Conservatório Sénior no contexto duma grande instituição cultural
O Orfeão de Leiria/Conservatório de Artes (OL CA) é o 11º estabelecimento escolar do país em função do número de alunos (num ranking que inclui Politécnicos e Universidades).
A consciência da necessidade de uma intervenção local e regional efectiva ao nível do empowerment dos cidadãos seniores, suscitou o desenvolver duma nova forma de intervenção específica e de sociabilidade, consubstanciada na criação do Conservatório Sénior (CSOL).
Ao celebrar-se o primeiro aniversário do CSOL, que continua um projecto singular, inovador e com sucesso acima das expectativas iniciais, a direcção do Orfeão de Leiria entendeu organizar um Seminário (8 de Maio, 14 30 - 17 00 horas, no Auditório José Neto do seu edifício principal, em Leiria), que reúna a Medicina, a Sociologia, as Artes, nomeadamente a Música, capaz de produzir reflexões úteis ao nível do científico sobre esta prática e susceptível de contribuir para uma investigação específica mais aprofundada em tão importante valência.
O público-alvo deste Seminário, além dos interessados em geral, engloba o corpo docente e discente da casa e convidados de todas as áreas conexas.
Esta nova valência, o CSOL, nascida no domínio de uma organização cultural do terceiro sector, permite o envolvimento e a acção dos seniores dentro da sociedade civil através das artes. Estimula a participação activa e efectiva dos seniores em actividades de cariz formativo e social.
As actividades envolvem, essencialmente, processos dinâmicos de aprendizagem autocrítica, contextualizados e ajustados à população sénior e eminentemente centrados na prática musical, na dança, no movimento, na tecnologia e na cultura.
No âmbito da melhoria da qualidade de vida dos seniores o CSOL constitui-se como um projecto educativo e formativo, ancorado na participação e na valorização da divulgação cultural. É igualmente um projecto social e de saúde que aspira contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seniores, assim como para a profilaxia da solidão e do isolamento social.
Para o seu funcionamento o CSOL articula recursos humanos, conhecimentos, experiência pedagógica e artística, espaços e materiais das escolas de música e dança da instituição mãe.
Por outro lado, o conhecimento, a abertura e o envolvimento do Orfeão de Leiria no tecido social, cultural, artístico e educativo da região, coberto pelo reconhecimento nacional e internacional dos seus projectos, além de conferir à instituição o reconhecimento, pelo seu trajecto passado e presente, cria, designadamente para a crescente comunidade sénior do Conservatório, oportunidades variadas de envolvimento, partilha, participação, reflexão e aprendizagem.
É assim viável, mediante um novo modelo de mediação e organização, e de uma proposta de intervenção no domínio da acção pela cultura, pelas artes e especialmente pela música, contribuir para uma resposta promotora de estruturas de empowerment individual e colectivo da população sénior.
O pioneirismo mundial
Não se trata de mais uma das chamadas Universidades Seniores, que nos merecem grande respeito. É um projecto eminentemente profissional e de franca diferenciação na qualificação científica dos seus pressupostos. É também a terceira escola do Projecto OL CA.
Neste contexto é importante distinguir o nível de relação com a música, com a cultura e com as artes privilegiadas no projecto. Trata-se de uma relação que vai muito além da mera contemplação, da escuta passiva, da sensação, da ocupação do tempo ou de um fruir estético reformado e conformado, muitas vezes aliado a uma recepção mais ou menos passiva da relação com a música e com as artes.
A tónica distintiva no CSOL reside no envolvimento através de um nível de participação assente na articulação dos vários interesses pessoais, que permite a aquisição e a partilha de conhecimentos e saberes, valorizando a experiência criativa, crítica, reflexiva e real. A acentuação da importância da aplicação e da valorização das suas capacidades, dos seus desempenhos associados ao fazer, ao tocar, ao cantar, ao interpretar, ao experimentar, ao expressar, ao sentir, permite incorporar junto dos seniores um conjunto de disposições intelectuais, criativas e sociais mais duráveis e sustentáveis.
