Às vezes ouço dicas sobre os professores e fico um tanto embaraçado,
como se me interrogasse, «serei diferente de tanta gente?». Sempre gostei dos
meus professores. E tive muitos, porquanto, em Portugal e no estrangeiro, fruí
o privilégio de ir sempre estudando. Lembro-me de um tonto, espanhol, que, «a
posteriori», me prejudicou sem motivo, no decurso do processo de doutoramento.
Mas mesmo esse, enquanto professor, até o ajudei, defendendo-o de quem não
tinha obrigação de o aturar.
Mas olhando para todos eles há uma discriminação positiva para os
meus mestres na escola primária, o professor Amável e a professora Elizabete. Durante
o meu crescimento e por longo tempo adulto vieram-me ao espírito, nos momentos
certos, observações e ensinamentos que lhes ouvi nas aulas e me marcaram para
sempre. Ao primeiro, já entrado nos noventa, vejo-o amiúde, à saída da missa,
quando vou a Sesimbra. À minha tão querida professora muito desejei e tentei vê-la
ao longo dos anos.
Todavia, num mecanismo compensatório, a carta que dela vim a
receber comoveu-me francamente. Senti fundo que por bons motivos a recordava
como um anjo na minha vida, deusa de guarda e inspiração. Ao tratar-me hoje assim
por Henriquinho vejo-me, feliz, como se o tempo tivesse parado por instantes. Dou-me
conta do quanto o mundo se transfigurou. Daquilo por que passámos e do pouco ou
muito a poder mostrar-se, depende de quem observa, a assinalar o percurso da
existência. Vejo como tantos outros anjos entraram pela minha vida e com amor
sem me fazerem esquecer aquele que me amparou na escola em 1959, e alumiou o
meu caminho, até hoje. Bem haja professora Elizabete! Por sua causa, vejo os professores como o melhor do mundo. Fernando Pessoa, por certo, não se importaria que glosasse a sua frase. Muito obrigado. Eis abaixo essa carta
redentora.
Henrique Pinto
Dezembro 2012
Não sei se consegui que esta foto fosse a surpresa que pensei…mas
levei tanto tempo a fazer o seu envio e esta mensagem que na minha casa o nome
«Henriquinho» ficou quase gasto, por eu ir sempre adiando, mas os «aposentados»
às vezes têm destas coisas…é logo, é amanhã, e assim foi passando o tempo após
ter pensado fazê-lo.
Claro, que o Henriquinho vai rever-se em 1959 com os colegas e a
professora Elisabete, que muito trabalhou e sofreu um bocadinho no seu primeiro
ano de professora.
Bom, mas felizmente orgulho-me do que sempre fiz e amei. Sinto-me
recompensada sempre que encontro os meus alunos, com muito carinho que me
recordam.
Pela prima e afilhada do Henriquinho, como sempre é chamado, fui
algumas vezes contactada, para uma oportunidade de nos vermos quando vinhas a
Sesimbra, mas com muita pena isso não aconteceu, pois por alguns motivos, entre
eles ausências…, pois viajo muito com o meu marido e pouco paramos no dia a
dia…
Agora, falando com o Dr. Henrique, uma vez que já lá vão 52 anos…,
envio uma foto da professora, actualizada, com 74 anos, e por sinal num
cruzeiro que fizemos em Junho às capitais bálticas, e tenho o gosto de
apresentar o meu marido.
É com prazer que receberemos o Henriquinho e família quando vierem
para os nossos lados.
Outra coisa importantíssima: a minha filha mostrou-me o Dr.
Henrique no facebook e gostei muito de vê-lo.
E pronto, meu querido aluno, despeço-me com muitos beijinhos e
votos de muitas felicidades para o Henriquinho e família, e um abraço do meu
marido, que só de nome já te conhece.
Sempre amiga,
Elizabete
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