quarta-feira, 17 de outubro de 2012

POLÍCIAS, SUICÍDIO E TELEVISÕES

A dada altura foi possível estabelecer um acordo entre as televisões no sentido de não enfatizarem a divulgação de suicídios. Como é conhecido o suicídio é socialmente contagioso, tem tendência natural a reproduzir-se. Cito um exemplo entre milhares. Há anos o filho mais novo de Agnelli conduziu o seu carro, alta noite, até meio da ponte de saída leste de Turim, telefonou ao pai a dizer-lhe quanto o amava, fechou o veículo e atirou-se ao rio. Oito dias depois um jovem bem conhecido dos portugueses, num mimetismo praticamente ao detalhe deste episódio de Itália, saltou tragicamente da Ponte 25 de Abril. À primeira estação televisiva a furar o acordo caía-lhe a infelicidade em casa.
Talvez que alguém, já não se reportando às televisões mas outrossim às polícias, devesse dialogar com os responsáveis destas corporações a lembrar-lhes não ser assim tão difícil controlar motins de qualquer espécie. As polícias, por norma, não o fazem cabalmente. O fenómeno tem raízes longe no tempo. E os repórteres de imagem, aqui talvez muito bem, é um espectáculo como as touradas, tem seguidores, reproduzem cenas de arrepiar, jovens agredidos a torto e a direito, outros tantos puxados pelos cabelos… Bem sei, tal ocorre por todo o mundo. Bem sei ainda, no ajuntamento mais pacífico há sempre um pequeno núcleo de desordeiros, às vezes mesmo criminosos! Todavia, será a exuberância do costume uma mera uma demonstração de poder? Tratar-se-á de suposta intenção dissuasora? Não, não creio, julgo ser apenas o resultado da mentalidade e do modelo de treino, guerreiro, ministrado a estes corpos.
Mesmo há muito pouco tempo as polícias vigiavam os automobilistas infractores escondendo-se atrás dum pinheiro ou numa curva sinuosa. Os inspectores disto ou daquilo apareciam de surpresa nos locais a controlar. Agora, sabida a absoluta ineficácia desta actuação não pedagógica e cobarde, já se informa sobre a localização de radares ou o dia das visitas. Quem sabe, talvez os responsáveis policiais passem a ter cuidado nas manifestações cívicas semelhante ao tido com as claques de futebol.
17 de Outubro 2012
Henrique Pinto

