Numa edição recente do Expresso
o meu colega José Gameiro, psiquiatra, extravasou as suas competências médicas,
tombando, a meu ver, para o lado do grande exército dos que interferem
negativamente nas recomendações dietéticas. A linguagem tipo copo de vinho e
mariscada, que não comento, parece-me a menos recomendável para quem se julgue
proactivo na educação em saúde. O rol de adversários da alimentação saudável
estaria neutralizado se confinável a este episódio triste. Muita gente faz uns
dinheirinhos pouco devotamente no vultuoso negócio alimentar, a começar nos
média, passando por profissionais (mesmo se legalmente habilitados) e
terminando nos charlatães de toda a índole. A falta de escrúpulos é
assustadora.
Refiro hoje aqui apenas os
suplementos vitamínicos e minerais (com a ênfase no cálcio) cuja publicitação
tanto rende aos seus promotores. Alguns destes estão presentes de manhã à noite
na rádio e canais televisivos, nomeadamente nos reality shows.
Em geral pode dizer-se
bastar um regime alimentar saudável para se ingerirem todos os ingredientes
desta natureza, com algumas exceções. Eis como exemplo resultados de algumas
meta análises direcionadas a tal respeito.
É muito limitado o suporte
científico no recomendar suplementos multivitamínicos (MVM) para obter
resultados positivos em saúde.
Não há provas suficientes
para recomendar ou não vitaminas A, C e E, ou combinados de antioxidantes, para
prevenir doenças cardiovasculares ou o cancro, nem qualquer evidência de
benefício ou dolo associados a suplementos de vitamina C.
Há crescentes provas para
argumentar contra suplementos por vitamina E, dada a preocupação pelo aumento
da mortalidade, e mesmo em doses inferiores a 400 UI, por possível incremento
de AVC por hemorragia.
A quantidade de cálcio num
suplemento MVM é bastante baixa (menos de 200 mg) para ter alguma importância fisiológica.
Quando este for mesmo necessário o «doente» deve ser aconselhado a privilegiar
ao máximo o cálcio da comida e só então recorrer a reforço para atingir 1 a 1,2
gramas por dia. Nos idosos com fraca exposição ao sol e/ou outros fatores de
risco de aterosclerose pode ser recomendável um suplemento de vitamina D
(importante no metabolismo do mineral) de cerca de 800 UI.
Apesar dos estudos não serem
unânimes estabeleceu-se o consenso de prescrever suplementos com vitamina D
(7-800 UI) na prevenção de quedas e fraturas insidiosas.
Entre a necessidade e o
negócio o fosso é dramático.
Henrique Pinto,
Professor Doutor
Médico graduado em
Nutrição Clínica
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