Para avivar a discussão no
Eixo Pessoas, seguramente com a elevadíssima coordenação de Carlos Antunes,
preparei a reflexão que se segue.
Diferentes de lugar para
lugar os indivíduos crescem para a acção pela forma como se articulam uns com
os outros e consoante a sua memória histórica, tão importante como a do
conhecimento em vida ou da derme. O processo de comunicação está a mudar e
normalizar este paradigma.
A análise SWOT para
Leiria/Região tendo por base as pessoas não pode ser alheia ao modo como elas interagem,
produzem, são capazes ou têm por objectivo ou desígnio fazer. Apraz-me por isso,
neste começo, citar dois exemplos sociais e organizativos que vivi e onde as
pessoas sempre estiveram em primeiro lugar.
Em 1975 o Distrito de
Leiria teve um surto gravíssimo de cólera, imagem de marca dos países de
miséria. Em 1976 o Distrito tinha taxas de mortalidade infantil estimadas como acima
mas próximas da média nacional, que era muito alta. Mas os cálculos da mesma
taxa para a Nazaré, por exemplo, quadruplicavam então os valores para o país
(próprios de países de baixíssimo desenvolvimento). Trinta e cinco anos depois,
seguindo a tendência decrescente dos últimos vinte anos, os valores para o
Distrito são inferiores à média do país que, por sinal, tem a taxa mais baixa
do mundo.
Num outro registo,
digo-vos, há trinta anos fui convidado para presidir ao Orfeão de Leiria,
colectividade já muito prestigiada mas então numa fase decadente, com um coral
e um grupo de teatro moribundos e algumas aulas de ballet e de solfejo. Hoje,
Conservatório de Artes com extensões ao ensino profissional e ao de seniores,
tem sido a maior escola artística do país – trinta e tal antigos alunos a
prosseguirem os seus estudos em universidades estrangeiras das mais creditadas -,
e desenvolve um espectro largo de intervenção cultural na cidade e região
particularmente significativo. A ponto de ser a única instituição privada de
ensino portuguesa a ser membro da exclusivíssima Associação congénere Europeia.
Mesmo tendo em
consideração que os tempos mudaram e que o país mudou também, num salto
gigantesco, não se pode deixar de evidenciar que tais crescimentos na qualidade
de vida se enquadram numa estrutura demográfica jovem e num fluxo de
crescimento económico apreciável. Por detrás destes exemplos de sucesso estão
pessoas, estratégias e organização. O atraso de hoje no país em relação a
outros paísesda família Europeia, se mostra o imenso caminho que era suposto
ainda percorrer até os igualar, acaba por ser injusto em relação ao caminho
percorrido e aos seus fautores.
Sendo verdade que a Região
de Leiria foi longamente afectada e influenciada pelo obreirismo, na terra e no
produto intelectual, pelos monges da Ordem Cisterciense e depois pelos
Dominicanos, e pela contemplação e conservadorismo dos frades de Santa Cruz de
Coimbra, a mescla conseguida faz menos jus ao presente do que uma suposta média
aritmética destes atributos.
Vimos recentemente distinguida a criatividade e inovação dum modelo de hotelaria para Porto de Mós e o prestígioalém-fronteiras de alunos de hotelaria de Ourém, numa região ampla com restauração de referência. Impressionou-nos o sucesso das Associações para a pêra rocha e a maçã de Alcobaça no que concerne à exportação. A capacidade instalada e o processo qualitativo do Centro Hospitalar Leiria /Pombal, o maior da região, têm sido reconhecidos como os atributos mais apreciáveis na Saúde em Portugal, apesar de a instituição ser a penúltima na afectação em recursos médicos no país.
O que é lamentável e injusto. Na senda do excelente empresariado na Região, com enfoque para alguns dos pioneiros como Aníbal Abrantes ou Filinto, da MAP, a Marinha Grande tem de novo um notável ascendente mundial na produção de moldes e a empresários como Arnaldo de Matos é reconhecida uma prática multifacetada de empreendedor com êxito.
Alunos de matemática da
Escola Secundária Domingos Sequeira venceram as olimpíadas desta disciplina que
é a campeã do insucesso nas escolas do país, um reconhecimento a alunos e
mestres mas, seguramente também, à melhoria do apetrechamento intelectual dos
alunos ao nível das famílias, mais conhecedoras. Para o bem e para o mal é
injusto falar.se apenas dos professores e esquecer o contributo, inestimável,
da literacia familiar.
Henrique Pinto
Novembro 2012
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