Ao celebrarmos o 65º aniversário da formação do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes na forma que vigorou até aos nossos dias, parece-me que o momento não é tanto para fazer balanços mas tanto mais para a evocação e o simbolismo construtivo. Estes balanços foram feitos exaustivamente na última Assembleia Geral, chegarão a todos os associados e, orgulhamo-nos disso, a comunicação social tem sido pródiga em notícias a esse respeito.
Trata-se duma celebração da longevidade e pertinência na acção. Sabendo-se como o associativismo em Portugal é fraco, como por via disso o é um pouco a nossa sociedade civil, esta evocação ganha maior significado. Porquanto, ao invés do contínuo soçobrar ou da navegação à vista em torno de projectos importantes, mas em patamares baixos da qualidade, para lá do culpar os governos e as câmaras pela falta de subsídios, o OL CA – que não vive de subsídios mas da contratualização por serviços feitos à comunidade - é uma das instituições associativas da cultura e do ensino do maior relevo no país.
Assim sendo, julga-se mais importante fazer a ponte entre o passado longínquo e o passado próximo até ao presente porque o futuro dela resulta.
No espectáculo de hoje entrosam-se o Coro Orfeão de Leiria, herdeiro da tradição criada em 1946, e que, salvo dois momentos de baixa na sua história, de ordem conjuntural e dos quais soube erguer-se, com toda a modernidade resultante duma instituição eminentemente virada para o ensino artístico. Nos componentes e direcção actuais do coro celebremos a dedicação de tantas centenas de homens e mulheres, e de mestres sábios e abnegados, que o têm corporizado com alma e brilho ao longo de quase sete décadas.
Com o Conservatório Sénior, singularidade nossa, há o preenchimento dum vazio da sociedade moderna, a atenção aos anos dourados da vida, com qualidade e rigor científico, na responsabilidade, absolutamente incontornáveis. O seu coral dá conta de tal sucesso.
Alguns dos nossos jovens alunos serão solistas neste concerto como no próprio Coro de Câmara da Escola de Música. Se é por demais agradável apreciar a beleza das vozes emanadas das classes de canto, um sucesso, é significativo o elo de continuidade que nos propusemos estabelecer entre os dois coros aqui presentes, numa complementaridade de bom augúrio.
As quatro coreografias da professora Catarina Moreira – seguramente a coreógrafa portuguesa mais premiada mundo fora – têm elas mesmas um forte sentido do querer ir mais longe e mais fundo na formação e na estética balética. Ela é tão premiada pelos seus trabalhos coreográficos, não tanto pelas produções para qualquer companhia profissional de dança, mas através do que constrói para as performances dos seus alunos em certames no estrangeiro. Professora ao mais alto nível no país mas ainda na nossa Escola de Dança, sempre, onde debutou como aluna ainda menina, ela personifica a modernidade e os propósitos de construir futuro que enforma a finalidade do OLCA, hoje a maior escola artística de Portugal.
Não há a intenção de abarcar hoje todas as áreas artísticas da casa porquanto o excelente videograma do Sérgio Claro dá boa conta disso. Mas a alegria que podeis constatar hoje em momentos tão diversos, a apresentação no hall, no intervalo, do primeiro dos 20 vídeos com que o Jornal Região de Leiria
assinala outros tantos anos da nossa Escola de Música oficial, ou a apresentação da nossa Jazz Band, prenúncio do retomar do ensino do Jazz no OLCA agora em curso, são elementos por demais motivadores da esperança de futuro para todas as gerações que julgamos estar a construir.
E o Dr. Carlos de Pontes Leça, musicólogo, ex director artístico do Festival Música em Leiria, faz esta semana no MIMO a Conferência A Música no Cinema, originalíssima, onde perpassarão Hitchcock, Renais, Fleming,Almodóvar, Spielberg, Bergman e tantos outros mestres.Bem hajam pois todos os obreiros deste percurso que ousaram por tantos anos ter a mente e os feitos sempre uns passos para lá do presente na atenção ao outro e ao país.
Henrique Pinto
(Concerto do 65º Aniversário no Teatro José Lúcio da Silva, 12 de Maio)
FOTOS: Cartaz do concerto do 65º aniversário do OLCA; Dr. Carlos de Pontes Leça e Artur Pizzarro; Spielberg; Dr. Moreira de Figueiredo e Dr. Manuel Ivo Cruz, ambos recentemente falecidos; O Rapaz e o Burro, Coreografia de Catarina Moreira; Neuza Bettencourt, directora pedagógica da EMOL; Henrique Pinto e as colaboradoras do OLCA Sandrina Antunes, Sofia Rocha e Tereza Margarida
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