terça-feira, 16 de outubro de 2012

CONTROLAR POBRES EM RECINTO FECHADO

São conhecidos relatos imensos dando-nos conta de dilemas perturbantes. Seja o de quem atravessa um atoleiro enorme ou o de mareante sofrido em mar agigantado. Será melhor prosseguir na dor bruxuleante, até ao fim, a passar pelo sofrimento conhecido do voltar atrás? Muitos cidadãos como eu arredondarão o gume da ira perante tal alternativa quando aplicada à política portuguesa. Havia formas diferentes, escolheram esta. Quem o fez deverá ser incomodado pelo destino improfícuo escolhido. Agora, talvez nos reste a indignação manifesta para se evitarem os extremos por advir, frutos da acção de quem quis aproveitar o mal para sobre ele erigir um regime de capitalismo selvagem.
Quando Victor Gaspar vem dizer, «o meu propósito é devolver ao país o que gastou na minha educação, que foi muito cara», está demasiado longe de eu lhe reconhecer um altruísmo bendito. Comparando-me consigo, senhor ministro, eu próprio como muitos outros portugueses, em devido tempo, estudámos muito mais em relação a si e continuamos a fazê-lo. Por mim, tenho pago os meus impostos num espaço temporal superior ao seu, para ser possível a outros cidadãos fazerem igualmente os seus estudos. O papel eminentemente assistencialista na educação e na saúde (o contrário de Estado social em todos os cambiantes, onde tais prerrogativas são um direito a conferir deveres), por si atribuído ao Estado, não regulador e sem outros atributos, é uma das características da visão neoliberal da sociedade a embebê-lo, e, exactamente aquela que enforma algumas das estruturas credoras do país, impulsionadoras do, porventura, pior dos caminhos a escolher. Temos assim a agradecer-lhe esta declaração. Embora eu duvide seja suficiente para convencer alguns dos defensores inflexíveis do carácter não ideológico da austeridade opressora.
 Entretanto, continua na penumbra, sem ser explicada, uma dolorosa sucessão de incongruências. Pelas minhas contas o actual orçamento de Estado é muito mais gravoso em taxação por relação ao regime de subida da TSU anteriormente apontado, e muito mais ferino por oposição ao sequestro de dois subsídios por ano nos trabalhadores do Estado e pensionistas. Pouco me dirão os economistas de serviço a dizerem o contrário. Então qual a razão para ter dito seguir esta opção por respeito para com as posições do tribunal constitucionalista quanto aos subsídios? O seu discurso terá em vista sensibilizar indigentes mentais ou é a derradeira salvaguarda da teoria sem glória dum acossado? Dizem-nos ser muito respeitado lá fora. Dado o dilema do atoleiro talvez seja melhor deixarmo-nos convencer. Mas as televisões insistem, diariamente, a mostrá-lo batendo nas costas dos colegas europeus para rogar um abraço. E esta imagem de indisfarçável solidão soma-se à angústia da descrença no sucesso da sua política.
Curiosamente, também o senhor cardeal patriarca de Lisboa veio deixar entrevista a exorcizar as manifestações de rua como solução para crises, dizendo-se crente nos bons resultados da política económica vigente. Há manifestações e manifestações, a própria igreja as usou com particular eficácia nos últimos quarenta anos. Todavia, vindas de um intelectual brilhante da igreja portuguesa, mas longe da envergadura cívica de D. Manuel Martins, tais declarações chocam-me ainda mais que as do senhor
ministro das finanças. Quase me pareceu estar receando perder algum do seu espaço! Os pobres controlar-se-ão melhor em recinto fechado!
17 de Outubro de 2012
Henrique Pinto
FOTOS: Henrique Pinto com senhoras amigas em conferência na FNAC; Victor Gaspar; Milton Friedman; D. António Policarpo; Pôr do Sol na Vieira de Leiria
 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A HISTÓRIA FABULOSA DO HOTEL PALÁCIO ESTORIL E A ESPIONAGEM INTERNACIONAL

