sábado, 29 de dezembro de 2012

MUDA O ANO, HÁ ESPERANÇA NOVA!

Há quem tenha o sentido do equilíbrio. Há quem saiba ser solidário. E estes não são com certeza os do cortar a direito. Há quem tenha o sentido do
tempo útil para cumprir um plano. Não lhes cabe na cabeça enterrar o país num «timing» ajustado a eleições. Há quem saiba que a cultura é muito mais que todos os eventos em conjunto. É algo que transforma e é alma.
Não lhes entrará pelo espírito o arruinar dos seus promotores, como os de outros sectores da vida em comum. Saberão que ajustamentos são ajustamentos. Entenderão a ignorância dos que peroram nas bichas, enchem autocarros e compram a crédito na mercearia. Saberão que a
cultura é o processo transformador das sociedades. Poupar não é decepar, é postura de bom senso. Cultura como transformação é também solidariedade. Alguns dos assim pensantes ajudaram a Associação Alzheimer de Portugal com um Concerto Solidário neste Natal. Foi o caso do Coro do Orfeão de Leiria após um reajustamento estrutural, uma
adequação aos tempos inspirada na boa vontade e na inteligência. Foi uma operação de sucesso, com futuro. É nesse espírito de construção que desejamos a todos os intervenientes pela cultura e pela solidariedade o voto de um Ano Novo venturoso. Fazemo-lo com as fotografias do Victor Cordeiro, amigo, rotário, solidário, homem de esperança! Bem hajam
Henrique Pinto
30 de Dezembro de 2012
 

PROFESSORES, O MELHOR DO MUNDO!


Às vezes ouço dicas sobre os professores e fico um tanto embaraçado, como se me interrogasse, «serei diferente de tanta gente?». Sempre gostei dos meus professores. E tive muitos, porquanto, em Portugal e no estrangeiro, fruí o privilégio de ir sempre estudando. Lembro-me de um tonto, espanhol, que, «a posteriori», me prejudicou sem motivo, no decurso do processo de doutoramento. Mas mesmo esse, enquanto professor, até o ajudei, defendendo-o de quem não tinha obrigação de o aturar.
Mas olhando para todos eles há uma discriminação positiva para os meus mestres na escola primária, o professor Amável e a professora Elizabete. Durante o meu crescimento e por longo tempo adulto vieram-me ao espírito, nos momentos certos, observações e ensinamentos que lhes ouvi nas aulas e me marcaram para sempre. Ao primeiro, já entrado nos noventa, vejo-o amiúde, à saída da missa, quando vou a Sesimbra. À minha tão querida professora muito desejei e tentei vê-la ao longo dos anos.
 Todavia, num mecanismo compensatório, a carta que dela vim a receber comoveu-me francamente. Senti fundo que por bons motivos a recordava como um anjo na minha vida, deusa de guarda e inspiração. Ao tratar-me hoje assim por Henriquinho vejo-me, feliz, como se o tempo tivesse parado por instantes. Dou-me conta do quanto o mundo se transfigurou. Daquilo por que passámos e do pouco ou muito a poder mostrar-se, depende de quem observa, a assinalar o percurso da existência. Vejo como tantos outros anjos entraram pela minha vida e com amor sem me fazerem esquecer aquele que me amparou na escola em 1959, e alumiou o meu caminho, até hoje. Bem haja professora Elizabete! Por sua causa, vejo os professores como o melhor do mundo. Fernando Pessoa, por certo, não se importaria que glosasse a sua frase. Muito obrigado. Eis abaixo essa carta redentora.
Henrique Pinto
Dezembro 2012 
 Meu caro amigo Henriquinho
Não sei se consegui que esta foto fosse a surpresa que pensei…mas levei tanto tempo a fazer o seu envio e esta mensagem que na minha casa o nome «Henriquinho» ficou quase gasto, por eu ir sempre adiando, mas os «aposentados» às vezes têm destas coisas…é logo, é amanhã, e assim foi passando o tempo após ter pensado fazê-lo.
Claro, que o Henriquinho vai rever-se em 1959 com os colegas e a professora Elisabete, que muito trabalhou e sofreu um bocadinho no seu primeiro ano de professora.
Bom, mas felizmente orgulho-me do que sempre fiz e amei. Sinto-me recompensada sempre que encontro os meus alunos, com muito carinho que me recordam.
Pela prima e afilhada do Henriquinho, como sempre é chamado, fui algumas vezes contactada, para uma oportunidade de nos vermos quando vinhas a Sesimbra, mas com muita pena isso não aconteceu, pois por alguns motivos, entre eles ausências…, pois viajo muito com o meu marido e pouco paramos no dia a dia…
Agora, falando com o Dr. Henrique, uma vez que já lá vão 52 anos…, envio uma foto da professora, actualizada, com 74 anos, e por sinal num cruzeiro que fizemos em Junho às capitais bálticas, e tenho o gosto de apresentar o meu marido.
É com prazer que receberemos o Henriquinho e família quando vierem para os nossos lados.
Outra coisa importantíssima: a minha filha mostrou-me o Dr. Henrique no facebook e gostei muito de vê-lo.
E pronto, meu querido aluno, despeço-me com muitos beijinhos e votos de muitas felicidades para o Henriquinho e família, e um abraço do meu marido, que só de nome já te conhece.
Sempre amiga,
Elizabete   
 

