sábado, 29 de dezembro de 2012

MUDA O ANO, HÁ ESPERANÇA NOVA!

Há quem tenha o sentido do equilíbrio. Há quem saiba ser solidário. E estes não são com certeza os do cortar a direito. Há quem tenha o sentido do
tempo útil para cumprir um plano. Não lhes cabe na cabeça enterrar o país num «timing» ajustado a eleições. Há quem saiba que a cultura é muito mais que todos os eventos em conjunto. É algo que transforma e é alma.
Não lhes entrará pelo espírito o arruinar dos seus promotores, como os de outros sectores da vida em comum. Saberão que ajustamentos são ajustamentos. Entenderão a ignorância dos que peroram nas bichas, enchem autocarros e compram a crédito na mercearia. Saberão que a
cultura é o processo transformador das sociedades. Poupar não é decepar, é postura de bom senso. Cultura como transformação é também solidariedade. Alguns dos assim pensantes ajudaram a Associação Alzheimer de Portugal com um Concerto Solidário neste Natal. Foi o caso do Coro do Orfeão de Leiria após um reajustamento estrutural, uma
adequação aos tempos inspirada na boa vontade e na inteligência. Foi uma operação de sucesso, com futuro. É nesse espírito de construção que desejamos a todos os intervenientes pela cultura e pela solidariedade o voto de um Ano Novo venturoso. Fazemo-lo com as fotografias do Victor Cordeiro, amigo, rotário, solidário, homem de esperança! Bem hajam
Henrique Pinto
30 de Dezembro de 2012
 

PROFESSORES, O MELHOR DO MUNDO!


Às vezes ouço dicas sobre os professores e fico um tanto embaraçado, como se me interrogasse, «serei diferente de tanta gente?». Sempre gostei dos meus professores. E tive muitos, porquanto, em Portugal e no estrangeiro, fruí o privilégio de ir sempre estudando. Lembro-me de um tonto, espanhol, que, «a posteriori», me prejudicou sem motivo, no decurso do processo de doutoramento. Mas mesmo esse, enquanto professor, até o ajudei, defendendo-o de quem não tinha obrigação de o aturar.
Mas olhando para todos eles há uma discriminação positiva para os meus mestres na escola primária, o professor Amável e a professora Elizabete. Durante o meu crescimento e por longo tempo adulto vieram-me ao espírito, nos momentos certos, observações e ensinamentos que lhes ouvi nas aulas e me marcaram para sempre. Ao primeiro, já entrado nos noventa, vejo-o amiúde, à saída da missa, quando vou a Sesimbra. À minha tão querida professora muito desejei e tentei vê-la ao longo dos anos.
 Todavia, num mecanismo compensatório, a carta que dela vim a receber comoveu-me francamente. Senti fundo que por bons motivos a recordava como um anjo na minha vida, deusa de guarda e inspiração. Ao tratar-me hoje assim por Henriquinho vejo-me, feliz, como se o tempo tivesse parado por instantes. Dou-me conta do quanto o mundo se transfigurou. Daquilo por que passámos e do pouco ou muito a poder mostrar-se, depende de quem observa, a assinalar o percurso da existência. Vejo como tantos outros anjos entraram pela minha vida e com amor sem me fazerem esquecer aquele que me amparou na escola em 1959, e alumiou o meu caminho, até hoje. Bem haja professora Elizabete! Por sua causa, vejo os professores como o melhor do mundo. Fernando Pessoa, por certo, não se importaria que glosasse a sua frase. Muito obrigado. Eis abaixo essa carta redentora.
Henrique Pinto
Dezembro 2012 
 Meu caro amigo Henriquinho
Não sei se consegui que esta foto fosse a surpresa que pensei…mas levei tanto tempo a fazer o seu envio e esta mensagem que na minha casa o nome «Henriquinho» ficou quase gasto, por eu ir sempre adiando, mas os «aposentados» às vezes têm destas coisas…é logo, é amanhã, e assim foi passando o tempo após ter pensado fazê-lo.
Claro, que o Henriquinho vai rever-se em 1959 com os colegas e a professora Elisabete, que muito trabalhou e sofreu um bocadinho no seu primeiro ano de professora.
Bom, mas felizmente orgulho-me do que sempre fiz e amei. Sinto-me recompensada sempre que encontro os meus alunos, com muito carinho que me recordam.
Pela prima e afilhada do Henriquinho, como sempre é chamado, fui algumas vezes contactada, para uma oportunidade de nos vermos quando vinhas a Sesimbra, mas com muita pena isso não aconteceu, pois por alguns motivos, entre eles ausências…, pois viajo muito com o meu marido e pouco paramos no dia a dia…
Agora, falando com o Dr. Henrique, uma vez que já lá vão 52 anos…, envio uma foto da professora, actualizada, com 74 anos, e por sinal num cruzeiro que fizemos em Junho às capitais bálticas, e tenho o gosto de apresentar o meu marido.
É com prazer que receberemos o Henriquinho e família quando vierem para os nossos lados.
Outra coisa importantíssima: a minha filha mostrou-me o Dr. Henrique no facebook e gostei muito de vê-lo.
E pronto, meu querido aluno, despeço-me com muitos beijinhos e votos de muitas felicidades para o Henriquinho e família, e um abraço do meu marido, que só de nome já te conhece.
Sempre amiga,
Elizabete   
 

