O senhor presidente do Instituto
Nacional de Emergência Médica (INEM) foi suspenso das suas funções na sequência
de acusações quanto a ter sido usado um helicóptero do serviço para levar do
Hospital de Cascais a outro departamento uma doente das suas relações próximas.
O senhor ministro da saúde levantou-lhe posteriormente um inquérito.
Quase seria um evento de
someninhos – é hábito velho noutras instituições, fala-se muito de corrupção
mas em geral a cunha é socialmente bem tolerada -, não fora a circunstância de
nos últimos tempos a instituição ir de mal a pior no respeitante ao serviço prestado
às populações. As queixas são muitas.
Diz-se de quem poupa no
que não deve em absoluto e sem motivos financeiros para tal – seriam escusadas
as transferências para nutrir o setor privado da saúde não supletivo –,
certamente induzirá resultados que o pagante de impostos informado não deveria
tolerar. Como disse Carlos dos Santos Moreira (conselheiro nacional de
Auditoria e Qualidade) à revista da Ordem dos Médicos, «o Serviço Nacional de
Saúde, enquanto expressão maior da Democracia política, económica e social, é
uma concretização dos valores da igualdade e da solidariedade, essenciais à
existência de um Estado democrático social, pois garante o acesso a todos os
cidadãos, independentemente da sua condição económica e social…». O INEM é um
dos seus serviços de grande préstimo. E servirá portanto ricos e pobres… Pois,
pois!
Uma pequena história diz
tudo da reorganização estrutural infeliz ali operada.
Um colega meu presenciou
um aparatoso acidente de viação em Leiria. De pronto reanimou o condutor, em
aparente paragem cardiorrespiratória, e logo ligou ao INEM, identificando-se e
clamando por urgência. Quem atendeu a chamada fez perguntas e mais perguntas. O
pior é que não sabia localizar onde ocorrera o sinistro apesar de lhe terem
sido dadas todas as referências possíveis para um GPS de pechisbeque. Sabedor
da profissão de quem lhe telefonou e do diagnóstico do sinistrado, disse estar
a atender do Porto e ir passar a chamada a um médico. É então que este colega, em
Lisboa, faz um ror de perguntas e nunca mais se resolvia. Foi necessário um
ultimato do seu par em Leiria. Entre o pedido de socorro e a chegada da equipa médica
decorreram 28 minutos enquanto a ambulância, com gente competente e séria,
gastou tão só três minutinhos.
Felizmente o motorista fora
socorrido a tempo e horas por um cidadão qualificado. Caso contrário poderia
ter sucumbido ali mesmo. É notório que esta descentralização do INEM não
funciona e os recursos estarão longe do exigível.
Outubro 2015
Henrique Pinto
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