 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A HISTÓRIA DUMA PAIXÃO

O meu próximo livro, o décimo, sairá talvez a meio de Fevereiro. Está feito há algum tempo a sofrer o efeito gaveta. Uma fase onde em tudo vemos necessidade de corrigir. Isto passa, pá! E o título, mantém-se? É uma dúvida a persistir por mais uns dias. Temos tempo…
Este livro é um Estudo de Caso em torno da cultura, em torno dos tempos. Mas é uma história que envolve milhares de personagens, uns com nome sólido, outros que jamais o terão. É acima de tudo um testemunho, uma pesquisa sociológica, uma explicação para três décadas de paixão lúcida, com Leiria por cenário. Bem podia ter sido um livro deste Natal… 
Ora neste Natal pelo meu Cascais menino cogitei deveras no que fazer acerca deste escrito a dar à estampa. E decidi-me! Quem sabe se por sortilégio da época!? O meu bom amigo Carlos Vitorino deu também o seu empurrãozinho!
Já o amigo Nazário parece preocupado, no jornal que dirige, com o facto de o Natal ser hoje «pagão e ícone do consumo». Tudo me faz discordar da sua inquietação. A melhor herança da simbologia natalícia cristã e a sua força imensa residem exactamente no facto de o mundo se ter apropriado do que ela tem de melhor, o espírito solidário e familiar. Quanto ao consumismo, bem, estava eu a debutar no liceu e o planeta tinha menos de metade dos habitantes de hoje, com uma qualidade de vida a milhas de distância do ora considerado ícone.
Ouvia noutro dia discurso num jantar de Natal, um companheiro de Rotary cuja admissão sugeri e apadrinhei estava de orador de serviço, e não me reconheci em nenhuma das ideias por ele adiantadas, tanto no respeitante a Rotary como quanto ao espírito do presente. E é um homem dito «da cultura»! Aliás, sou Rotário exactamente por razões opostas às por ele aduzidas, tenho a solidariedade e o serviço como consigna, há lugares aos centos para outro tipo de vivências, orgulho-me de saber este sentir de singularidade, tal como o do Natal, partilhado pelo actual presidente, Sakuji Tanaka, meu amigo há mais duma década. E no entanto admito abertamente nada ter a opor a esta coexistência de contrários.
Também o meu colega José Gameiro, entrevistado pelo Expresso a propósito da quadra, diz das famílias, «fazem tréguas como se fosse numa guerra». Ó meu caro, se assim fosse já não era mau! Os tempos mudaram, meu! Sem dúvida, têm hoje maior assento modelos familiares impensáveis há umas décadas em termos de popularidade, mesmo em países de longa tradição democrática. O divórcio e a união de facto, liberalizados, criaram uma rede mais extensa de membros das famílias. Contudo, só existirá um inferno onde porventura já o seria noutros contextos. Conheço tanta gente a não fazer disto um problema, sobrepondo-se a tal o espírito de aproximação ao outro. Não hipertrofiemos os extremos, colega, todos os dias vemos cães a correrem na autoestrada e seniores sem uma visita no hospital por esta altura, uns e outros abandonados! E o tirano sírio, médico, tirou oftalmologia por não poder ver sangue!
Henrique Pinto
Dezembro 2012
 
 
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

OS PROTAGONISTAS DA VIDA (1)

