O serviço público em Portugal é uma fraude
Fernando Nobre foi silenciado desde o início. Sem dinheiro (só os partidos podem gastá-lo sabe Deus como) e sem estrutura, foi necessário construí-la. A iliteracia em Portugal ultrapassa o leque da abstenção e mergulha fundo no dos votantes. Há uma geração jovem generosa, militante e atenta. Mais tarde ou mais cedo o país vai ter de mudar o sistema eleitoral de forma a que dele emane um sentido de responsabilidade interpessoal mais digno. O serviço público informativo em Portugal é uma fraude. Os «opinion makers» existentes que não fazem declaração de interesses são uma aberração democrática. E estão por todo o lado.
Talvez só Fernando Nobre se possa considerar um vencedor!
Não há bom ou mau perder. Há a consciência plena que o dito ontem sobre as pessoas e o estado em que está o país é válido hoje e sê-lo-á amanhã também.
Foi grande a emoção de apoiar de perto Fernando Nobre, o homem político mais importante dos últimos trinta anos em Portugal. Livre e independente talvez só ele se possa considerar um vencedor. Quem sabe se não o será dentro de cinco anos, como me dizia a minha filhota em jeito de consolo!
Foi necessário construir por todo o país uma base organizada em torno do trabalho de milhares de voluntários, sem qualquer remuneração. Sem o dinheiro que os partidos puderam gastar à tripa forra (o Estado paga os défices, a Lei de financiamento dos partidos, aprovada tão recentemente, é um símbolo de corrupção!). Foi a quotização solidária dos voluntários que assegurou as despesas. Não houve «outdoors» em cada rotunda nem os 2,4 milhões de Euros gastos pelo candidato no poder, mesmo se com a máquina do Estado a trabalhar para si.
A «Tontice» de Pedro Marques Lopes
E as ideias de Fernando Nobre (só quem o acompanhou e procurou amplia-las as conhecerá melhor) foram apropriadas por todos os restantes candidatos.
Dizer-se que a democracia «são os partidos» e que Fernando Nobre era o homem «anti-sistema», como o fez Pedro Marques Lopes em O Eixo do Mal, na SIC da noite eleitoral, é «tontice» absoluta. Qualquer sociedade civil é tanto mais forte quanto maior for a sua organização informal, quanto maior for o associativismo de todos os matizes, incluindo o cívico e o eleitoral. A metodologia eleitoral estribada em exclusivo nos partidos, sem círculos uninominais, só com uma câmara parlamentar, enorme, inconsequente e esbanjadora, é hoje quase uma raridade portuguesa no mundo desenvolvido. Leia um pouco mais de sociologia política, meu caro, não o fará engordar mais!
Fernando Nobre dava aos jovens a confiança que o sistema lhes nega
Só haverá um mínimo de responsabilidade política no país quando os cidadãos eleitos (nomeadamente para as autarquias, só com executivos de maioria, e para o parlamento) forem inteiramente responsáveis perante quem os elege.
Não sei se tão cedo terei outra emoção assim!
Todavia, falar em desilusão pode ser verdade maior para os mais jovens, a sua leitura da realidade não lhes permite, para já, terem confiança alguma no sistema como ele está. Fernando Nobre dava-lhes isso, com segurança.
Conseguir o montante de votos logrado nas condições em que o foi é muito importante para Fernando Nobre. Talvez o venha a ser para o país também. Porque muito do que afirmou germinará no bom solo.
Fernando Nobre foi efectivamente silenciado
Não escamoteemos a verdade. Fernando Nobre foi efectivamente silenciado pelos aparelhos informativos do Estado e dos partidos.
Quanto aos primeiros, onde cabe o serviço público, é uma vergonha absoluta. Guilherme Costa devia demitir-se da RTP/RDP (imagine-se o cenário se lhe dão também a Lusa!), porque o trabalho das suas estações não pode ser igual ao das restantes, movidas à partida por propósitos diversos. Sonegaram informação sistematicamente. E repare-se, pouco me incomoda ele ter sido nomeado pelo governo, dói-me é a incompetência e inconsequência positiva no quotidiano. Não é necessário despedir jornalistas, que, no essencial nem são os culpados, sem nbo entanto serem as virgens que se julgam ser. A força do presidente da RTP/RDP é inferior à dos lobbies na comunicação social, seja o «gay» ou o da «passa»!
