Todo o organismo vivo se deteriora até se finar. É natural que
nenhum país tivesse logrado o pleno na sustentação do seu património edificado.
Mesmo assim a pobreza crónica de Portugal – nunca aproveitou por inteiro os períodos
em que teve maior ventura – contrasta com o seu riquíssimo espólio artístico,
conservado ou não.
O Mosteiro Cisterciense de Nossa Senhora de Seiça, na freguesia de
Paião, é a ruína histórica mais abandonada de todos os grandes edifícios
históricos deste país. Imagine-se que até já terá sido fábrica, armazém e
pecuária.
Também quando a vida obriga a dobrar o corpo os portugueses sempre
encontraram uma saída, fosse pela emigração ou pela economia paralela. E assim
os homens lançam-se a apanhar a lampreia em pleno Mondego quando ela sobe o rio
a caminho da desova. De fato que terão de fazer?
Num momento de difícil
solvência os funcionários do Estado e os reformados são o alvo escolhido para
cobrar rendimentos enquanto a máquina pública emprenha de novos assessores de
cueiros com bolsos de fortuna. Oferecem-se automóveis a quem validar as faturas
com o seu número fiscal num ridículo indizível. E as pessoas pagaram para
colocar o país no rumo liberal, depois foram esmifradas para suportar a
incompetência dos fautores deste disparate livresco e livrar a banca do risco
sistémico de não fazerem tanto dinheiro. E agora já nem sabem para o que pagam.
É assim a várzea do Mondego, o povo à espera que a água se evapore nas salinas,
tendo fé que o arroz sobressaia da água, esperando que o mal e seus mandantes
nem sempre dure.
A política deveria renovar-se como os campos. O país não pode
ser a ruína abandonada.
Março 2014
Henrique Pinto
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