O NERLEI (Núcleo Empresarial da Região de Leiria) encomendou à empresa JLM um plano estratégico tendente a trabalhar-se Leiria como Região de Excelência. Não é uma ideia nova. Mas é uma excelente ideia e que subscrevo.
Para avivar a discussão no Eixo Pessoas, seguramente com a elevadíssima coordenação de Carlos Antunes, preparei a reflexão que se segue.
Diferentes de lugar para lugar os indivíduos crescem para a acção pela forma como se articulam uns com os outros e consoante a sua memória histórica, tão importante como a do conhecimento em vida ou da derme. O processo de comunicação está a mudar e normalizar este paradigma.
A análise SWOT para Leiria/Região tendo por base as pessoas não pode ser alheia ao modo como elas interagem, produzem, são capazes ou têm por objectivo ou desígnio fazer. Apraz-me por isso, neste começo, citar dois exemplos sociais e organizativos que vivi e onde as pessoas sempre estiveram em primeiro lugar.
Em 1975 o Distrito de Leiria teve um surto gravíssimo de cólera, imagem de marca dos países de miséria. Em 1976 o Distrito tinha taxas de mortalidade infantil estimadas como acima mas próximas da média nacional, que era muito alta. Mas os cálculos da mesma taxa para a Nazaré, por exemplo, quadruplicavam então os valores para o país (próprios de países de baixíssimo desenvolvimento). Trinta e cinco anos depois, seguindo a tendência decrescente dos últimos vinte anos, os valores para o Distrito são inferiores à média do país que, por sinal, tem a taxa mais baixa do mundo.
Num outro registo, digo-vos, há trinta anos fui convidado para presidir ao Orfeão de Leiria, colectividade já muito prestigiada mas então numa fase decadente, com um coral e um grupo de teatro moribundos e algumas aulas de ballet e de solfejo. Hoje, Conservatório de Artes com extensões ao ensino profissional e ao de seniores, tem sido a maior escola artística do país – trinta e tal antigos alunos a prosseguirem os seus estudos em universidades estrangeiras das mais creditadas -, e desenvolve um espectro largo de intervenção cultural na cidade e região particularmente significativo. A ponto de ser a única instituição privada de ensino portuguesa a ser membro da exclusivíssima Associação congénere Europeia.
Mesmo tendo em consideração que os tempos mudaram e que o país mudou também, num salto gigantesco, não se pode deixar de evidenciar que tais crescimentos na qualidade de vida se enquadram numa estrutura demográfica jovem e num fluxo de crescimento económico apreciável. Por detrás destes exemplos de sucesso estão pessoas, estratégias e organização. O atraso de hoje no país em relação a outros paísesda família Europeia, se mostra o imenso caminho que era suposto ainda percorrer até os igualar, acaba por ser injusto em relação ao caminho percorrido e aos seus fautores.
Sendo verdade que a Região de Leiria foi longamente afectada e influenciada pelo obreirismo, na terra e no produto intelectual, pelos monges da Ordem Cisterciense e depois pelos Dominicanos, e pela contemplação e conservadorismo dos frades de Santa Cruz de Coimbra, a mescla conseguida faz menos jus ao presente do que uma suposta média aritmética destes atributos.
Vimos recentemente distinguida a criatividade e inovação dum modelo de hotelaria para Porto de Mós e o prestígioalém-fronteiras de alunos de hotelaria de Ourém, numa região ampla com restauração de referência. Impressionou-nos o sucesso das Associações para a pêra rocha e a maçã de Alcobaça no que concerne à exportação. A capacidade instalada e o processo qualitativo do Centro Hospitalar Leiria /Pombal, o maior da região, têm sido reconhecidos como os atributos mais apreciáveis na Saúde em Portugal, apesar de a instituição ser a penúltima na afectação em recursos médicos no país.
O que é lamentável e injusto. Na senda do excelente empresariado na Região, com enfoque para alguns dos pioneiros como Aníbal Abrantes ou Filinto, da MAP, a Marinha Grande tem de novo um notável ascendente mundial na produção de moldes e a empresários como Arnaldo de Matos é reconhecida uma prática multifacetada de empreendedor com êxito.
Alunos de matemática da Escola Secundária Domingos Sequeira venceram as olimpíadas desta disciplina que é a campeã do insucesso nas escolas do país, um reconhecimento a alunos e mestres mas, seguramente também, à melhoria do apetrechamento intelectual dos alunos ao nível das famílias, mais conhecedoras. Para o bem e para o mal é injusto falar.se apenas dos professores e esquecer o contributo, inestimável, da literacia familiar.
Henrique Pinto
Novembro 2012
 

OS PROTAGONISTAS DA VIDA (2)