Fascinam-me as histórias sobre a pirataria nos Açores (s. 16 a 18) ou a espionagem no Estoril. Daí este meu escrito baseado em mil leituras.
O Hotel Palácio, no Estoril, é um dos grandes hotéis europeus, que desde 1930 deslumbra sucessivas gerações vindas de todo o mundo possidente. O seu desenvolvimento cruza-se com a história da Europa e do Mundo. No século XXI, o Palácio mantém-se grande, moderno, integralmente renovado e actualizado. E com a particularidade de, apesar da grandiosidade, ser acolhedor, um hotel «cosy», onde se podem desfrutar as magníficas vistas sobre o Estoril e a Baía de Cascais.
O Hotel Palácio de hoje mantém muitas das características dos anos trinta. A fachada integralmente branca e os belíssimos jardins, elementos aliados à elegante decoração clássica, actualizada de molde a perpetuar a matriz de intemporalidade, luxo e sofisticação, inspiram quantos nele entram.
Daí a atracção muito selecta que lhe enriquece o currículo. Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à neutralidade de Portugal, algumas famílias reais exilaram-se no Estoril, tornando-se este conhecido como a «Costa dos Reis». O Palácio foi casa de eleição para a estadia de inúmeros membros da realeza europeia e, ao mesmo tempo, frequentado por espiões britânicos e alemães, que muitas vezes se chocavam no seu bar.
Muitas das histórias de intriga e espionagem ali vividas inspiraram famosos romancistas e cineastas. Em 1969 o Hotel foi mesmo cenário de um dos filmes de James Bond, «Ao Serviço de Sua Majestade», porventura com o pior dos protagonistas de sempre, George Lazemby, mas com o imenso charme de Diana Rigg e Telly Savalas.
O Palácio foi segunda casa das famílias reais espanhola, italiana, francesa, búlgara e romena e continua ainda hoje a ser o local de eleição dos seus descendentes. Em sua homenagem foi criada em 2011 a Galeria Real, onde se podem apreciar instantâneos de grandes personalidades da realeza que passaram pelo hotel.
De braço dado com o encanto de Cascais e Estoril o Palácio acolhe chefes de Estado, imperadores, reis e príncipes, a nobreza europeia, os grandes artistas do mundo, escritores, campeões do desporto, realizadores de cinema, actores e muitos políticos notáveis.
Se nos reportarmos ao período 1939-45 e tendo em conta as possibilidades de Portugal advindas da sua situação geográfica, o país funcionava como uma placa giratória económica, humana e até de informações. Na capital imperavam as mais variadas línguas (desde francês, inglês, russo, italiano, jugoslavo, alemão) e passeavam-se pessoas de muitos países, como espiões duplos ou não. Os turistas, à época, eram uma pequeníssima elite. Só haveria alguns espanhóis e convidados pelo governo português.
No entanto, em Portugal, estes anos da II Guerra Mundial, e já antes, desde 1933, foram de turismo forçado para muitos dos perseguidos e fugidos à guerra e ao nacional-socialismo. Lembrarei sempre a minha amiga Mary, hospedada na Casa da Laura, em Cascais, cujo filho morrera no campo de concentração de Auschewitz.
Na Costa Estoril-Cascais, além dos refugiados ricos, diplomatas e estrangeiros de passagem, permaneceram também muitos agentes secretos dos dois campos beligerantes, que em regra se encobriam sob a capa de adidos diplomáticos. Foi isso que relatou o diplomata e escritor jugoslavo Miloch Tsrhanski, fugido de Roma onde fora adido de imprensa do seu país, antes de este ser invadido pelas forças do Eixo, em 1941, que esteve alojado no Hotel da Inglaterra (estilo arte nova, atrás do Hotel Palácio), no Estoril.
É sedutor este assunto da espionagem, mormente no Estoril. É dessa época a tentativa de rapto do Duque de Windsor, que também peregrinou por Portugal depois de abdicar do trono inglês, pelo espião alemão Schellenberg. A abdicação do antigo rei britânico Eduardo VII (dá o nome a um dos mais importantes parques de Lisboa), em 11 de Dezembro de 1936, está vulgarizada como a materialização do propósito de casar com a americana divorciada Wallis Simpson, que a situação de monarca lhe interditava. Mas o antigo monarca era um germanófilo convicto, e, por isso, impopular.
O agente secreto inglês Ian (Lancaster) Fleming, em Maio de 1941, como muitos outros escritores e cineastas, também se inspirou nesta atmosfera romanesca, quando trabalhava para o Naval Intelligence Department britânico, para escrever «Casino Royale», que viria a originar um dos primeiros filmes da saga James Bond, o 007.
É conhecido o poiso de muitos dos agentes secretos a operarem então em Portugal. Em Outubro de 1940, alojou-se no Palácio o iraniano Nubar Gulbenkian, que colaborou com o MI 6. De 19 a 24 desse mesmo mês aí se instalou também Isaiah Berlin, então a trabalhar no British Information Service de Nova Iorque. Curiosamente, a sua amiga Virginia Wolf caracterizou-o como um «swarthy portuguese jew». «Kim» Philby e o futuro escritor Graham Greene, autor de inúmeros livros de espionagem, são outros hóspedes ilustres.
