O actual governo de Portugal sempre fez questão nas obras estruturantes. Projectos que todas as oposições contestaram, seguramente por razões não muito diferentes entre si.
Em Portugal, num quadro de economia frágil há décadas, o desemprego assumiu cifras informes quando o mundo estalou. Os governos menos neoconservadores e mesmo os que mais fizeram para suster o abalo, foram por isso penalizados nas eleições. O problema do governar à esquerda ou à direita, algo que tresanda ao mofo das quezílias de Argel, agudizou-se também.
Mudados os tempos o executivo faz marcha à ré nos propósitos. E todas as oposições se ergueram contra este recuo. Um tema propício à demagogia faz sempre falta na disputa do voto.
Nenhuma formação política aceita de bom grado mudar o sistema eleitoral corporativista. O que pouco abona a seu favor.
A informação está cada vez mais tablóide. Direcciona-se para um público iliterato.
A última Conferência Regional da UNESCO, que decorreu em Baku, no Azerbaijão, teve por base os Desafios da Literacia na Europa. Viu-se que o maior desafio dos europeus neste domínio é a elevada proporção de pessoas sem as necessárias aptidões de literacia requeridas para a participação social e económica plena. De acordo com a Comissão Europeia, cerca de 72 milhões de trabalhadores europeus, à volta dum terço da força de trabalho no continente, têm baixas aptidões. Um estudo da OCDE de 2006 estima que 6% dos jovens europeus com 15 anos de idade, dos países da União, têm séria dificuldade em compreender o significado dum texto curto. Uma alta percentagem de adultos com escolaridade não consegue descodificar um jornal.
A literacia deve acompanhar a capacidade para aceder, gerir e integrar conhecimento. Deve ser encarada como a fonte do conhecimento no futuro, dum grau mais alto de desenvolvimento, duma força para a liberdade e a democracia, como determinante major do desenvolvimento e do emprego. Basta um ligeiro aumento dos níveis de literacia e existem logo implicações no minorar da descriminação social e económica.
Quando citei estes dados cruéis em França o presidente da Academia das Tecnologias, François Guinot, retorquiu-me que eles eram até bastante optimistas.
Em 1974 introduziram-se no ensino básico modelos de aprendizagem pelo abstracto, que perduraram. Todavia, sabe-se que a criança normal só absorverá esta linguagem conceptual pelos dez anos. Trinta e tal anos depois a mesma inspiração política debilita irremediavelmente uma tentativa, ainda que mal amanhada, de avaliação da docência. O dolo persiste.
Mau grado esta aguarela lúgubre impressiona positivamente o querer dos portugueses que acorrem às urnas.
Hpinto
in Diário de Leiria
10 de Julho 2009
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