terça-feira, 27 de novembro de 2012

LUÍS AMADO E O GOVERNO NO X JANTAR CONFERÊNCIA DO REGIÃO DE LEIRIA

Nem parecia o mesmo Luís Amado, meu amigo, que há um ano e tal, ainda ministro, participou comigo no programa Café das Quintas em Leiria! Na altura ele era o pessimista sobre o devir próximo e eu o mais confiante. Neste seu discurso no X Jantar Conferência do Semanário Região de Leiria a tónica esteve na confiança prudente no após Setembro 2013, altura das eleições na Alemanha. Aposta numa Merkel a defender o federalismo mais que político, num quadro de maior tranquilidade com o tratado da fiscalidade europeia ora assinado. E incentivou à continuidade do actual governo em termos de legislatura (para o que diz já ter avisado os líderes dos dois maiores partidos políticos quanto aos riscos da eventual dissolução do executivo), como oportunidade de confiança dos credores internacionais e para o aproveitamento num sentido favorável dos sacrifícios feitos por boa parte dos portugueses. Domingos Azevedo, o outro orador, foi mais factual e crítico acérrimo da governação e acentuou desfasamentos como o IVA para as grandes superfícies, a ganharem muito dinheiro à sua custa (por contraste com o esforço feito pelos pequenos empresários seus credores, que pagam o imposto ainda antes de ressarcidos, fenómeno corrigível se usado o modelo caixa).
Eu adoro estes convívios, estava deliciado e bem disposto, rodeado de pessoas que estimo, a deitar farpas aqui e ali, e por isso ainda cutuquei os meus amigos deputados, «perdi-me, mas afinal onde estavam hoje direita e esquerda?».
Muita gente insuspeita diz que não fora a «precipitação» da então oposição em fazer cair o governo e a situação seria hoje outra mais favorável. À altura já estaria negociado e sancionado pela chanceler alemã um empréstimo em condições menos duras. Bem, em história não há «ses», ficará por saber-se, sobretudo no que respeita à justeza da
aplicabilidade desses fundos eventualmente acordados. Caímos no fosso e há que tentar sair-se dele. A forma de o fazer é que, tal como a queda, nos parece mais dolorosa e danosa que o necessário. Estou em crer que o responsável pelas finanças terá alguma noção do que está a fazer, sacrifícios aos bochechos por conhecer a dose certa do medicamento, inaplicável numa só toma. Atribui-se ao cientista Lavoisier, guilhotinado na Praça da Concórdia ao tempo do Terror de Robespierre, que «a diferença entre medicamento e veneno é apenas uma questão de dose». Aquele parece demonstrar ainda assim um desconhecimento grave da dinâmica social portuguesa. E ninguém o mandatou para colocar as «soluções» numa rota eminentemente neoliberal. A negociação das privatizações por ele ou pelas entidades externas entendidas necessárias (a RTP e a TAP privatizadas são um absurdo fora desta rota ideológica), foram entregues a António Borges. Antigo responsável do FMI para a Europa, foi despedido ao fim dum ano, supostamente por não ser politicamente correcto, no contexto actual, o facto de este economista ter sido quadro com peso do Goldman Sachs, dito «O banco», esse aparelho financeiro de influência tentacular. E foi responsável desta instituição exactamente quando ela é
acusada de ter manipulado as contas da Grécia para permitir a entrada deste país no Euro. Uma operação que terá endividado inexoravelmente a Grécia a favor da entidade manipuladora. Responsável, dizia, ainda no período em que o Goldman terá negociado as privatizações mais significativas na Europa. Para qualquer cidadão avisado só isto bastaria para estar menos confiante. Mas nenhum dos oradores passou por aqui. De parabéns estão, sobretudo, o Região de Leiria e empresas de excelência e personalidades que distinguiu na ocasião.
Henrique Pinto
23 de Novembro de 2012
 

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