segunda-feira, 10 de março de 2014

TUDO SE FINA


Todo o organismo vivo se deteriora até se finar. É natural que nenhum país tivesse logrado o pleno na sustentação do seu património edificado. Mesmo assim a pobreza crónica de Portugal – nunca aproveitou por inteiro os períodos em que teve maior ventura – contrasta com o seu riquíssimo espólio artístico, conservado ou não.
O Mosteiro Cisterciense de Nossa Senhora de Seiça, na freguesia de Paião, é a ruína histórica mais abandonada de todos os grandes edifícios históricos deste país. Imagine-se que até já terá sido fábrica, armazém e pecuária.
Também quando a vida obriga a dobrar o corpo os portugueses sempre encontraram uma saída, fosse pela emigração ou pela economia paralela. E assim os homens lançam-se a apanhar a lampreia em pleno Mondego quando ela sobe o rio a caminho da desova. De fato que terão de fazer? 
Num momento de difícil solvência os funcionários do Estado e os reformados são o alvo escolhido para cobrar rendimentos enquanto a máquina pública emprenha de novos assessores de cueiros com bolsos de fortuna. Oferecem-se automóveis a quem validar as faturas com o seu número fiscal num ridículo indizível. E as pessoas pagaram para colocar o país no rumo liberal, depois foram esmifradas para suportar a incompetência dos fautores deste disparate livresco e livrar a banca do risco sistémico de não fazerem tanto dinheiro. E agora já nem sabem para o que pagam. 
É assim a várzea do Mondego, o povo à espera que a água se evapore nas salinas, tendo fé que o arroz sobressaia da água, esperando que o mal e seus mandantes nem sempre dure. 
A política deveria renovar-se como os campos. O país não pode ser a ruína abandonada.
Março 2014
Henrique Pinto

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