quarta-feira, 17 de outubro de 2012

POLÍCIAS, SUICÍDIO E TELEVISÕES

A dada altura foi possível estabelecer um acordo entre as televisões no sentido de não enfatizarem a divulgação de suicídios. Como é conhecido o suicídio é socialmente contagioso, tem tendência natural a reproduzir-se. Cito um exemplo entre milhares. Há anos o filho mais novo de Agnelli conduziu o seu carro, alta noite, até meio da ponte de saída leste de Turim, telefonou ao pai a dizer-lhe quanto o amava, fechou o veículo e atirou-se ao rio. Oito dias depois um jovem bem conhecido dos portugueses, num mimetismo praticamente ao detalhe deste episódio de Itália, saltou tragicamente da Ponte 25 de Abril. À primeira estação televisiva a furar o acordo caía-lhe a infelicidade em casa.
Talvez que alguém, já não se reportando às televisões mas outrossim às polícias, devesse dialogar com os responsáveis destas corporações a lembrar-lhes não ser assim tão difícil controlar motins de qualquer espécie. As polícias, por norma, não o fazem cabalmente. O fenómeno tem raízes longe no tempo. E os repórteres de imagem, aqui talvez muito bem, é um espectáculo como as touradas, tem seguidores, reproduzem cenas de arrepiar, jovens agredidos a torto e a direito, outros tantos puxados pelos cabelos… Bem sei, tal ocorre por todo o mundo. Bem sei ainda, no ajuntamento mais pacífico há sempre um pequeno núcleo de desordeiros, às vezes mesmo criminosos! Todavia, será a exuberância do costume uma mera uma demonstração de poder? Tratar-se-á de suposta intenção dissuasora? Não, não creio, julgo ser apenas o resultado da mentalidade e do modelo de treino, guerreiro, ministrado a estes corpos.
Mesmo há muito pouco tempo as polícias vigiavam os automobilistas infractores escondendo-se atrás dum pinheiro ou numa curva sinuosa. Os inspectores disto ou daquilo apareciam de surpresa nos locais a controlar. Agora, sabida a absoluta ineficácia desta actuação não pedagógica e cobarde, já se informa sobre a localização de radares ou o dia das visitas. Quem sabe, talvez os responsáveis policiais passem a ter cuidado nas manifestações cívicas semelhante ao tido com as claques de futebol.
17 de Outubro 2012
Henrique Pinto

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