Churchill e Roosevelt
apelidaram o último conflito mundial do século XX como Guerra Evitável.
Bastaria que o mundo estivesse atento, cometesse menos erros de análise e
performance. Depois do Tratado de Versalhes a Alemanha ficou particularmente
manietada e com o território reduzido. Os grandes credores também não lhe davam
oportunidade de respirar. Da penugem do lúmpen foi ganhando fôlego o
descontentamento. Do cárcere saiu aquele judeu austríaco com uma cabeça minada
de complexos, espumando inveja perante a gente do seu credo original, cidadãos
com dinheiro e boa posição. Era um homem sem traços físicos de simpatia
polvilhando tudo à sua volta de ódio e revolta: o pintor frustrado, a religião
sem orgulho, o dinheiro dos outros…
Ninguém parece ter dado
pelo crescente poder do país, o rearmamento, as perseguições, os camisas
castanhas, mais tarde as SS, a chamada ao poder daquele homem mesquinho, ulteriormente
ratificado em eleições por ele próprio manipuladas, eliminando a concorrência.
Nem mesmo a anexação da Renânia convenceu o conservador Neville Chamberlain.
Esta cegueira face à
política envolvente e interna, da Alemanha, e quanto ao caráter do líder,
dominado pelos pensamentos mais sombrios, conduziu à catástrofe.
No mundo contemporâneo o
que seria evitável não fora a mesquinhez política e a usura dos novos ricos. As
pessoas vivem reféns deste capitalismo ultraliberal. As soberanias esfumam-se
ante o poder dos bancos e duma EU alargada de supetão ao contrário do tantas
vezes glosado pelos criadores da Comunidade do Carvão e do Aço, entre outras
razões, para criar um exército correligionário germânico.
E não se pense que o caso
de Hitler é singular, antes pelo contrário. Muitos sósias engrossam o leque dos
cidadãos comuns. Na atualidade notam-se em Schauble traços de caráter semelhantes
aos deste tirano ignaro. Até quando, escravo da sua deformidade física e do
estatuto mental por esta induzido, se confessa «invejado» pelos seus críticos. «Julga
que eu sou um imbecil?», terá perguntado a Draghi. Ninguém ousou satisfazer-lhe
a curiosidade.
Henrique Pinto
Julho 2013