Hoje o Pico tem o aspecto dum belo jardim, muitissimo bem cuidado e enriquecido pelo tratamento que vai sendo dado ao património natural, cosmopolita, turistas de toda a parte, dos curiosos, amantes do
belo e da procura, lotando as Casas de Turismo de Habitação, fabulosas, fruindo as piscinas destas ou os recantos da costa adequados para banhos de mar inesquecíveis. A toda a hora há um navio que espera passageiros para outras ilhas e a TAP voa directamente de Lisboa. O paraíso fica ao alcance de todos. É um sinal dos tempos.
Todavia, desde os começos da colonização o povo das ilhas viveu o martírio das erupções de lava, dos sismos, da pirataria espanhola, inglesa, francesa e norte americana, das pestes destruidoras do cultivo, do isolamento, da fome, do recrutamento militar ou das dificuldades em domar a terra basáltica.
Razão que se avoca nas palavras do padre José Idalmiro Ávila, em 1999, no prólogo ao seu livro «Património Religioso da Ouvidoria de São Roque», principal fonte inspiradora deste inventário, para o incremento da fé religiosa e a edificação de locais adequados à sua celebração.
Assim:
«Por entre névoas densas de mistérios, na árdua luta pela sobrevivência, em falésias e socalcos nascem faróis de fé em maior número situados em ERMOS.
Daí a denominação de Ermidas.
Umas já desaparecidas, outras a extravasarem páginas de história, vividas e sofridas.
Paróquias são criadas e desde Santo Amaro a Santa Luzia, o concelho vai somando valores inenarráveis em arte e beleza na criação das suas igrejas.
Por elas e pelas Ermidas bem cabe a célebre frase de”nunca tantos deveram tanto a tão poucos”».
Os templos tratados neste artigo pertencem, o primeiro à
freguesia de Santa Luzia e os restantes à de
Santo António.
IGREJA DE SANTA LUZIA
Quando Santa Luzia se constituiu como freguesia em 1617 foi ali erguida uma ermida consagrada à Virgem Mártir, coberta de colmo e sem pia baptismal.
A crise sísmica e eruptiva de 1718 praticamente tudo destruiu, a lava estendendo-se em grande largura e por uma extensão de nove quilómetros até ao mar.
Em 1733 é erguido um novo local de oração e de preces, uma nova igreja. Em «
Cousas Antigas» padre Zeferino relata o casamento de escravos ali ocorrido em 1746.
Eram anos de intensa luta contra os elementos e pela sobrevivência.
Em 1844 é construída uma das torres – a igreja tem duas torres sineiras assimétricas – e em 1876 é pintado o Retábulo do Altar-mor.
Consagrada à padroeira Virgem Mártir Santa Luzia, é cenário das suas celebrações em cada 13 de Dezembro.
Ocorrem outras celebrações na paróquia como as de São Pedro e do Espírito Santo, mas as de maior nomeada são as das Ermidas, conhecidas por Festas da Costa.
O culto pagão da oferenda dos olhos de animais acompanhado de prece pelo medo de perder a visão ficou conhecido por Festa dos Galos.
ERMIDA DE SANTA ANA
Ainda que pedida em 1616 a autorização da construção da Ermida em honra da Gloriosa Santa Ana, a edificar no sítio das Queimadas em fazenda de biscoitos e matos, só é autorizada pelo Bispo de Angra em 1636, perante escritura lavrada de doação dos prédios.
Em 1899 é edificada de novo a maior parte do templo, concluem-se as paredes e frontispício e constroem-se dois altares na parte nova. Apenas a Capela-Mor fica intacta.
A festa da padroeira realiza-se no penúltimo domingo de Julho.
ERMIDA DE SÃO DOMINGOS
Testamento feito em 1670 por Domingos Nunes da Costa a seu filho padre, onerando-o com missas a celebrar na Ermida de São Domingos, no sítio das Almas, evidencia a existência do templo em data anterior.
Depois de 1922 os herdeiros deslocaram para suas casas todo o recheio, incluindo o altar de talha e a imagem do padroeiro, em face da derrocada eminente.
