segunda-feira, 17 de março de 2014

DAR A MÃO

Esta era uma altura onde eu ainda não descurava o porvir dum certo abrandamento das tenções no mundo. A terceira via poderia conter um certo lastro de oportunidades conciliatórias entre a paz e a economia. A influência das grandes organizações de serviços parecia ganhar asas para suster algum do apetite dos falcões e superar a inépcia dos inúteis.
próprio Jonhatan Majiagbé escolhera para seu lema «Lend a Hand». Eu escrevera há pouco O Século do Bem Estar, uns tempos antes do 11 de Setembro. Parte da década foi efetivamente marcada pelo empolamento agressivo da então única grande potência mundial. Nos anos seguintes arrastou-se no crash da desregulamentação económica, no aparente triunfo neoliberal com o endividamento das dívidas soberanas, o empobrecimento das classes médias e a pauperização das menos bafejadas pela sorte. 
Foi nesse ínterim que escrevi Até o Diabo Tem as Malas Feitas, uma asserção premonitória na aparência a encobrir a esperança. Hoje, quando se esboroa a mais sólida união da história, a EU, e o lobo das estepes se sente de jure o novo líder único do mundo, voltam os nacionalismos exacerbados e as tendências imperiais, mesmo entre países fundadores da União. 

Anthony Giddens, o homem da globalização e verdadeiro autor da terceira via, manifestou no início desta atual fase do capitalismo global a esperança num novo ciclo de rejuvenescimento da democracia social. 
Sem razões palpáveis para o acreditarmos hoje, plenamente, temos forçosamente de pensar que nem todos os jovens de hoje queiram enriquecer até aos trinta, nem todos os homens inteligentes e democratas da política serão comprados pelo grupo Goldman Sachs e nem todas as aflições nos levarão a conduzir motoboys da pizza a presidentes.
Março 2014
Henrique Pinto

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