Alguns momentos da minha
vida foram particularmente emocionantes ao envolver-me nesta saga da
poliomielite. Ouvir o meu saudoso e querido amigo, colega e companheiro rotário
Guilherme Wilson, numa das reuniões semanais do clube, a ler os incitamentos do
Presidente mundial Carlos Canseco, foi como se incarnasse Robin Williams em
Despertares, do amigo Oliver Sachs. E em 2002 impulsionei uma ida a Angola dum
grupo de amigos para integrarmos uma NID, National
Imunization Day, como voluntário. Aí voltaria depois por diversas vezes.
Mas essa estadia marcou-me. Vem daí a amizade com José van Dunen, o atual
ministro da saúde, um homem incontornável na difícil façanha de tornar o país
livre da praga pólio. Lembro-me de o meu amigo Luis Vicente Giay me ter contado
a conversa com Savimbi, via rádio, propondo-lhe a imunização das crianças, e a
resposta deste, fulminante, «das nossas crianças tratamos nós». A Televisão
Pública de Angola (TPA) fez um excelente filme da minha participação naquela
NID.
Estava em Iguaçu no Brasil
quando me chegou o telefonema de Bob Scott, de Chicago, a instar-me a estar em
Zurique para uma reunião sobre a Pólio. Voei para a Suíça numa maratona,
cheguei ao Hotel Hilton três quartos de hora antes de começar a reunião, tempo
apenas para um duche e a toma do pequeno-almoço. Foi fantástico. Estavam lá os
maiores desta causa, na altura, de Rotary International, Organização Mundial de
Saúde e UNICEF, pessoas de toda a Europa. Foi passado o filme da TPA, eu
intervim durante quinze minutos já quase no final da manhã. Minutos depois Carl
Wilhelm Stenhammer, futuro presidente mundial de RI, veio junto de mim pedir-me
um cartão meu. Viemos a tornarmo-nos grandes amigos. Integrei o seu team enquanto presidente. Uma amizade
sólida tal como aconteceu com Bob Scott (ria sempre muito por eu tratar a Kris
Tsau por Darling e não dear), Linda Muller e por aí em diante.
Uns anos depois conheci de
fato o médico Carlos Canseco em Los Angeles, considerado em 2002 um dos Public Health Heroes of the Americas. Pela
Organização de Saúde do continente americano. Jantámos até num restaurante
mexicano, com um grupo de companheiros amigos sul americanos. Tenho esse
encontro por momento único na minha vida. Sinto essa emoção como fortíssima ao evoca-lo
hoje no Dia Mundial da Pólio (World Polio Day).
Leiria, 24 de Outubro de 2015
Henrique Pinto
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