Adalberto Campos Fernandes
Roubada a casa ponham-se
trancas à porta! Este será o sentido de muitas opiniões ouvidas nos media, umas
demagógicas outras com seriedade. Ouvi o relato na primeira pessoa de dois
doutorados sobre Fogo posto e fiquei muito impressionado. A sabedoria a bem de
todos é um bem a preservar a todo o custo. Todavia, a manha e a mentira para
manter ou voltar ao poder, não deixando de augurar catástrofes a todas as
decisões do opositor, é um péssimo e mau exemplo em que o país jamais deveria
voltar a incorrer.
Todavia, este quadro
mental explica o atraso significativo com que continuamos a deparar no país.
Fogo, matas, incendiários,
leis duras, falta de meios, desolação eis os termos que encorpam o discurso do
presente.
Devíamos antes falar de
discursos do discurso e de atrasos do atraso. Pois se mudarmos de matéria,
talvez com exceção do Euro futebolístico (e mesmo assim…), arriscamos encontrar
um espetro semelhante.
Já o meu professor de
Química Fisiológica, meu conterrâneo Gomes da Costa, gostava de usar a
expressão «açúcar, o carvão animal». E diziam que era maluco. O professor
Gonçalves Ferreira, o pai da Nutrição Clínica em Portugal, usava a mesma
expressão. O Ciclo de Krebs, paradigma da bioquímica, atesta à exuberância o
papel dos Hidratos de Carbono (HC) como o motor do nosso corpo. Ora tal
representação do metabolismo não sofreu qualquer modificação quanto a tal
asserção por parte de qualquer investigador qualificado no planeta.
O mais frequente é ver
quem recomende a abolição total dos HC como nutrientes. Isto é um
frequentíssimo e redondo disparate.
Nos tempos mais próximos ganhou
foros de grande negócio a venda de produtos nutrientes confecionados com base
nesta treta. A última suposta novidade a tal respeito está a invadir o país.
Chama-se Dieta dos Três Passos (D3). Esta, além de restritiva em absoluto (à
Tallon!), faz até gala num suposto paradigma, falso, o das gorduras como
fornecedor de energia de eleição para o organismo humano. Não existe coisa
alguma no mundo de provável suporte científico duma tal asserção. Ah, claro,
aquelas coisas que lemos na Internet! E as oportunidades de negócio.
Tomei conhecimento de
haver por aí quem se intitule fazer Nutrição Clínica, a 7 Euros por consulta,
imagine-se, e desviar a consulta para aquela D3 e a consequente venda dos
produtos inerentes? É um pouco o sucedido com Herbalife, dos negócios mais
chorudos do mundo, entre outros do género. Como é possível haver a desfaçatez
de trabalhar com base em pressupostos tão diametralmente opostos? E em boa dose
são pessoas licenciadas por Escolas superiores em Portugal.
Meus queridos amigos
Diretor Geral da Saúde Francisco George, Subdiretora Geral Graça Freitas, e
Ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, estou cansado de falar sobre isto
e até me tenho coibido de o fazer. Mas se queremos os portugueses saudáveis
temos de meter a mão nesta massa. O universo de embustes sobre Nutrição em
Portugal quase supera o da orbita solar. Os prejuízos financeiros em
tratamentos e medicação inútil devem andar de par com os dos fogos.
Que ganha o país com a
improfícua exigência de recibo com número das finanças aos vendedores de Bolas
de Berlim nas praias do Algarve? Alguém imagina o efeito do lobby hoteleiro
sobre as autoridades? Quem acredita na eficácia para a receita fiscal das
exigências burocráticas e persecutórias, por banda do aparelho oficial do
turismo, sobre as nazarenas que alugam «chambres»? É nisto que ocupam tempo e
saber.
Confesso, a
desproporcionalidade de todas estas situações (incluindo Fogos, D3 e quejandas,
sem esquecer os taxistas, os produtores de suínos, os colégios privados e os
seus barões, proprietários e dirigentes associativos, os Migueis de
Vasconcelos, etc.) deixa-me amargurado de todo.
Henrique Pinto
Graça Freitas
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