 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A HISTÓRIA DUMA PAIXÃO

O meu próximo livro, o décimo, sairá talvez a meio de Fevereiro. Está feito há algum tempo a sofrer o efeito gaveta. Uma fase onde em tudo vemos necessidade de corrigir. Isto passa, pá! E o título, mantém-se? É uma dúvida a persistir por mais uns dias. Temos tempo…
Este livro é um Estudo de Caso em torno da cultura, em torno dos tempos. Mas é uma história que envolve milhares de personagens, uns com nome sólido, outros que jamais o terão. É acima de tudo um testemunho, uma pesquisa sociológica, uma explicação para três décadas de paixão lúcida, com Leiria por cenário. Bem podia ter sido um livro deste Natal… 
Ora neste Natal pelo meu Cascais menino cogitei deveras no que fazer acerca deste escrito a dar à estampa. E decidi-me! Quem sabe se por sortilégio da época!? O meu bom amigo Carlos Vitorino deu também o seu empurrãozinho!
Já o amigo Nazário parece preocupado, no jornal que dirige, com o facto de o Natal ser hoje «pagão e ícone do consumo». Tudo me faz discordar da sua inquietação. A melhor herança da simbologia natalícia cristã e a sua força imensa residem exactamente no facto de o mundo se ter apropriado do que ela tem de melhor, o espírito solidário e familiar. Quanto ao consumismo, bem, estava eu a debutar no liceu e o planeta tinha menos de metade dos habitantes de hoje, com uma qualidade de vida a milhas de distância do ora considerado ícone.
Ouvia noutro dia discurso num jantar de Natal, um companheiro de Rotary cuja admissão sugeri e apadrinhei estava de orador de serviço, e não me reconheci em nenhuma das ideias por ele adiantadas, tanto no respeitante a Rotary como quanto ao espírito do presente. E é um homem dito «da cultura»! Aliás, sou Rotário exactamente por razões opostas às por ele aduzidas, tenho a solidariedade e o serviço como consigna, há lugares aos centos para outro tipo de vivências, orgulho-me de saber este sentir de singularidade, tal como o do Natal, partilhado pelo actual presidente, Sakuji Tanaka, meu amigo há mais duma década. E no entanto admito abertamente nada ter a opor a esta coexistência de contrários.
Também o meu colega José Gameiro, entrevistado pelo Expresso a propósito da quadra, diz das famílias, «fazem tréguas como se fosse numa guerra». Ó meu caro, se assim fosse já não era mau! Os tempos mudaram, meu! Sem dúvida, têm hoje maior assento modelos familiares impensáveis há umas décadas em termos de popularidade, mesmo em países de longa tradição democrática. O divórcio e a união de facto, liberalizados, criaram uma rede mais extensa de membros das famílias. Contudo, só existirá um inferno onde porventura já o seria noutros contextos. Conheço tanta gente a não fazer disto um problema, sobrepondo-se a tal o espírito de aproximação ao outro. Não hipertrofiemos os extremos, colega, todos os dias vemos cães a correrem na autoestrada e seniores sem uma visita no hospital por esta altura, uns e outros abandonados! E o tirano sírio, médico, tirou oftalmologia por não poder ver sangue!
Henrique Pinto
Dezembro 2012
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS PROTAGONISTAS DA VIDA (1)