Vemos assim que na Região de Leiria existem polos de excelência a níveis diversos através de múltiplos exemplos de qualidade, nomeadamente nos campos agrícola, industrial, educação geral e artística, saúde e serviços, pelo menos, associados a taxas de crescimento da riqueza muito favoráveis.
Inovação, orientação estratégica, empreendedorismo individual, de grupo e associativo, criatividade, resiliência, qualidade, educação específica e literacia, são atributos e forças já demonstradas pelos promotores do desenvolvimento ou crescimento regional, pelas pessoas que o corporizam, e que devem ser apreciados como forças no eixo Pessoas. E se o foram no passado recente, deverão sê-lo num futuro a construir.
De facto o reconhecido empreendedorismo regional a título individual, e a qualidade dispersa por sectores vários, estãocada vez mais a dar lugar a uma acção produtora e inovadora de grupo, de associações, de qualidade acrescida, uma força significativa para chegarmos mais longe. Força que inspira quantos encaram as situações menos boas, da chamada «crise», recessivas mesmo, como uma oportunidade para experimentar e aplicar métodos e caminhos diferentes e promissores, mesmo quando com risco superior.
É notável este novo empresariado que ao sebastianismo choramingas e ao fazer de aparência opõe com pragmatismoe resiliência «o impossível faz-se já ou demora só mais um bocadinho». Através dos seniores, num eficiente processo de envelhecimento activo (Conservatório Sénior, como nalgumas empresas também), é patenteável, de modo muito meritório, a capacidade para processos de mentoria. Por oposição ao modelo Porter (enquanto uns ganham os outros têm de perder), prevalece nalgumas áreas, sobretudo nas do saber qualificado, a ideia de concorrência saudável, de negação da lógica de oposição escassez/abundância ou da de ameaça dos produtos substitutos, no haver inovação com valor, sistemática, contrária às ideias do lowcost, insustentáveis. Este é um empresariado estruturalmente jovem na sua maioria.
A generalização da formação específica e da mentoria sénior tornou-se uma outra força. Quase desapareceu o empresário bem sucedido mas que ainda abria o correio, substituído pelos que tornam a qualidade competitiva inalienável, sustentada no saber, nos seus investimentos de arrojo.
Um modelo de Plano para a excelência regional foi produzido, ao tempo do notável empresário Rui FilintoStoffel como presidente do NERLEI, e seu promotor, , entre outras. A proposta «engasgou-se» exactamente quando lhe foi necessário o apoio das entidades públicas locais, de manifesta resistência conservadora ou ignorante.
O mesmo sucedeu quando se apresentou um modelo para o Turismo, assente em meia dúzia de pérolas como a cultura e o ambiente,que boa parte da região merecia ter e não tem. Pouco importa agora a queixa sobre a organização regional ter sido transferida para Aveiro! Em Leiria só funcionou ao tempo do espírito aberto de Joaquim Vieira. As pessoas contam. Basta um modelo de cooperação de pessoas clarividentes e empreendedoras, não egocêntricas, ligadas a múltiplos sectores, em sinergia, ungidas por uma estratégia coerente, fácil de montar, e o turismo, consigna essencial para a excelência, será uma realidade. Este género de ameaças, do conservadorismo ao  empobrecimentocorrente do país, num processo de resgate financeiro, a cuja cura alguma governança tenta aplicar lunáticas filosofias neoliberais, atéao endividamento das autarquias, pode ter como oposição a resiliência já manifesta por sectores do empresariado regional em geral, dos actores locais, incluindo os do saber. Num contexto como este é normal o apeloa quem, infelizmente, escolhe os candidatos a sufrágio, para que minorem o eminentemente político em favor do conhecedor experiente. É normal fazer-se igual apelo aos gestores públicos e aos autarcas para uma aposta forte na cultura. O semanário Expresso já escandalizou muita gente quando apontou Leiria como tendo o melhor ratio percapita na oferta cultural. A região tem a
monumentalidade mais diversa e imponente do país. E tem ainda o segundo melhor per capita músicos por habitante no espectro nacional. E num período de dificuldades como este que melhor desiderato para as autarquias, em sinergia com o sector privado e associativo, do que a aposta na cultura. Obviamente não no sentido etnográfico ouvido a responsáveis da JLM, mas como arsenal ideológico que induz a mudança pelo conhecimento. A estratégia do Orfeão de Leiria, tem resultados e impacto provados. A estratégia apontada nos estudos encomendados ao Observatório das Actividades Culturais pelas Câmaras de Cascais e do Porto, para o vector Cultura, é semelhante à do Orfeão de Leiria, e igualmente eficaz. Aos actores da cultura como aos dos negócios é indispensável uma orientação estratégica pertinente e fundamentada, assente em pessoas conhecedoras, sensíveis e resilientes.
Henrique Pinto
Novembro de 2012
 

