Todos
sabemos que quando alguém deixa um lugar público, voluntariamente ou não, a
primeira coisa a acontecer-lhe é caírem-lhe em cima, aberta ou discretamente, apropriando-se
do seu legado, denegrindo-o, ou mesmo ambas as práticas em simultâneo.
Lembram-se
do filme O Gladiador? Pois bem, a dada altura o lutador negro diz para Maximus,
o general romano feito escravo (Russel Crow): Tu tens o teu bom nome. Ele há-de
querer matar o teu nome antes de te matar a ti.
Digo isto a
propósito de uma historieta que me contaram há dias. Um sucessor não próximo
diz ao antecessor, «então anda para aí a dizer estar tudo bem e nós aqui com
problemas!?». Parece uma narrativa ainda inferior em brio pessoal à de Passos
Coelho. Ninguém o obrigou a assumir o lugar a não ser a sua ambição (embora conste
que o Delfim do Norte lhe tenha dito «ou fazes cair o governo ou há eleições no
partido»). E devia estar cônscio da competência exigida para lidar com as
dificuldades e os tempos.
Fez-me
também recordar também a história atribuída pelo Alfredo Barroso a Carlos Costa,
quando em 2008 este porventura chamou os banqueiros ao seu departamento de
suposta supervisão. Ter-lhes-á dito «sois a parte sã da nossa economia, temos
de nos defender da República». É duro, não é?
Retruquei a
quem me contou aquele episódio, «então e a pessoa não lhe disse pelo menos duas
coisitas, primeiro, que tinha deixado tudo dentro da normalidade, segundo, se o
problema assim está, então é porque andam por aí a dizer o contrário!».
Não terá
dito. E nem se pode dizer estar sempre a tempo de o fazer. Porquanto as pessoas
que assim agem normalmente saltam de lugar para lugar sem deixarem rasto do
feito ou deixado por fazer. Lembram aquele político de quem se dizia ser famoso
em Lisboa por estar sempre no Porto e ser famoso no Porto por estar sempre em
Lisboa. Ou até a recente boutade dos alegados
auto sacrifícios em nome da unidade possível.
Henrique Pinto
Leiria,
Agosto de 2014
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