Thomas Malcolm Muggeridge, mais um dos elementos do Intelligence Service inglês, alojou-se na Pensão Royal do Estoril, em Maio de 1942, enquanto o espião jugoslavo Bocko Christitch se instalou no Grande Hotel do Monte Estoril, em Agosto de 1941. Os espiões estrangeiros ficavam hospedados, sobretudo, nos Hotéis Tivoli, Vitória, Suíço-Atlântico, Duas Nações e Avenida Palace, em Lisboa, e no Hotel Atlântico, Grande Hotel do Monte Estoril e Hotel do Parque, na Costa do Estoril-Cascais (os alemães). Os britânicos alojavam-se nos Hotéis Avis e Metrópole, em Lisboa, e, na Linha do Estoril, no Grande Hotel da Itália, no Hotel Palácio e noutros. Entretanto um amigo de Dusko Popov, desde os tempos de juventude, o oficial alemão Johann Jebsen, que trabalhava em Lisboa para os serviços secretos do Alto Comando Alemão (Abwehr), oferecera-se, desde o verão de 1943, para colaborar com a rede britânica do espião duplo jugoslavo Bocko. No final de Janeiro de 1944, Dusko Popov transmitiu a Londres, um extenso relatório de Jebsen, revelando nomes de membros da Abwehr, entre os quais figurava «Garbo». Preocupados com o facto de Jebsen ficar a saber que «Garbo» era controlado pelo MI5 e, assim, apurar que as operações em curso poderiam ser uma fraude, os ingleses tentaram obter a sua expulsão de Portugal para o isolarem da Abwehr. Em 28 de Março de 1944, Jebsen informou os serviços secretos ingleses de que a Abwehr tinha começado a suspeitar de certo espião. Afirmou que ele próprio tinha conseguido desviar as atenções dos alemães, acrescentando ir mesmo ser condecorado por estes. No dia seguinte, ao deslocar-se à Delegação alemã em Lisboa para receber a referida condecoração, foi espancado, violentamente interrogado e, em 1 de Abril, atirado manietado para um automóvel com matrícula diplomática alemã, que atravessou a fronteira portuguesa. Entregue à Gestapo, foi executado no campo de concentração de Orianenburg, em Abril de 1945.
No Hotel Palácio do Estoril, também estiveram hospedados os actores Zsa Zsa Gabor (conheci-a pessoalmente em 1966 quando ela rodou «Hammerhead» em Santa Marta, Cascais), fugida da Hungria com a irmã Eva em 1944, e Leslie Howard, que colaborou no esforço de guerra dos aliados. Leslie partiu de Portugal, onde assistira à exibição do seu penúltimo filme, «Spitfire, the first of the few», em Junho de 1943, para a que seria sua última viagem, num avião da BOAC abatido por caças alemães no golfo de Biscaia. O actor Leslie Howard trabalhava para a espionagem britânica. Portanto, poderia ser ele o alvo dos alemães, embora outro dos passageiros desse avião fosse Tyrell Shervington, director da empresa Shell em Lisboa desde 1922 e igualmente espião do Secret Intelligence Service (SIS), em Lisboa.
Portugal, de facto, não participou na guerra. Mas a guerra chegou cá sob diversas formas. É a situação geográfica, a aliança luso-britânica e a simpatia não expressa do governo pelo regime nazi, que vão determinar os factos da 2ª Guerra Mundial em Portugal.
O país manteve relações económicas com países beligerantes que se opunham entre si. Embora os britânicos tenham decretado um bloqueio a Portugal e Espanha para impedirem os contactos com a Alemanha, Salazar, ao abrigo da neutralidade que adoptou, pôde sustentar relações comerciais com a Alemanha de Hitler (por sinal um natural austríaco), para lhe fazer chegar roupas de Inverno, conservas e sobretudo o volfrâmio, necessário para o armamento. Estes negócios, muitos deles clandestinos, quer com os Aliados, quer com a Alemanha, possibilitaram o enriquecimento de alguns portugueses. Mau grado tais negociatas a situação económico-financeira e social degradou-se, com escassez e racionamento de géneros, fome, inflação a disparar, desemprego, baixa de salários, revoltas sociais e corrupção. A eventualidade duma invasão germânica ou espanhola obrigou a que se ensaiassem exercícios militares de defesa em Lisboa e pelo país fora.
A Austrália e o Japão invadem Timor, tropas portuguesas vão para os Açores, em protecção do arquipélago, a base aérea açoriana das Lages é negociada, inicialmente com os ingleses, para ficar depois, e até hoje, dos americanos. O espaço aéreo português é violado, houve combates junto da costa de tal modo que caíram aviões em Portugal e há soldados alemães e ingleses sepultados em território português. Chegou a adiantar-se a hipótese de o governo português se fixar em Angola ou Moçambique (à semelhança da ida da corte portuguesa para o Brasil, aquando das Invasões Francesas).
É todo este caldo histórico que vem conferir a esta zona balnear Estoril-Cascais o clima propício ao desenvolvimento da espionagem internacional em 1939-1945.
10 de Outubro 2012
Henrique Pinto
FOTOS: Costa Cascais-Estoril (vista do Clube Naval de Cascais); Hotel Palácio do Estoril; o agente 007 interpretado por George Lazemby em «Casino Royal»; Eduardo e Wallis Simpson com o ditador nazi; Zsa Zsa Gabor; Graham Green; Hotel Palácio do Estoril; Termas do Estoril (Spa Banyan Tree) do Hotel Palácio (com o Hotel de Inglaterra à direita); o Campo de Concentração de Aucshewitz; Henrique Pinto; Hotel de Inglaterra, no Estoril; Reis de Espanha Juan Carlos e Sofia; Ian Fleming; Costa Cascais-Estoril vista da Praia da Conceição; Leslie Howard; Kim Philby; A Casa da Laura (quarta a partir da esquerda)



