terça-feira, 4 de outubro de 2016

A FELICIDADE DE HAVER TANTOS IDOSOS

Tal como mais de dois milhões de portugueses já entrei no patamar dos Anos Dourados. Se atentarmos que em três décadas superámos o dobrar do total nesta população, e, num país de dez milhões de almas existirem mais de 600 000 no andar acima dos oitenta anos, devemos dar-nos por felizes. É um grande avanço societário e da Humanidade. Ao contrário, obviamente, do propalado por quem usa o economês como o gaz Sarin do holocausto, para nos espetar olhos dentro o já termos duas crianças por sénior.
Tal envelhecimento, mor dos casos pobre ou à beira disso (as pensões subiram 3 Euros em 40 anos), é sobretudo uma vitória da qualidade de vida adquirida e em boa parte do Serviço Nacional de Saúde e das políticas sociais, malgré tout.
As pessoas não muito curtidas pelo sol e pela dor têm hoje aspeto de menos dez anos relativamente a duas décadas atrás. O relacionamento intergeracional e alguns «segredos» da medicina, para além do acesso à cultura e ao viajar, fizeram diminuir francamente o espetro de problemas da saúde mental e sexual, fazendo destas idades um oásis de felicidade antes não logrado.
Quem nos últimos anos defendeu o empobrecimento da população em favor do agigantar das grandes empresas e magnatas, como putativos líderes das sociedades, não pode agora aparecer (é preciso ser contra qualquer coisa, é a lógica desta gente), com programas maximalistas (como tal são todos duma estupidez cientifica impressionante, sempre), para «enriquecer» os «pobres idosos».
E quem detém o mando deve procurar mudar o quadro da pobreza deste escalão etário, condenado a morrer em lares, sentadinho, inerte física e inteletualmente no sofá frente ao televisor.
Todavia, passado o ano enaltecedor do envelhecimento ativo, muita coisa melhorou. Razão de sobra para mais ser feito.
A «matança de idosos» dos meses frios, ocorre em todo o hemisfério norte. Mas em Portugal (por aqui morreram uns milhares de pessoas com mais idade nos meses frios em cada inverno, não é um fait divers, é um terrível exagero), encontra explicação na má qualidade das habitações, que, de par com o frio, na subnutrição (existe mesmo nas instituições tuteladas pela Segurança Social, onde, a vigilância da suposta animação e a comida também justificam um olhar organizado), alimentam-na. Creio piamente, se reforçada a atenção do Estado neste setor (os melhores programas de controlo encontram-se legislados nos EUA há décadas), talvez existissem menos lares oficiais por baixar o volume do mau serviço. Sem nada ter contra a riqueza, julgo impossível chegar a rico quem não fizer trafulhice neste campo. Até a aplicação no terreno da vacina contra a gripe deveria ser exaustiva e monitorizada. Mas não o é. Apostemos pois nos nossos velhos!

Hpinto, Dia do Idoso, 2016

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