Uma miríade de estudos internacionais
Exemplos dos impactos que estas actividades desempenham são enunciados pelos vários estudos demonstrativos que ouvir, interpretar e compor música são actividades que envolvem quase todas as áreas do cérebro, bem como quase todos os subsistemas neuronais (Thaut, M. H., 2007). No entanto, os estudos mais marcantes do impacto da prática musical são os realizados sobre a prática (Bangert, M. & Altenmüller, E. O., 2003). A complexidade inerente à sua interpretação, a necessidade de coordenação das mãos em simultâneo, a confluência dos aspectos melódicos, harmónicos e rítmicos, ligados ao desenvolvimento de processos de estimulação integrada dos sentidos, da atenção, da memória e das capacidades cognitivas, tornam a actividade de tocar piano, por exemplo, uma das mais interessantes neste campo, sendo por isso também objecto da oferta formativa do CSOL. Todos podem aprender a tocar piano e a notação musical de modo fácil e descontraído num modelo inovador e pedagogicamente adaptado.
O estudo «Music Making and Wellness Project», cujos resultados foram apresentados por Frederick Tims no simposim Music Medicine: Enhancing Health Through Music, demonstra que a participação dos seniores em aulas de piano reduziu os valores dos três factores críticos associados ao stress – ansiedade, depressão e solidão -, estimulando o sistema imunitário e melhorando a saúde.
Estas medidas são consideradas como tendo implicações em vários aspectos da vida e no apoio social, constituindo um dos principais problemas no envelhecimento.
Um facto interessante é o do não registo de alterações nos resultados do teste Lubben Social Support, que mede o apoio externo dado pela família ou por outras pessoas. Ou seja, a alteração nos valores referentes à sensação de solidão deveu-se essencialmente às aulas de piano, provocando melhorias na saúde e na sensação de bem-estar dos praticantes.
Outros investigadores observaram os benefícios da participação em actividades de prática musical (Schellenberg, E.G., 2003; Gaser, C., & G. Schlaug).
Os ganhos já conseguidos
No CSOL foi possível conceber um novo espaço de acção sociocultural através de uma proposta de valorização do envelhecer com actividades e programação contextualizadas que conduza a melhorias de indicadores sociais, comportamentais, de saúde mental, de saúde em geral e de qualidade de vida. O envolvimento nos desafios intelectuais propostos tem significados individuais e colectivos. Criam-se oportunidades aos seniores de pertencerem e contribuírem como membros activos de um grupo por meio de um convívio salutar, alegre e útil. Porque saber usufruir destes momentos de interacção social e das oportunidades de aprendizagem, expressão, envolvimento, participação e criação musical, cultural e de lazer, mantém e cria interesses, colaborando para que a mente se mantenha activa e saudável.
A investigação nesta área é ainda um dos nossos propósitos. Muito gostaríamos que os participantes deste seminário pudessem vir a usufruir deste laboratório social no futuro imediato.
Porque é vital manter uma vida intelectual, física e socialmente activa!
Porque fazer música é a melhor forma de servir estas necessidades vitais!
Porque fazer música é um caminho para efectuar conexões com a vida!
Porque não basta viver, é preciso viver bem e com qualidade!
Hpinto e Sandrine Milhano
Texto de divulgação do seminário
Perguntas simples
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O grau de abjecção pela enésima vez atingido — mais uma peça da sistemática
campanha de calúnias e assassinato de carácter de múltiplas figuras com
respo...
Há 3 horas
Muitos parabéns pelo seu blogue, e obrigado por me incluir no grupo de pessoas que pensa que lhes agrada ler os seus artigos, crónicas e pensamentos. Pois acertou, desde o início dos envios de e-mails pela Catarina que os leio atentamente. A propósito do Amor e Desencanto está-se a assistir realmente a um crescimento, em quantidade e consequentemente em qualidade,do fenómeno musical na região de Leiria. Os números que nos deu são prova disso. O O.L.C.A. tem uma intervenção realmente abrangente - desde o berço até à maturação dos cidadãos seniores; o que esta associação desenvolveu em termos de música em Junho e Julho foi surpreendente. Olhe que aquela do número 1 da guitarra não era para contar; como sabemos são questões de opinião pessoal.
ResponderEliminarA propósito de Música,Cognição e Cérebro, é bom ver confirmado cientificamente certas intuições pessoais, como as de que ouvir(pensar e sentir), interpretar e compôr são actividades que envolvem toda a área cerebral..., sendo uma actividade, inclusivé, benéfica para a saúde. A minha intuição vislumbra ainda mais para a música e espero que a ciência confirme as qualidades da música em prol do "coração", da "alma" e da auto-consciência universal. Depois de ler todos os seus artigos sobre cooperação mundial, solidária entre povos, etc. cada vez estou mais certo do que afirmei, porque o conheço como grande vivenciante da música. Um abraço e até breve.
José Mesquita Lopes