 



terça-feira, 9 de outubro de 2012

AS PESSOAS PODEM CONTAR MAIS QUE A FORÇA DOS PARTIDOS

O efeito Fernando Nobre, independentemente do seu desfecho infeliz, foi importante e pedagógico. Mas passou à história.
Sendo seu mandatário, com o apoio de algumas pessoas magníficas, conseguimos cem mil votos no Distrito de Leiria. É obra! Se o candidato era quase um desconhecido e chocava com a onda avassaladora de mecanismos de defesa do sistema vigente, então é porque a credibilidade das pessoas do terreno contou sobremaneira. Ora acho que isso é um factor de extrema importância a ter em conta nos movimentos de cidadãos.
Parece inevitável que as efusões de cidadania, umas coladas a partidos (as alternativas de Alegre e Bloco que correm atrás do Syrisa grego), outras mais soltas, abertas a todas as tendências, mormente as do actual arco da governação e dos cidadãos pensantes e descomprometidos, desemboquem em movimentos organizados mais ou menos participativos. Creio de particular importância que todos ou alguns se apresentem às próximas eleições autárquicas, tanto directamente, como apoiando listas de independentes ou enquadrando plataformas de entendimento político.
Todavia, faz pouco sentido se estes movimentos forem conglomerados de partidos ou de facções de partidos políticos.
É imperiosa uma regeneração da democracia em Portugal, aproximando os cidadãos dos seus representantes eleitos. A natureza do regime político nacional deve ser reequacionada. Sem complexos ou sentimentos primários deve ser ponderada a natureza e substância do nosso regime: o actual regime Semipresidencialista parece esvaziado, tornando o Presidente da República (único cargo de eleição uninominal da República) numa figura desprovida de poder político concreto, com excepção da capacidade de dissolução da Assembleia da República. A situação presente torna o Governo e o(s) Partido(s) Político(s) que detenha(m) a Maioria parlamentar numa espécie de «ditadura da maioria» não saudável e a promover excessos. A recondução de mais poderes para o Presidente da República parece ser assim essencial para a melhoria da nossa democracia.
Os mecanismos democráticos envelheceram sem que as instituições se preocupassem com a sua regeneração. A introdução de mecanismos democráticos inovadores, como as «Listas Abertas» (em que os eleitores influenciam a ordenação das listas de deputados, por oposição às «listas fechadas» que actualmente são utilizadas pelos partidos em Portugal) ou a eleição directa de certos responsáveis administrativos do Estado nos vários ramos de governação, é um desiderato premente e factível.
A limitação de mandatos e o reforço dos mecanismos de incompatibilidades entre o exercício de cargos públicos e funções de Estado, especialmente entre os deputados à Assembleia da República, é um imperativo que entra pelos olhos dentro. Como a implementação de medidas legislativas e constitucionais que aumentem a transparência eleitoral e limitem a apresentação de coligações pré-eleitorais que ocultem os nomes, siglas ou designações dos partidos políticos que as compõem.
O financiamento mais transparente dos partidos políticos é tão importante como não perder tempo com a petulância sonolenta e ineficaz de Victor Gaspar. O actual quadro representativo no Parlamento espelha mais o jogo das negociatas de interesses e do tráfico de influências no interior dos aparelhos partidários que a verdadeira vontade do povo. De outra forma, como se compreende o facto de nenhum deputado se ter insurgido e ameaçado romper com o silêncio e a cumplicidade reinantes aquando das ruinosas negociações das Parcerias Público-Privadas? Qual foi o papel de influências cruzadas entre interesses particulares e do Estado nesta cumplicidade? Mais importante que simplesmente reduzir deputados (com o mesmo efeito da extinção dos governadores civis, uma consigna espantosa e eficaz, não foi!?) é criar duas câmaras (Senado ou Câmara Alta), e rever os mecanismos que asseguram a representação parlamentar de partidos de pequena dimensão (abolindo o Método de Hondt).
O regime tem de buscar uma aproximação entre Eleito e Eleitor sob todas as formas, devendo ser avaliadas formas corretas e proporcionais que instaurem círculos uninominais, de molde a possibilitarem ao Eleitor a fácil identificação do «seu» Deputado e a responsabilização do mesmo perante ele.
9 de Outubro de 2012
Henrique Pinto
 