O NERLEI (Núcleo Empresarial da Região de Leiria) encomendou à empresa JLM um plano estratégico tendente a trabalhar-se Leiria como Região de Excelência. Não é uma ideia nova. Mas é uma excelente ideia e que subscrevo.
Para avivar a discussão no Eixo Pessoas, seguramente com a elevadíssima coordenação de Carlos Antunes, preparei a reflexão que se segue.
Diferentes de lugar para lugar os indivíduos crescem para a acção pela forma como se articulam uns com os outros e consoante a sua memória histórica, tão importante como a do conhecimento em vida ou da derme. O processo de comunicação está a mudar e normalizar este paradigma.
A análise SWOT para Leiria/Região tendo por base as pessoas não pode ser alheia ao modo como elas interagem, produzem, são capazes ou têm por objectivo ou desígnio fazer. Apraz-me por isso, neste começo, citar dois exemplos sociais e organizativos que vivi e onde as pessoas sempre estiveram em primeiro lugar.
Em 1975 o Distrito de Leiria teve um surto gravíssimo de cólera, imagem de marca dos países de miséria. Em 1976 o Distrito tinha taxas de mortalidade infantil estimadas como acima mas próximas da média nacional, que era muito alta. Mas os cálculos da mesma taxa para a Nazaré, por exemplo, quadruplicavam então os valores para o país (próprios de países de baixíssimo desenvolvimento). Trinta e cinco anos depois, seguindo a tendência decrescente dos últimos vinte anos, os valores para o Distrito são inferiores à média do país que, por sinal, tem a taxa mais baixa do mundo.
Num outro registo, digo-vos, há trinta anos fui convidado para presidir ao Orfeão de Leiria, colectividade já muito prestigiada mas então numa fase decadente, com um coral e um grupo de teatro moribundos e algumas aulas de ballet e de solfejo. Hoje, Conservatório de Artes com extensões ao ensino profissional e ao de seniores, tem sido a maior escola artística do país – trinta e tal antigos alunos a prosseguirem os seus estudos em universidades estrangeiras das mais creditadas -, e desenvolve um espectro largo de intervenção cultural na cidade e região particularmente significativo. A ponto de ser a única instituição privada de ensino portuguesa a ser membro da exclusivíssima Associação congénere Europeia.
Mesmo tendo em consideração que os tempos mudaram e que o país mudou também, num salto gigantesco, não se pode deixar de evidenciar que tais crescimentos na qualidade de vida se enquadram numa estrutura demográfica jovem e num fluxo de crescimento económico apreciável. Por detrás destes exemplos de sucesso estão pessoas, estratégias e organização. O atraso de hoje no país em relação a outros paísesda família Europeia, se mostra o imenso caminho que era suposto ainda percorrer até os igualar, acaba por ser injusto em relação ao caminho percorrido e aos seus fautores.
Sendo verdade que a Região de Leiria foi longamente afectada e influenciada pelo obreirismo, na terra e no produto intelectual, pelos monges da Ordem Cisterciense e depois pelos Dominicanos, e pela contemplação e conservadorismo dos frades de Santa Cruz de Coimbra, a mescla conseguida faz menos jus ao presente do que uma suposta média aritmética destes atributos.
Vimos recentemente distinguida a criatividade e inovação dum modelo de hotelaria para Porto de Mós e o prestígioalém-fronteiras de alunos de hotelaria de Ourém, numa região ampla com restauração de referência. Impressionou-nos o sucesso das Associações para a pêra rocha e a maçã de Alcobaça no que concerne à exportação. A capacidade instalada e o processo qualitativo do Centro Hospitalar Leiria /Pombal, o maior da região, têm sido reconhecidos como os atributos mais apreciáveis na Saúde em Portugal, apesar de a instituição ser a penúltima na afectação em recursos médicos no país.
O que é lamentável e injusto. Na senda do excelente empresariado na Região, com enfoque para alguns dos pioneiros como Aníbal Abrantes ou Filinto, da MAP, a Marinha Grande tem de novo um notável ascendente mundial na produção de moldes e a empresários como Arnaldo de Matos é reconhecida uma prática multifacetada de empreendedor com êxito.
Alunos de matemática da Escola Secundária Domingos Sequeira venceram as olimpíadas desta disciplina que é a campeã do insucesso nas escolas do país, um reconhecimento a alunos e mestres mas, seguramente também, à melhoria do apetrechamento intelectual dos alunos ao nível das famílias, mais conhecedoras. Para o bem e para o mal é injusto falar.se apenas dos professores e esquecer o contributo, inestimável, da literacia familiar.
Henrique Pinto
Novembro 2012
 

OS PROTAGONISTAS DA VIDA (2)

