Em 2004 a TAP retirou o nome de Vianna da Mota a um avião e
batizou-o como Eusébio. Ante os protestos justos o presidente prometeu reparar
o erro quando a companhia comprasse outro avião. Mas nunca o fez.
No fundo é
como se ora voltasse a rebatizar o mesmo aparelho apagando o nome de Eusébio
para lhe chamar Ronaldo. Só o nome de cada uma destas três personagens, a seu
tempo e com os inerentes condicionalismos, foi maior que o de qualquer outro
cidadão do mundo. E cada uma o foi em grau mais alto que a que se lhe seguiu. Pessoas
assim tornam-se mitos, preenchem o imaginário de gerações, fazem-se parte
substantiva do corpo e alma dos seus contemporâneos.
Fã incondicional dum
grande artista como Eusébio durante 53 anos, desde a sua chegada a Portugal na
minha juventude, as suas façanhas, encorpadas num homem de simplicidade
desarmante, e graças à comunicação em crescendo global, fizeram-no membro da
família chegada, omnipresente em nossa casa. E como a nós, a milhões de pessoas
inebriou de alegria nuns ou noutros instantes.
Alguma intelectualidade balofa
fazia chacota com a sua iliteracia. Em 1966 a notoriedade dum negro africano como
ele gerou comportamentos racistas na democrática velha Albion. Nunca tive o
gosto de o conhecer pessoalmente, ao contrário de Amália. Mas vi-o por várias
vezes a jogar contra a Briosa, encantado, mesmo quando os seus passes eram já arrastados
como os murmúrios da diva nos seus idos dourados. A notícia da sua morte foi para
mim um choque elétrico, tremendo. Em breve repousará no Panteão dos nossos
heróis para referência de futuras gerações. Um homem bom e sábio, de todos
respeitador, seguramente ingenuo e apaixonado da vida, persistente até para
além da dor, será sempre exemplo para um universo infindável de novos
admiradores, a fazer esquecer a existência dos homúnculos, figuras minúsculas
que em todos os tempos se pavoneiam humilhando e ferindo quem menos pode.
Janeiro 2014
Henrique Pinto
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