 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

SONS DO MUNDO

A apresentação do projeto:

Conhecer sons, percorrer o mundo pelas sonoridades que caraterizam cada região, cada cultura, cada forma de vida é a proposta do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes com o projeto Sons do Mundo. Numa viagem que se fará todos os anos, o OL CA dará a conhecer um instrumento, uma forma de ouvir o mundo e de expressar a arte, a todas as pessoas, mais pequenas e maiores.
O toque, a experimentação, fusão de tecnologias e de tradição, concertos inesquecíveis e momentos únicos, dominarão a temporada Sons do Mundo que se realiza, anualmente e durante alguns meses, já a partir de dezembro de 2012.
O primeiro convidado? O Gamelão de Porcelana e Cristal! 
Apresentação do Gamelão: 

O Gamelão de Porcelana e Cristal, um grande e misterioso instrumento musical

O Gamelão de Porcelana e Cristal é um instrumento musical, um grande, diferente e misterioso instrumento musical.
Constituído por centenas de peças de porcelana, faiança, grés, vidro e cristal, é um instrumento musical coletivo, que é, simultaneamente, uma escultura, um projecto de arte em si próprio.
Foi inspirado no milenar gamelão javanês, mas a sua criação foi imbuída também de um espírito criativo mais contemporâneo, seguindo várias tendências da música experimental, de John Cage a Harry Partch. É por isso que o Gamelão de Porcelana e Cristal soa de forma única: combina vários tipos de timbres e é usado em estrita relação com a noção de espaço e percurso.
O Gamelão permite a qualquer um expressar-se musicalmente, mesmo sem treino musical, mas também por pessoas com formação musical, que encontram nele desafios originais, inovadores e interessantes, e aliam a tradição às modernas tecnologias
Pelas suas caraterísticas, o Gamelão pode adquirir várias formas e dimensões, sendo reformatado em função do espaço arquitectónico que o venha a acolher. Em Leiria, o Gamelão de Porcelana e Cristal chega à cidade pela mão do Orfeão de Leiria, e será instalado no MIMO, Museu da Imagem em Movimento.
Joaquim Branco
Novembro 2012 

NOTA: Este é um novo Projecto do Orfeão de Leiria / Conservatório de Artes coordenado pelo professor Joaquim Branco. Henrique Pinto
 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