sábado, 6 de outubro de 2012

EM LEIRIA HOUVE MÚSICA POR TODA A CIDADE

Nos muitos anos anteriores passei dias e dias em Zurique no mês de Setembro por via das minhas obrigações. Fim de semana sem música de todo o género, mas boa, e animação a mais diversa, tudo para todas as idades, em parte da cidade, não seria bem um findar de semana.
Pois bem, As noites brancas de Loulé, uma réplica do acima dito, levaram-me, como responsável do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes a apoiar – com outras entidades, obviamente, e então com a reticência da Câmara Municipal -, a ideia do Jornal de Leiria (e o Dr. Nazário, seu director empreendedor) a fazer-se exactamente em Leiria. A iniciativa pegou. Milhares de pessoas estiveram hoje em Leiria, divertidíssimos, com muita música e dança.
 
Muitas foram as organizações colaboradoras. Dos 700 músicos o OLCA deu o seu contributo com metade. Felicito vivamente organizadores e participantes. Se as artes plásticas, o teatro e o desporto puderem replicar a iniciativa, a cultura terá outra visibilidade, deixa de ser algo de que só se fala porque alguém corta subsídios.
06 de Outubro de 2012
Henrique Pinto
 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

GUARDIOLA E O FRANQUISMO REINVENTADO

Sempre que vejo jogar a equipa de futebol do Barcelona de Guardiola e sucedâneos, contra os conjuntos do Real Madrid, do GETAFE, do Benfica ou de qualquer outro clube, sinto uma profunda irritação. Os jogadores usam o logo do UNICEF nas camisolas? Sim, muito bem, é de louvar. São, maioritariamente, muito bons em técnica e táctica, com cláusulas de rescisão na ordem dos 200 milhões de Euros? É verdade, o Barça tem uns génios da lâmpada fenomenais. Ganham quase tudo por levarem o adversário à exaustão física e psíquica. Quando por acaso perdem a bola fazem uma marcação em cima de cada jogador, violenta até! Ou simulam, simulam… Então porque não gosto, perguntarão alguns? Em verdade, nalgumas modalidades desportivas de impacto, aquele rendilhado no meio campo adversário seria considerado anti-jogo. É um sucedâneo de rodriguinhos que, lá no fundo, serve sobretudo para humilhar o contentor. É um jogo de humilhação que esquece por completo os princípios do desporto porventura ainda existentes. Que prazer se frui, por contraste, no futebol à Mourinho ou Ferguson?! Daí que as invenções tauromáquicas de Guardiola e Vilanova, mesmo se de alta eficácia, por desrespeitadoras da dignidade de quem pugna no mesmo ofício, autoritárias e manhosas, são como se recriassem «os matadores» de touros para gáudio popular, tal qual com os escravos nos coliseus da Roma antiga, exactamente onde são proibidos, ou personificassem o franquismo na terra onde ele mais foi contestado.
Leiria, 04 de Outubro de 2012
Henrique Pinto
 

