No liberalismo económico moderno
são as empresas, e já nem tanto os empresários, a «conduzirem» a sociedade. Aos
cidadãos reserva-se-lhes um papel secundário. Mesmo se as empresas se destinam
a angariar fundos para formação de recursos humanos de aeroportos inexistentes!
A saga das privatizações,
como ora voltou a ser imposto à Grécia pelos alemães para logo lhe ficarem com
catorze aeroportos, é este o rosto do fero capitalismo liberal, leva à venda ao
desbarato do erário público. O fato de a EU declinar apreciar o negócio TAP em
função do baixo custo da transação pode assemelhar-se a cena humilhante, pelo
ridículo. Mas cá para mim tenho-o por algo bem calculado pelo vendedor.
Grandes empresas como a
EDP e a PT, passadas por inteiro para o setor privado «visando» prestarem um
melhor serviço ao cidadão, são o que se vê, um quase monopólio e um vendedor de
feira.
Imagine-se como consumidor
a passar da empresa universal para a de venda de energia elétrica. Não apenas
se arrisca a pagar um valor pela transferência, que é ilegal, como o podem por
a pagar mil kw por mês (nem muitas fábricas o logram) para levarem quase um ano
a verificarem-lhe o contador, por muito que implore.
A PT não tem qualquer
controlo a não ser indireto, através das queixas à DECO. O seu produto MEO
tinha no ano transato dois preçários substancialmente diferentes, sendo a mesma
a matéria vendida. Muitos utilizadores em final de contrato tentaram passar
para o tarifário mais barato. Qual quê!? Alguns conseguiram mudar de
fornecedor, contrariando assim o ímpeto de fidelizar clientes dos gestores da
empresa. Mas, custará mesmo a crer sendo verdade, houve gente a quem a empresa
voltou a ligar à MEO, ilegitimamente, quando as pessoas já tinham um outro
fornecedor de serviços de televisão, obrigando-se estas a duplo tarifário,
durante meses, contra todos os devidos protestos. Rasa o inacreditável.
São os benefícios para o
cidadão advindos das empresas quase doadas a novos proprietários.
Alguém dizia das leis num
país, devem ser poucas e boas. Nós temos leis para tudo na mesma proporção do
incumprimento. Pois está para aí a chegar uma que obriga à apresentação do cartão
de cidadão para aviar uma receita médica. É o disparate legislador levado ao
paradoxo. Venham-me cá com explicações supostamente lógicas que eu lhes direi!
À falta de protestos
formais ou públicos talvez só a DECO possa impedir tais desmandos.
Henrique Pinto
Leiria, Agosto 2015