Não se pode
fazer a dicotomia «ver a árvore ou a floresta» com a facilidade vista por aí. E
menos ainda tomar a nuvem por Juno, bem mais frequente.
O líder
atual duma prestigiada agremiação nacional deu-lhe agora para cutucar a honra
dum dos atletas da sua instituição mais notáveis de sempre. O acervo dum
histórico não é apenas o património material, ou mesmo financeiro. Dificuldades
neste campo ou na capacidade operativa quem as não tem ou teve? Só que as
pessoas que fizeram crescer as Obras e que de qualquer modo honraram
sobremaneira as associações ou empresas são sua pertença eterna e inalienável.
Constituem, de fato, o seu mais rico património. Não há circunstância mais
comezinha, ou falta de resultados favoráveis, desportivos, sociais,
financeiros, suscetíveis de justificarem um alardear público ou soto voce de aleivosias contra tal
património feito de pessoas.
O meu bom
amigo Marco Kappenberger, ambientalista notável à escala do planeta, lançou
esta semana uma «Open Letter to you», carta aberta exaustiva e impenitente
contra o centralismo de associações vigorosas, universais. Fez-me lembrar
Chomsky. Em verdade, algum desse centralismo, seja qual for o espetro espacial
de intervenção, é absolutamente necessário em termos de gestão viável. Todavia,
em qualquer tempo (a contrariar a tendência para se ver tudo à luz do presente,
ou pela ótica de quem manda hoje, atitude absolutamente primária), tão grave é
delapidar a honra dos que já engrossam o capital humano histórico, como
esquecer por princípio a autonomia, limitada que seja, e a iniciativa,
atributos de certo modo potenciadores, ou boa parte da energia, do voluntarismo
dos que participam de alma e coração. Daí a plena razão ganha pelo Marco.
Uma e outra
situações são bem mais numerosas que as árvores e nuvens só por si.
Infelizmente.
Leiria, Setembro 2014
Henrique Pinto
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