OLCA NOVAMENTE EM MEETING PARA O FUTURO


APELO À INTERACÇÃO E CRIATIVIDADE
É por demais importante introduzir carácter orgânico às realizações artísticas do OLCA. Os tempos e o bom senso organizativo impõem-no.
1 Havendo uma multiplicidade de agentes artisticamente interventivos no OLCA, é lógico que deva haver mais racionalidade de meios e, também, que as produções artísticas sejam, quer devidamente programadas, quer o reflexo de uma interacção possível entre os agentes.
2 Esta interacção pode levar tanto à participação de vários agentes do OLCA na mesma produção, como permitir uma criatividade mais franca a um menor custo.
3 Havendo um processo de ajustamento em curso quanto ao Coro do Orfeão tendente a torná-lo parcialmente autosustentável, situação imprescindível nos dias de hoje, é necessário que o mesmo se Articule mais com as demais estruturas da casa.
Neste sentido, estando previsto nos Estatutos do OLCA, realizou-se em 3 de Outubro a reunião do Conselho de Directores Artísticos e Pedagógicos em conjunto com os membros da direcção responsável por cada um desses sectores. Presidiram à reunião Henrique Pinto e Carlos Vitorino.
Tem-se em vista a que já no ano em curso (regulamo-nos pelo ano lectivo) possa ser implementada, tão célebre quanto possível, uma política cultural do OLCA que tenha em conta os pontos antes aduzidos. 
Essencialmente, foram tocados os seguintes pontos: Agentes Artísticos e racionalização de meios; Interacção e Criatividade; Comunicação Interna e Externa. 
MATERIALIZAR A INTERACTIVIDADE E A CRIATIVIDADE NO OLCA
1 O OLCA é uma Associação e como tal requer uma atenção muito especial de todos os seus agentes, diferente e mais intensa.
O OLCA é afinal uma pequena empresa mas com uma imensidão de quadros intermédios como não é frequente nas empresas. O que lhe acarreta: mais dificuldades na comunicação interna e externa; mais dificuldade em falarmos todos a uma só voz – algo a não perder de vista nos dias de hoje; maior dificuldade na coordenação das actividades tendentes a materializar um projecto (daí o fraccionamento das realizações) num espectro amplo de produção; maior dificuldade para interiorizarmos objectivos institucionais.
2 No último ano e meio a Direcção promove três Reuniões de Quadros com propósitos diversos mas continuados:
2.1 - Em Julho 2011 importava pôr toda a gente a trabalhar por objectivos. Importava fazer um brainstorming sobre Planeamento. O resultado do exercício desse dia foi fraco. O Relatório é uma imensidão de banalidades corriqueiras na casa, mas desordenadas, que os participantes apresentavam como novidades. Conclusão: desconhecimento do que se faz.
2.2 - Em Março 2012 importava raciocinar em termos do inevitável downsizing a fazer: menos alunos implicava menos professores, muitas actividades, dispersas e caras, implicavam moderação e planeamento. A reacção dos responsáveis técnicos foi o sentirem-se acossados e em vez de soluções vá de desancar em cima da direcção, uma atitude de mau profissionalismo, descabida.
2.3 - Hoje interessa-nos começar a mudar o paradigma, o todo não é igual à soma das partes, com o que temos, a criatividade e a boa vontade, podemos fazer muito mais. Não interessa fugir ao tema.
3 O importante é o começar a trabalhar numa base diferente:
3.1- Há sessões que não podem deixar de se fazer (pedagógicas, contratos programa, respostas à comunidade…);
3.2 - Há que criar produtos que apelem à participação de 2 ou mais protagonistas (singulares e/ou colectivos);
3.3 - Estes produtos podem e devem entrar no mercado;
3.4 - Há que ser criativo e inovador, obras escolhidas ou encomendadas para a interacção. «Lixo com ritmo» e «Concerto do Vidrão» foram das poucas produções recentes do género;
3.5 - Estes produtos devem obedecer a uma certa regularidade;
3.6 - Há que perceber o modo de se produzir melhor informação interna e externa. Temos todos os recursos para isso mas usamo-los pouco:
4. Participantes convidados: Arq. Carlos Vitorino, diretor (vice-presidente); Dr. Henrique Gariso, Vice-presidenter (escolas); Dr. Pinto da Gama, diretor (financeiro); Dra. Adelaide Pinho, vice-presidente (Conservatório Sénior);Dra. Dora Subtil, diretora (Coro OLCA);Professor Joaquim Branco, subdiretor pedagógico da EMOL; Professora Sónia Leitão, diretora pedagógica da EMOL; Professora Ana Manzoni, diretora pedagógica da EDOL; Professora Catarina Moreira, professora da EDOL; Professora Eunice Caetano, coordenadora do Projeto Handdanças; Professor João Baptista Branco, Maestro do Coro do Orfeão de Leiria; Professor Mário Nascimento, Maestro Coro do Conservatório Sénior e Ninfas; Professor João Pedro Fonseca, Maestro da Orquestra de Flautas; Professor Luis Casalinho,
Maestro da Orquestra Sopros de Leiria; Professor Rodrigo Queirós, Maestro das Orquestras Freitas Branco, Sinfónica de Leiria e Paganini; Professor Pedro Rocha, professor da classe de improvisação; Sr. Alberto Antunes, coordenador do Grupo Tradições; Dra. Ana Frazão Rodrigues, Midlandcom; Dra. Maria Joana Reis, Midlandcom; Lucinda Ferreira, secretariado apoio à direção do OLCA. Outras áreas são representadas pela direcção pedagógica.

Leiria, 3 de Outubro de 2012

Henrique Pinto