LUÍS AMADO E O GOVERNO NO X JANTAR CONFERÊNCIA DO REGIÃO DE LEIRIA

Nem parecia o mesmo Luís Amado, meu amigo, que há um ano e tal, ainda ministro, participou comigo no programa Café das Quintas em Leiria! Na altura ele era o pessimista sobre o devir próximo e eu o mais confiante. Neste seu discurso no X Jantar Conferência do Semanário Região de Leiria a tónica esteve na confiança prudente no após Setembro 2013, altura das eleições na Alemanha. Aposta numa Merkel a defender o federalismo mais que político, num quadro de maior tranquilidade com o tratado da fiscalidade europeia ora assinado. E incentivou à continuidade do actual governo em termos de legislatura (para o que diz já ter avisado os líderes dos dois maiores partidos políticos quanto aos riscos da eventual dissolução do executivo), como oportunidade de confiança dos credores internacionais e para o aproveitamento num sentido favorável dos sacrifícios feitos por boa parte dos portugueses. Domingos Azevedo, o outro orador, foi mais factual e crítico acérrimo da governação e acentuou desfasamentos como o IVA para as grandes superfícies, a ganharem muito dinheiro à sua custa (por contraste com o esforço feito pelos pequenos empresários seus credores, que pagam o imposto ainda antes de ressarcidos, fenómeno corrigível se usado o modelo caixa).
Eu adoro estes convívios, estava deliciado e bem disposto, rodeado de pessoas que estimo, a deitar farpas aqui e ali, e por isso ainda cutuquei os meus amigos deputados, «perdi-me, mas afinal onde estavam hoje direita e esquerda?».
Muita gente insuspeita diz que não fora a «precipitação» da então oposição em fazer cair o governo e a situação seria hoje outra mais favorável. À altura já estaria negociado e sancionado pela chanceler alemã um empréstimo em condições menos duras. Bem, em história não há «ses», ficará por saber-se, sobretudo no que respeita à justeza da
aplicabilidade desses fundos eventualmente acordados. Caímos no fosso e há que tentar sair-se dele. A forma de o fazer é que, tal como a queda, nos parece mais dolorosa e danosa que o necessário. Estou em crer que o responsável pelas finanças terá alguma noção do que está a fazer, sacrifícios aos bochechos por conhecer a dose certa do medicamento, inaplicável numa só toma. Atribui-se ao cientista Lavoisier, guilhotinado na Praça da Concórdia ao tempo do Terror de Robespierre, que «a diferença entre medicamento e veneno é apenas uma questão de dose». Aquele parece demonstrar ainda assim um desconhecimento grave da dinâmica social portuguesa. E ninguém o mandatou para colocar as «soluções» numa rota eminentemente neoliberal. A negociação das privatizações por ele ou pelas entidades externas entendidas necessárias (a RTP e a TAP privatizadas são um absurdo fora desta rota ideológica), foram entregues a António Borges. Antigo responsável do FMI para a Europa, foi despedido ao fim dum ano, supostamente por não ser politicamente correcto, no contexto actual, o facto de este economista ter sido quadro com peso do Goldman Sachs, dito «O banco», esse aparelho financeiro de influência tentacular. E foi responsável desta instituição exactamente quando ela é
acusada de ter manipulado as contas da Grécia para permitir a entrada deste país no Euro. Uma operação que terá endividado inexoravelmente a Grécia a favor da entidade manipuladora. Responsável, dizia, ainda no período em que o Goldman terá negociado as privatizações mais significativas na Europa. Para qualquer cidadão avisado só isto bastaria para estar menos confiante. Mas nenhum dos oradores passou por aqui. De parabéns estão, sobretudo, o Região de Leiria e empresas de excelência e personalidades que distinguiu na ocasião.
Henrique Pinto
23 de Novembro de 2012
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PASSADO E PRESENTE DO ESTADO DAS COISAS

