Esta era uma altura onde eu ainda não descurava o porvir dum certo
abrandamento das tenções no mundo. A terceira via poderia conter um certo
lastro de oportunidades conciliatórias entre a paz e a economia. A influência
das grandes organizações de serviços parecia ganhar asas para suster algum do
apetite dos falcões e superar a inépcia dos inúteis.
O próprio Jonhatan Majiagbé escolhera para seu lema
«Lend a Hand». Eu escrevera há pouco O Século do Bem Estar, uns tempos antes do
11 de Setembro. Parte da década foi efetivamente marcada pelo empolamento
agressivo da então única grande potência mundial. Nos anos seguintes
arrastou-se no crash da
desregulamentação económica, no aparente triunfo neoliberal com o endividamento
das dívidas soberanas, o empobrecimento das classes médias e a pauperização das
menos bafejadas pela sorte.
Foi nesse ínterim que escrevi Até o Diabo Tem as
Malas Feitas, uma asserção premonitória na aparência a encobrir a esperança.
Hoje, quando se esboroa a mais sólida união da história, a EU, e o lobo das
estepes se sente de jure o novo líder único do mundo, voltam os nacionalismos
exacerbados e as tendências imperiais, mesmo entre países fundadores da União.
Anthony Giddens, o homem da globalização e verdadeiro autor da terceira via,
manifestou no início desta atual fase do capitalismo global a esperança num
novo ciclo de rejuvenescimento da democracia social.
Sem razões palpáveis para
o acreditarmos hoje, plenamente, temos forçosamente de pensar que nem todos os jovens
de hoje queiram enriquecer até aos trinta, nem todos os homens inteligentes e democratas
da política serão comprados pelo grupo Goldman Sachs e nem todas as aflições
nos levarão a conduzir motoboys da pizza a presidentes.
Março 2014
Henrique Pinto
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