A 14 de Julho de 1986 a ermida é restaurada pela traça primitiva, incluindo a sineira original, a acolher de novo os fiéis.
Na impossibilidade de reposição do recheio original encontrou-se forma mais modesta de decoração. Mas as magníficas imagens de São Filipe de Neri e de São Tomé do Porto e dois quadros trabalhados a fio de ouro de 1782, retratando São Domingos e São Vicente, são importante património.
As imagens primitivas destes santos voltaram à ermida após a doação pelos herdeiros em 1982.
Minha filha foi ali baptizada em Agosto de 1991 por especial deferência do saudoso amigo padre José Idalmiro Ávila, em que a avó paterna Maria Lopes representou a madrinha.
Depois de muitos anos fechada a Ermida foi restaurada em 1996.
ERMIDA DE SÃO VICENTE
Padre João José de Melo, Vigário e Ouvidor de São Roque de 1768 a 1783, mandou construir esta ermida no lugar de São Vicente, a terra natal, dedicada a este santo pregador, no ano de 1746.
Em 1967 ampliou-se o corpo da ermida e a sacristia e construiu-se de raiz a actual capela-mor. Subiram-se as paredes de modo a estruturar-se o coro e mudou-se o sino para a sineira então adaptada.
Foi então adquirida para a ermida a imagem do Coração Imaculado de Maria e recebida como oferta a sua linda coroa.
Aquando do sismo de 1973 a população refugiou-se longamente dentro do templo.
A festa do padroeiro celebra-se no domingo mais próximo de meados de Julho.
ERMIDA DA MÃE DE DEUS
Plantada à beira mar e servida pela estrada da Furna de Santo António, esta ermida, erigida em 1792 pelo padre Bernardo Pereira, cura da Prainha, esteve até 1980 em mão de particulares.
Em 1997 a Câmara Municipal doou as bancadas para assento dos fiéis e o gavetão da sacristia, melhoramentos a cuja inauguração se procedeu em Outubro de 1998.
A imagem da Mãe de Deus que ali se venera é uma peça artística preciosa.
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO NA FURNA
Em face do portão que dá para a residência paroquial de Santo António, a voz comum explica-o como fazendo parte da capela ali existente nos primórdios do povoado.
Escavações feitas no local em 1946 deram azo a encontrar inúmeras ossadas, o que reforça a ideia da existência do templo.
No frontispício está gravada a data de 1608.
PS. Estes escritos são possíveis graças à informação contida em Património Religioso do Concelho de São Roque do Pico», 1999, e «Convento de São Pedro de Alcântara», do padre José Idalmiro Ávila (1996), «São Roque do Pico, Inventário do património imóvel dos Açores», de José Manuel Fernandes (1999), à memória imensa do meu tio Lafayete Ávila e à literatura da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, do Governo Regional dos Açores
Henrique Pinto
Agosto 2010
FOTOS: Vista da freguesia de
São Roque do Pico a partir da estrada transversal; vista da freguesia de São Roque do Pico a partir do Largo da Matriz, vendo-se lindissimas
Casas de Turismo de Habitação;
piscinas de água salgada da Furna de Santo António;
A Buraca, um interessante complexo de pedra basaltica, em Santo António, negócio recente de particulares (senhor Leonardo), que revive a história do povo açoriano, com relevo para o período áureo do vinho Verdelho;
artefactos de adorno feitos de pedra basáltica (A Buraca);
Poças de São Roque, outro lugar agradável para banhos oceânicos;
Rampa do Cais do Pico, um dos locais mais visitados para Banhos;
Igreja de Santa Luzia;
Mistério de Santa Luzia com a Ilha de São Jorge em fundo;
Igreja de Santa Ana;
Tanques para lavagem de roupa, em basalto (São Roque);
Ermida de São Domingos; Imagem de
Santo António (Igreja Matriz de São Roque);
Ermida de São Vicente;
Ermida da Mãe de Deus (Furna, Santo António);
Capela de Santo António da Furna (apenas parte do frontispício);
Rua do Lagido (freguesia de Santa Luzia); Vista de
São Roque do Pico a partir da lomba