Vemos assim que na Região de Leiria existem polos de excelência a níveis diversos através de múltiplos exemplos de qualidade, nomeadamente nos campos agrícola, industrial, educação geral e artística, saúde e serviços, pelo menos, associados a taxas de crescimento da riqueza muito favoráveis.
Inovação, orientação estratégica, empreendedorismo individual, de grupo e associativo, criatividade, resiliência, qualidade, educação específica e literacia, são atributos e forças já demonstradas pelos promotores do desenvolvimento ou crescimento regional, pelas pessoas que o corporizam, e que devem ser apreciados como forças no eixo Pessoas. E se o foram no passado recente, deverão sê-lo num futuro a construir.
De facto o reconhecido empreendedorismo regional a título individual, e a qualidade dispersa por sectores vários, estãocada vez mais a dar lugar a uma acção produtora e inovadora de grupo, de associações, de qualidade acrescida, uma força significativa para chegarmos mais longe. Força que inspira quantos encaram as situações menos boas, da chamada «crise», recessivas mesmo, como uma oportunidade para experimentar e aplicar métodos e caminhos diferentes e promissores, mesmo quando com risco superior.
É notável este novo empresariado que ao sebastianismo choramingas e ao fazer de aparência opõe com pragmatismoe resiliência «o impossível faz-se já ou demora só mais um bocadinho». Através dos seniores, num eficiente processo de envelhecimento activo (Conservatório Sénior, como nalgumas empresas também), é patenteável, de modo muito meritório, a capacidade para processos de mentoria. Por oposição ao modelo Porter (enquanto uns ganham os outros têm de perder), prevalece nalgumas áreas, sobretudo nas do saber qualificado, a ideia de concorrência saudável, de negação da lógica de oposição escassez/abundância ou da de ameaça dos produtos substitutos, no haver inovação com valor, sistemática, contrária às ideias do lowcost, insustentáveis. Este é um empresariado estruturalmente jovem na sua maioria.
A generalização da formação específica e da mentoria sénior tornou-se uma outra força. Quase desapareceu o empresário bem sucedido mas que ainda abria o correio, substituído pelos que tornam a qualidade competitiva inalienável, sustentada no saber, nos seus investimentos de arrojo.
Um modelo de Plano para a excelência regional foi produzido, ao tempo do notável empresário Rui FilintoStoffel como presidente do NERLEI, e seu promotor, , entre outras. A proposta «engasgou-se» exactamente quando lhe foi necessário o apoio das entidades públicas locais, de manifesta resistência conservadora ou ignorante.
O mesmo sucedeu quando se apresentou um modelo para o Turismo, assente em meia dúzia de pérolas como a cultura e o ambiente,que boa parte da região merecia ter e não tem. Pouco importa agora a queixa sobre a organização regional ter sido transferida para Aveiro! Em Leiria só funcionou ao tempo do espírito aberto de Joaquim Vieira. As pessoas contam. Basta um modelo de cooperação de pessoas clarividentes e empreendedoras, não egocêntricas, ligadas a múltiplos sectores, em sinergia, ungidas por uma estratégia coerente, fácil de montar, e o turismo, consigna essencial para a excelência, será uma realidade. Este género de ameaças, do conservadorismo ao  empobrecimentocorrente do país, num processo de resgate financeiro, a cuja cura alguma governança tenta aplicar lunáticas filosofias neoliberais, atéao endividamento das autarquias, pode ter como oposição a resiliência já manifesta por sectores do empresariado regional em geral, dos actores locais, incluindo os do saber. Num contexto como este é normal o apeloa quem, infelizmente, escolhe os candidatos a sufrágio, para que minorem o eminentemente político em favor do conhecedor experiente. É normal fazer-se igual apelo aos gestores públicos e aos autarcas para uma aposta forte na cultura. O semanário Expresso já escandalizou muita gente quando apontou Leiria como tendo o melhor ratio percapita na oferta cultural. A região tem a
monumentalidade mais diversa e imponente do país. E tem ainda o segundo melhor per capita músicos por habitante no espectro nacional. E num período de dificuldades como este que melhor desiderato para as autarquias, em sinergia com o sector privado e associativo, do que a aposta na cultura. Obviamente não no sentido etnográfico ouvido a responsáveis da JLM, mas como arsenal ideológico que induz a mudança pelo conhecimento. A estratégia do Orfeão de Leiria, tem resultados e impacto provados. A estratégia apontada nos estudos encomendados ao Observatório das Actividades Culturais pelas Câmaras de Cascais e do Porto, para o vector Cultura, é semelhante à do Orfeão de Leiria, e igualmente eficaz. Aos actores da cultura como aos dos negócios é indispensável uma orientação estratégica pertinente e fundamentada, assente em pessoas conhecedoras, sensíveis e resilientes.
Henrique Pinto
Novembro de 2012