Ao fim de 30 anos e meio em Julho último deixei a presidência do
Orfeão de Leiria Conservatório de Artes. Fi-lo pelo meu pé depois de decisão
longamente ponderada e publicamente anunciada. As razões convergem todas no cansaço
e foram largamente expostas. Saí muito orgulhoso da Obra feita, sem qualquer
trauma e muito grato a todos os que me ajudaram em tal percurso. Deixei, fisicamente,
uma das organizações mais prestigiadas do país. Deixei-a sem dívidas, sem
escolhos organizacionais, sem problemas laborais e com a sustentabilidade
financeira possível para aguentar os meses de quebra de receitas. Saí feliz e
grato.
Hoje estive presente com muito orgulho e igualmente feliz na
sessão de Tomada de Posse dos novos Corpos Sociais recentemente eleitos. Estão
lá quase todos os meus amigos. E isso dá-me muita tranquilidade e entusiasmo. Preside
à direção o Dr. Acácio de Sousa, pessoa que muito estimo. Ele foi a minha primeira
escolha para me poder substituir mas a dada altura, por imperativos das suas condicionantes
pessoais de então, teve de abdicar do nosso acordo.
Não fora tal imponderável e
já seria o presidente do Orfeão desde há dois anos. Seguramente. É-o agora. E,
folgo para que assim aconteça, espero que o seja por vários mandatos. A empresa
é complexa, o ambiente político-cultural do país é pouco saudável, as pessoas
em geral têm pouco ânimo e menor esperança e dois anos são uma gota de água. Mas
as dificuldades duma organização cultural como esta, salvo os matizes, são as
de sempre. E a sustentabilidade financeira passa por no âmbito das receitas haver
sempre um capítulo especial – o risco, a ousadia, a coragem e o bom senso -,
para perspetivar recursos do mecenato privado e de serviços e proventos da
exploração de serviços próprios, de molde a neutralizar os gastos. Boa parte da
diferença do Orfeão referente à globalidade do associativismo cultural do país
residiu sempre aqui. A projeção da Obra favorece a sua sustentabilidade. Caso
contrário tudo se complica. Ora, este ponto fulcral, é um dos que mais me
tranquiliza. Porque estão lá pessoas muito hábeis e sabedoras a este respeito.
Sempre disse, com pouco faz-se muito, e assim me aconteceu. Tive o
cuidado de, num livro de investigação que escrevi propositadamente a pensar na
minha saída, uma espécie de herança de experiências e de legado ao futuro, deixar
claro, dado tratar-se de hipótese confirmada por Estudo de Caso, que o Orfeão
de Leiria reúne todas as potencialidades e o know how para ultrapassar, do ponto de vista financeiro, as
dificuldades decorrentes da ideologia económica vigente. E estou convencido que
a capacidade de trabalho, a inteligência e a experiência dos atuais dirigentes
o vai conseguir.
O barco acostará sempre num bom porto. Felicidades. Bem hajam.
Henrique Pinto
Fevereiro, 6, 2014
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