quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ACREDITAR NAS CRIANÇAS















A pedofilia é hoje unanimemente condenada.
Ela tem o seu cenário de eleição dentro da própria família. São pai e mãe, madrasta e padrasto, irmãos mais velhos, tios e avós, os seus perpetradores mais comuns. Só depois vêm os estranhos às vítimas, como no processo em apreço. É um dado há muito incontornável na literatura médica. Um tabu que ninguém quer discutir e encarar.
Com ou sem erros jurídicos de percurso (a perfeição a Deus pertence), o processo Casa Pia chegou a conclusões. Houve supostos actos provados, com certeza os mais óbvios, e condenações. Pode-se ter ficado chocado por ver personalidades como Carlos Cruz, querida de muitos portugueses, entre os condenados. Mas fica-se com duas convicções muito fortes: a Justiça funcionou; às vítimas, envolvidas desde crianças neste puzzle doloroso, foi-lhes dada a confiança de lhes dar razão, de acreditar nelas. É a todos os títulos relevante, exemplar em termos sociológicos e saudável.
Não pactuo com as «conspirações» em voga. Os juízes do inicio e «fim» do processo são dignos dos maiores encómios.
Henrique Pinto
Setembro 2010
FOTOS: Juíz Rui Teixeira (iniciou o processo); Carlos Cruz

1 comentário:

  1. Caríssimo Henrique,

    Permita-me que o felicite pela forma sensibilizadora e sábia como abordou este tema que preenche a nossa actualidade.
    Não poderia tê-lo feito de forma mais assertiva e que me merecesse maior concordância.

    Inês
    A palavra pedofilia provém do grego país, paidós, criança, filho + -filia.
    A raiz da própria palavra, é de per si indicadora do raio de acção, daqueles que enfermam desta apetência sexual. Um desvio sexual que muitos gostariam que fosse retratado como uma espécie de doença.
    Tão apenas uma apetência sexual que se reflecte numa atracção mórbida de adultos pelas crianças.
    Uma apetência consciente, uma apetência que se sabe errada, que se pratica de forma dolosa, ou seja, absolutamente intencional.
    É no seio da família mais próxima da criança, que encontramos estes cobardes criminosos.
    Naturalmente, a própria essência de tão hedionda perversão, provoca, até nos terapeutas, sentimentos de aversão e de compreensível repulsa.
    A concretização dos desejos sexuais de um pedófilo, causa danos irreversíveis do ponto de vista psicológico e até físico, numa criança.
    Demoliram-se, com esta sentença, as exaustivamente alegadas “Teorias da Conspiração”. As vítimas passaram a ser olhadas como vítimas e os agressores como criminosos que são.
    Todos nós, tivemos acesso a parciais declarações das vítimas deste processo. A morosidade da Justiça que, finalmente, começa a cumprir-se, enevoou determinados pormenores, causou incongruências, bloqueios nos relatos das vítimas.
    Quem se lembra com exactidão e ao ínfimo pormenor do que aconteceu há tantos anos atrás?
    Estamos a falar de circunstâncias perfeitamente traumáticas, estigmatizantes. Circunstâncias tão dilacerantes que a vítima normalmente silencia e tudo faz para encobrir e esquecer.
    Estamos a falar de relatos de uma vivência traumática que as vítimas, mesmo subconscientemente, só querem arquivar nos anais das suas memórias.
    Como é possível duvidar destas vítimas, que tiveram a exemplar coragem de expor e reviver um passado tão doloroso.
    Não, estas vítimas não mentiam. Estas vítimas dizem a Verdade.
    As vítimas deste tipo de crimes, podem silenciar-se, mas não mentem.
    Estas vítimas, que se debateram pela reposição da verdade, saíram deste processo, vitoriosas. Este Colectivo teve o mérito de lhes devolver a Dignidade, há muito perdida.
    Fez-se JUSTIÇA!

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