quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A PROPÓSITO DUMA VISITA A POMBAL, A VIDA E A ARQUITETURA MILITAR

A sempre agradável visita a Pombal, importante foco de desenvolvimento do norte deste distrito – tem o maior índice de equipamentos culturais per capita -, raramente deixa de fora o castelo, importante obra dos Templários, ora em reconstrução. Era Natal e as fogueiras crepitavam pelas ruas. Os velhos solares, degradados (os que não são edifícios públicos), incitam uma certa nostalgia, e, talvez contraditório, um imensurável bem estar. Desta vez apetece-me citar um trecho do meu último livro sobre Pombal e a região.
«Leiria, elevada a cidade e a diocese católica em 1545 pelo rei D. João III, sede de concelho, é capital do distrito desde a divisão administrativa do território em 1835, uma classificação supraconcelhia que, dada a heterogeneidade interna em termos orográficos, de mobilização das populações em relação aos polos urbanos e assimetria no povoamento e na atividade industrial, pouco diz hoje. Alguns pensadores da geografia humana como também boa parte da massa crítica de Leiria têm preferido situar o concelho do ponto de vista da organização de território na chamada Alta Estremadura. 
Esta situa-se na parte central do distrito de Leiria, na zona de transição entre Alentejo e o Norte do país. Apresenta-se sensivelmente como um «corredo paralelo ao mar que se liga longitudinalmente a um outro limitado a Norte pelos concelhos de Ansião e Alvaiázere e onde se situa Oum, concelho do distrito fronteiro de Santarém. Inclui assim os concelhos de Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Ourém, Pombal e Porto de Mós, com cerca de 400000 habitantes (ADLEI, 1995), o norte da região. Boa parte desta região para norte a Coimbra foi coutada dos frades de Santa Cruz de Coimbra, remontando aos tempos da fundação, e daí, de certo modo, bolsas de substantivo conservadorismo que perduram, mesmo depois da divisão da diocese de Coimbra e da qual Leiria foi herdeira.
Antes de 1135, data da construção do Castelo de Leiria pelo rei fundador D. Afonso Henriques, a região hoje concelho de Leiria seria seguramente desabitada. A presea militar trouxe-lhe mais habitantes e a função comercial ainda mais. «A segunda metade do culo XV e o culo XVI representam de facto uma das épocas mais prósperas na História de Leiria e da Alta Estremadura. Por volta de 1740 o crescimento demográfico atingirá um ritmo extraordirio de 130% em relação a 1527 e foi ainda mais significativo no século XIX. Este aumento populacional deve-se em primeira instância ao aproveitamento agrícola. Neste capítulo releva o protagonismo histórico dos coutos do mosteiro de Alcobaça. Houve sempre uma considerável diferea quantitativa e qualitativa entre o papel exercido neste ponto pelos monges cistercienses e sobretudo por Alcobaça, e aquele que outras  ordens monásticas desempenharam (Mattoso, J. 1995).
Todavia, fora dos coutos, apareceram indústrias eminentemente locais.  Em Leiria tecelões e trabalhadores de metais criaram duas albergarias em 1327. Sabe-se da existência em Leiria da provavelmente mais antiga fábrica de papel em Portugal, no culo XV, e uma tipografia que terá sido das mais antigas do país. Já na época moderna lembram-se a fábrica de azulejos e cerâmicas do Juncal (culo XVIII) e a fábrica de vidros da Marinha Grande (1748), desenvolvida  por William Stephens, de grande relevo para o desenvolvimento industrial do país. Continuam a surgir novas indústrias de notório interesse económico nacional, como os cimentos (Maceira), e já nos nossos dias, a fabricação dos plásticos e particularmente a dos moldes, um caso bem singular na inovão tecnológica em Portugal.
Algumas gravuras da primeira década do culo XIX mostram a cidade de Leiria rodeada pelos campos que a literatura sempre anotou com uma lendária fertilidade. O poeta Rodrigues Lobo, desde 1605, informa-nos que nasceu «entre as frescas ribeiras do Lis e Lena, terra favorecida do cé. O arquiteto James Murphy, quando passa em Leiria em 1788, atenua essa impressão, o pela benignidade da terra mas por desleixo dos homens, quando observa que «o solo é tão produtivo, que com pouco dispêndio de trabalho dá abundantemente trigo, uvas e azeitonas. Pois apesar destas vantagens tanto o arado como a enxada são quase desprezados».
O que se passava em Leiria? O esboço feito é o de uma cidade com uma nobreza possuidora de vastas terras que o cultivava, de uma pequena indústria cuja iniciativa pertencia a estrangeiros o botânico Heinrich Link  refere um alemão com uma fábrica de branquear com ácido clorídrico e a fábrica de vidros do inglês Stephens na Marinha Grande – e de uma igreja sobretudo interessada em governar-se a ela própria. É uma imagem porventura um pouco injusta. A devastação ocorrida em Portugal aquando das invasões napoleónicas, teve o seu ponto culminante na Estremadura. A região a sul de Coimbra e a norte de Torres Vedras, com o epicentro em Leiria e num raio de 15 léguas à volta desta cidade, ficou reduzida literalmente a nada. Naquilo que é hoje o concelho de Leiria todas as casas foram saqueadas e os objetos, os móveis e as madeiras desapareceram (Estrela, J. 2009).
Segundo José Mattoso não é menos relevante a história religiosa. Como o não é menos relevante a monumentalidade da Alta Estremadura,  um  conjunto  equivalente difícil de encontrar no país, centros da vida religiosa e cultural da região: «alguns dos mais famosos monumentos portugueses (...), a mais importante casa de uma ordem monástica - o mosteiro de Alcobaça; um dos mais importantes centros de uma ordem militar o Castelo de Pombal, fundado pelos Templários (); o mais importante monumento gótico o Convento Dominicano da Batalha; três  entre os mais importantes  exemplos de arquitetura militar os castelos  de Leiria, Ourém e Porto  de Mós; um dos mais velhos  santuários  marítimos   a Nazaré; o maior centro atual de peregrinação [católica], o Santuário detima (Mattoso, J. 1995.
Henrique Pinto
In Do Estado Novo ao Pós-modernismo cultural, Um estudo de caso, Uma história de amor


 

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