À música e à dança interessa cada vez mais o que é o mundo global. Ora, este mundo não muda quando se quer. Mas muda. Depois do crash da economia americana em 2008, desregulada pelo liberalismo infrene escorado então nos investimentos predadores, obra dos jovens banqueiros de Wall Street inspirados por filosofias contrárias à igualdade de oportunidades entre os homens, a contaminarem o mundo, a economia global tremeu como nunca. Em 2009 o produto bruto mundial foi o mais baixo de sempre em quase um século. A economia europeia é a esse respeito, a exemplo da americana, a mais abalada.
A anterior adesão ao Euro terá sido um acto solidário para com a reconstrução da Europa, sobretudo a leste, particularmente por parte dos países periféricos, como o nosso. Esta aventura mal congeminada em Bruxelas, arredada dum federalismo para lá do económico, acentua as fragilidades de hoje. A solidariedade dos antes beneficiados não existe, o país está sob resgate financeiro e a tendência recessiva está para durar.
Por entre os ajustamentos das contas públicas nacionais, pouco importa agora se bem ou mal dirimido o processo, o ensino artístico passou a ser tutelado pelo ministério da economia – por anacrónica que tal realidade nos pareça - e sustentado por fundos europeus. Fundos esses que começaram por ser avocados pelas finanças em Abril deste ano, em Portugal, fragilizando-os na aplicabilidade precedente e proactiva, e que ora são passíveis de decrescerem fortemente na própria fonte, a sede da União Europeia.
As Escolas de música e dança do Orfeão foram das primeiras em regime privado no país. Hoje há mais de 120 instituições similares em Portugal, oitenta das quais têm ensino articulado em contratualização com o Estado. Todavia, se o ensino articulado significou a abertura democrática do ensino artístico, e se cresceu quase em espiral quanto ao número de alunos, dada a inexistência de propinas, o seu panorama está a ser francamente desvirtuado. Porquanto o Estado não está a honrar os compromissos assumidos. Nos dois últimos anos lectivos, quando ninguém se queixava por outras paragens, o Orfeão lutou quase isolado contra os atrasos no ressarcimento por parte do Estado. Hoje, a casa está numa posição difícil, porque tem cerca de 80% dos seus alunos em regime articulado. No entanto, está ainda assim numa posição relativamente cómoda, senão a melhor, em face de todas as outras escolas do país com idêntico estatuto na articulação com o Estado. A continuar assim o estado da arte na arte, e nada o parece contrariar, boa parte dessas instituições fecharão as portas nos próximos meses. É um retrocesso civilizacional à nossa escala. Mantendo-se a solidez organizativa e pedagógica do presente, e tudo aponta para aí, nós resistiremos a tal retrocesso!
Quando hoje temos tão ilustre convidado, o Professor Vasco Negreiros, a fazer a Oração de Sapiência em torno da descoberta que é o ensino artístico, um caminho seguramente a escolher no dia a dia pelas nossas escolas, por muitos anos, há um imperioso acto de justiça a fazer, precisamente neste momento. Trata-se de prestar uma homenagem muito sentida a todos os nossos colaboradores docentes e não docentes e a todos os responsáveis, técnicos ou não. Trata-se dum agradecimento sentido. A relativa tranquilidade com que hoje encaramos o futuro escolar deve-se ao estoicismo de todos em suportarem compreensivos o que foi o pior período do incumprimento por parte do Estado, repercutido no calendário dos seus vencimentos. Em nada os alunos foram prejudicados.
Deve-se ainda a uma boa gestão do produto escolar, que registou nestes anos um acervo enormíssimo de realizações artísticas para alunos e familiares, como nenhuma outra escola no país. Daí a chamada de atenção às famílias de todos os alunos, aproveitem bem essa oferta de franca qualidade em concertos e espectáculos promovidos pela casa, a pensar nos vossos filhos. Para muitos é um apelo à paciência, de esperarem, de saírem de casa a horas em que os média proporcionam outro lazer porventura atractivo, ou por dessoutros motivos. Um apelo que faço não porque essa oferta custe caro. Obviamente que custa caro. Apelo-vos assim porque tal conjunto de realizações será importantíssimo no futuro de todos os actuais alunos, no dos vossos filhos, espíritos seguramente despertos por este esforço, pelo papel cientificamente provado aí atribuído à arte, e bem mais capazes de compreenderem e tornearem a adversidade no devir.
Pois bem, em situação de incumprimento, também o Estado não poderá de ora em diante ser tão incisivo para os fautores do ensino privado como nem tampouco o é para si próprio. Sem abalar o estatuto de acesso democrático ao ensino, terá forçosamente de permitir às escolas contratualizadas fórmulas de equilíbrio financeiro assertivas.
No dia de hoje, ainda sob a radiosa protecção de Santa Cecília, mátria protectora dos artífices da música, desejo-lhes, pessoal e institucionalmente, as maiores felicidades. A cada um de vós o bem haja.
Henrique Pinto
24 de Novembro de 2012
(Abertura Solene do Ano Lectivo no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes)
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

