A Visita Oficial de Governador de Rotary, para mais
antecedida de Seminário sobre o Quadro Social ocorrido há pouco em Leiria, não
passou ao lado deste tema. O Rotary Club da cidade tem um excelente quadro de
sócios e prepara-se para crescer. É essa também a nota dominante para o país e
o mundo. No entanto, tal só poderá ocorrer com sucesso duradouro se se
contornarem os constrangimentos circunstanciais.
Há 110 anos os Rotários são um movimento de profissionais,
de líderes nas suas ocupações, todas se possível, e na sociedade, empenhados em
valorizar as comunidades com patamares comuns, o elevado padrão de ética e o
espírito de Servir. A diversidade do fazer e a rotatividade no «ser isto ou
aquilo» na estrutura do movimento (sobre a qual, dantes Carlos Ravizza, hoje
Marco Kappenberger, defendem estar-se em degenerescência pela consolidação do
centralismo), são quase dogmas a todo o tempo reafirmados. Algumas pessoas de
«boa vontade» defendem ainda, às vezes por pura ingenuidade, «os seus pares só
podem ser ou são pessoas boas, únicas».
Todavia, Rotary como qualquer conclave
de humanos, é um reflexo da sociedade do seu tempo. Por mais cuidadoso que seja
o recrutamento e por melhor que se enfatize a imagem pública, existirão sempre,
naturalmente, as pessoas que melhor interiorizam os princípios em relação a
outras. Há os que mais se envolvem no servir. Há aqueles que têm mais aptidão
para se tornarem líderes. O mal existirá apenas se não se fomentarem a cada
instante as condições para se perpetuar o equilíbrio.
Qualquer Rotário pode
conhecer os seus companheiros pelo mundo. Há em todos os níveis organizativos no
planeta Guias de contatos com fotos e demais elementos de referência. Se ao
olharmos um desses livrinhos ou CDs nos deparamos com as imagens de certos
membros a repetirem-se página a página, aglutinando funções como quem faz
tirocínio para mais altos voos (conheço casos desses na política, nas empresas
que emanaram do Estado, no social, na cultura), fácil se torna ver que algo não
vai bem. Mais que a imodéstia e a mentalidade obsessiva do controlo, é o
princípio da instalação duma doença autoimune difícil de suster. E mesmo
fazendo-se encontros regulares sobre a composição do movimento, este vírus,
qual Ébola, raramente é afrontado.
A degenerescência também contagia. Há uns
quinze anos, a rotatividade no meu clube assentava, desnecessariamente, num
número exíguo de companheiros. Fosse porque eu pus o problema numa reunião,
apontando para a exequibilidade e a premência de não se repetirem os
presidentes, fosse por outras razões, na verdade ano a ano as lideranças têm
sido novas, as ideias são diversas e a chama mantém-se bem fulgente na
diferença. Em termos mundiais, o normal é também acontecer assim. Nos níveis
intermédios entre o local e o global instala-se, paulatinamente, uma certa
oligarquia
anquilosante. Há que procurar nesta área o antídoto para tal síndroma
que entorpece o crescimento saudável. Dificilmente a mobilização emergirá sem o
arejar dum espírito renovado e com fulgor.
Henrique Pinto
Setembro 2014
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