A escola jornalística «incidentalista»
Dizia-me um jornalista amigo em plena campanha, a informação em eleições é eminentemente «incidentalista». Ou seja, digo eu, é notícia o clássico «se o homem morde o cão» e só raramente se quem morde é este último. Um discurso de verdade, sem slogans, insultos ou mal dizer do governo, e as respectivas respostas cruzadas, é lixo para esta gente! Como pode um cidadão atento ou culto
sentir-se confortável neste mar de inutilidades informativas? O serviço público não pode sustentar-se em incidentes. Mas este jornalismo de «constructos» (desde o início se radicalizou em volta de Alegre e Cavaco, digam-me, com que critério ou pressuposto científico?), a ênfase posta em factos extremos, artificiais, no pitoresco, e na omissão dos que estão ao lado, é também o jornalismo aprendido de supostos mestres feitos à pressa antes de lerem um livro a sério, como José Alberto Carvalho. Nunca foi o de Mário Bettencout Resendes ou Augusto Mesquita. Até quando num canal se falou dos candidatos no Facebook referiram-se todos excepto Fernando Nobre, quando ele foi o líder incontestado nessa rede social. Que nome se dá a isto?
O que preocupa mais, abstenção ou iliteracia funcional?
O volume da abstenção não é o factor mais importante. Para incredulidade do deputado amigo Albert Coutinho, de New Jersey, EUA, que ontem acompanhou Fernando Nobre, tal volume de abstenção acontece também, particularmente, na América. Mas enfim, não há sábio que não releve o enorme problema da abstenção, como se fosse vento ou chuva em dia de praia.
O que verdadeiramente nos entristece é o grau de iliteracia funcional do país que atinge ainda boa parte da massa efectivamente votante. A tal ponto poder dizer-se com rigor que o que passou nos jornais durante estes dias pouco ou nada interferiu na campanha. Para desgosto do emproado a julgar-se ungido de dons premonitórios, Ricardo Costa, que tão mal esteve no começo do seu novo ofício. Silenciou Fernando Nobre.
Mas tanta coisa foi boa demais, amigos! As pessoas boas que eu conheci, as pessoas maravilhosas que, sem apagões, trabalharam comigo e com a Teresa Serrenho até ao fim, foi das melhores oportunidades duma vida. Este também foi o sonho duma vida. Mesmo para quem como eu, que sempre fiz política, que nunca esteve em partidos, que tem estado no mundo inteiro, este foi um período singular. Estou certo que viverá para além de muitos de nós. a emoção foi demasiado forte.
Henrique Pinto
Janeiro 2011
FOTOS: Guilherme Costa, presidente da RTP/RDP; Fernando Nobre; Pedro Marques Lopes; Jovens de «Toca a Rufar»; Comício de Coimbra, Henrique Pinto, Carlos Carranca, Fernando Nobre e Nelson Carvalho; Mário Bettencourt Resendes; Ricardo Costa; o deputado pelo Estado de New Jersey, USA, Albert Coutinho; Luís e Teresa Serrenho no Comício de Coimbra
Só não viu ou percebeu quem não quiz. O silenciamento foi descarado. A partidarite de certos orgãos de informação aliada a pseudo-políticos "sérios" está a desmotivar e a criar mal estar no país. Fernando Nobre assustou muito boa gente. Era necessário não lhe dar voz, e foi o que muitos fizeram. Ainda bem que Fernando Nobre não desanimou e o resultado viu-se. Os sérios, solidários e patriotas são pelo menos 14%. Valeu a pena.
ResponderEliminarÉ uma candidatura única na história da República. O serviço público de informação foi tendencioso. A cidadania precisa prosperar. Cidadania é emancipação. Valeu a pena. Valerá a pena.
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