Aquando do passamento
de Eusébio alguém se lembrou de avocar no seu preito os versos de Camões em Os
Lusíadas: «E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte
libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte».
Qualquer das duas personalidades falecidas nos
últimos dias, e por quem eu nutria grande admiração, quase afeto, Emídio Rangel
e Robin Williams, há muito se tinham liberto desse colete, quase Rio Lethes,
dessa lei que as memórias de hoje podem superar, pela tecnologia, mais
facilmente que no passado.
Rangel era um indivíduo com quem apreciava
conversar. Como muitos dos homens ligados à comunicação social, vindos de
Angola – onde a sociedade era mais aberta antes de Abril de 74 –, foi um
construtor de coisas diferentes e motivadoras e um cultor da fala. Mas terá
sido, seguramente, um desbravador de originalidades (SIC e derivados e TSF são
disso bons exemplos). Robin Williams foi um ator diferente de todos os outros.
Tenho para mim que só alguém muito inteligente e sensível pode assumir
plenamente o estatuto de ator. Ele era-o sobremaneira. A sua incrível
versatilidade na representação e o ar expedito com que construiu personagens
dificílimas, por junto com toda a fragilidade enquanto corpo e alma, vestido
por uma proverbial docilidade, emprestaram ao seu todo uma singularidade
inesquecível.
Um e outro merecem ser muito tempo evocados
(cantados, diria o poeta), como exemplos de vidas.
Henrique
Pinto
Agosto 2014
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