DAR VALOR AOS VALORES

Os tempos mudam e o espírito crítico também. Na política toda a gente diz que «não pode ser assim ou assado» ou «não concordo», por isto ou por aquilo. Mas raramente se apresentam soluções credíveis para ultrapassar dificuldades. A razão mor do êxito da instituição OLCA é porque encontramos soluções para os problemas e nada fica para trás.
O Dr. Moreira de Figueiredo, de memória muito querida para mim e muitos mais, suou as estopinhas para manter o Coro, e sem profissionalismos, nos anos 60 e 70. Chegou a cantar no Coro um grupo de presidiários! Desde que contacto com o Orfeão de Leiria (coro) já lhe conheci vários períodos muito difíceis. E resolvi bem todos aqueles com que lidei. Primeiro, esteve fechado, tal como já acontecera nos anos cinquenta (claro que há quem bata o pé a dizer o contrário). Depois, o
maestro, impaciente, já não suportava os coralistas, quase todos acima dos sessenta e muitos. Eu e o José Neto, já falecido, criámos então o coro misto, com a aquiescência do maestro, mantendo-se a tradição do coro masculino, ainda que mais reduzido. Depois, ainda o mesmo maestro, cansou-se do Coro (para depois querer voltar como já fizera no passado) e tivemos de contratar um maestro profissional. Noutra circunstância o maestro já profissional despediu 17 coralistas mais antigos, para refrescar o Coro, sem que a direcção soubesse, e caíram-nos todos em cima. Noutra circunstância o maestro insistia em fazer 6 ensaios por semana durante 6 meses consecutivos para poder participar no Festival. Um absurdo, não haveria coralista que resistisse a tal. Dada a sua irredutibilidade tivemos de prescindir da sua colaboração. Noutra altura tivemos de contratar uma pessoa com menos habilitações embora de excelente trato, porque o regente anterior quisera mudar-se para a sua terra, e porque o dinheiro estava difícil de chegar a horas. O Coro transformou-se então num produto La Féria de segunda, sem qualidade. Houve que mudar, mesmo se com sacrifício. Agora, tal como eu vinha alertando há pelo menos cinco anos, o Coro está longe de ser auto-sustentável (ao contrário de todas as outras práticas na casa) e nem há qualquer fonte externa para o apoiar. Sempre
foi a Escola ou o Festival de Música ou mesmo algum subsídio por que lutámos a permitirem pagar as despesas do Coro. Houve quem, sendo supostamente responsável, sempre contrariasse uma posição mais colaborante do Coro para a sua sustentabilidade. Agora é tudo muito difícil. Por outro lado, contrariamente ao plasmado nos Estatutos, algumas pessoas quiseram transformar o Coro num centro de discussão permanente, de indisciplina, como se estivéssemos na Lisnave, afrontando-se mesmo a direcção. O que inviabilizou qualquer conversa serena mais atempada no sentido de o Coro, duma forma ou doutra, ir tratando ele mesmo de ser mais sustentável. Como já acontece com muitos Coros que ora sobrevivem à crise com menos dificuldades. Ora, o Coro não é local indicado para estas situações e muito menos para indisciplina. A instituição tem os seus órgãos próprios de discussão para isso (mas nunca de afronta), nomeadamente a Assembleia Geral. As reuniões do Coro devem dizer respeito aos aspectos artísticos e à sua organização e convívio. Recordo que este mesmo conservadorismo de pacotilha logrou fazer soçobrar algumas instituições prestigiadas.
A direcção, no pleno uso das suas competências, instituiu agora um contributo de 10 Euros/mês por coralista, como fora dito em Assembleia Geral e com informação ao Coro em tempo oportuno, admitindo-se que a pessoas com dificuldades maiores, a exemplo dos professores das Escolas, pudesse ser aberto um estatuto de excepção. E está a envidar esforços no sentido de tornar mais profissionais as vendas dos espectáculos e a promover a interacção institucional. Esta interacção é transversal, sendo suposto poder melhorar todos os sectores da casa. Dificilmente se conseguirá assim pagar mais que um terço das despesas do Coro nos tempos mais próximos. Mas minora-se o sacrifício e abrem-se novas portas. E assim o Coro não acaba, ao contrário do que está a acontecer pelo país fora. Manter-se-á por muitos anos.
Obviamente, algumas pessoas saíram do Coro no último mês, quase todas dizendo não se tratar dos 10 Euros mas por não gostarem da postura do maestro. Estão no seu pleno direito. Todavia, como explicámos reiteradamente, o pagamento é indispensável em absoluto para que o Coro se mantenha (mesmo que este contributo seja um regime temporário). E o maestro, constatámo-lo, é pessoa respeitada há muitos anos em todos os locais por onde passou e passa. Trata a todos por igual, o que é muito bom e poucos têm feito, sobretudo quando querem ter uma claque de apoio. E contratos são contratos! Falámos com ele, foi sensível a alguns aspectos referidos pelas pessoas, e combinámos que seria melhor ter uma aproximação mais tolerante em relação aos coralistas. E tudo está a correr muitíssimo bem a esse respeito.
Não houve oportunidade para se ter uma palavra com cada um destes coralistas. Venho hoje, por isso, dizer-lhes, particularmente àqueles que sempre tiveram uma postura muito saudável e um carinho especial quanto à instituição, e àqueles que dão valor aos valores e à preservação honrada das memórias, que, pela sua não presença e participação, estão a fazer muita falta à qualidade e à sociabilidade do Coro. O Coro pode, mercê do seu peso artístico, dar peso, pela sinergia, à própria instituição como um todo. Daí todo o esforço (muito grande!) que tem sido feito nos últimos 30 anos e até hoje no sentido das digressões, da organização de concertos Coro e Orquestra ou da participação no Festival de Música. A atenção para com o Coro nunca esmoreceu. Pode-se confundir «esmorecer», como já vi escrito, com intolerância à indisciplina. Mas quem o fizer está errado! Todos os que prezam a continuidade da cultura e dos seus instrumentos, com honra e perseverança, lhes ficarão gratos pelo vosso regresso. Seguramente que todos se sentirão felizes e com maior auto-estima, se, com o vosso contributo, se puder vencer a crise da cultura no país (não criada por nós) e dizer a quem de direito «a cultura sobrevive porque fazemos muito por isso».
Henrique Pinto
Novembro 2012