O dia
consagrado à não violência hoje celebrado, por justaposição a uma efeméride de Gandhi,
corre o risco de banalização. E não é apenas pela questão da Síria e dos
refugiados de guerra, as mortes no Mediterrâneo, os eritreus nos campos da
Etiópia ou os palestinianos no Líbano, pelas declarações de Trump ou de Erdogan
e o resultado do referendo húngaro. Tampouco o é pelo oportunismo de Juncker e
de Georgieva, ou o putativo corte dos Fundos Comunitários a Portugal e Espanha.
A tudo isto já nos habituámos a reagir com alguma indiferença, infelizmente.
Estou a
pensar, isso sim, na violência das relações interpessoais, mesmo da dos
cidadãos anónimos entre si, no abandono dos velhos ou no desrespeito para com
eles, na falta de decoro para com professores, médicos, doentes e juízes,
sobretudo. Mas também nos modos de superioridade arrogante de classes
profissionais sobre os contribuintes ou os depositantes nos bancos, dos
condutores entre si e para quem anda nas ruas e de muitos destes para com os
condutores. Atravessa-se a rua sem olhar, telemóvel nas orelhas, conversando ou
namorando, ás vezes invetivando. Há também o caráter ferino no discurso
partidário que espalha a desconfiança, que ataca quem manda ou apenas discorda.
Nem a polícia nem as autarquias têm grande legitimidade, em geral, para
multarem avulsa e discriminatoriamente em cidades onde rareia o estacionamento
perto de lojas, bancos e serviços públicos, hospitais ou clínicas até. E, no
entanto, exerce-se esse poder autoritário sobre os pagantes de impostos, mesmo
se com notórias fragilidades. A lei que determina quem é deficiente é
discriminatória, contempla tão só a dificuldade motora, com toda a justiça, e
não a sensorial (população muito superior à anterior), mesmo se para situações
problemáticas.
Felizmente
não é assim em boa parte do mundo.
Hpinto, Outubro 2016
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