terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ESCREVEDOR DE METÁFORAS


Num destes dias fui ao futebol. Adoro a parafernália dos grandes estádios, a onda das multidões, ululante, entusiasmo e ânsias, coreografia na relva, avidez, o golo. Arrepio-me. A catarse da asneira, cultura do ódio, apelo às faltas, à indisciplina, efeito aditivo semana a semana, é vezes a esmo instilada por dirigentes e imprensa, os supostos especialistas, o gerar audiências.
Ando há meses a querer referir certo jargão «desportivo». Li-o no avião. Era um artigo a três colunas do Público, uma «análise» exaustiva de modelos de jogo dos treinadores de Porto, Sporting e Benfica, acientífica como as do género a julgar-se noutra vertente. A imagem duma fatia de acontecimentos, tal qual a dum melão, autorizava o autor a fazer perfis exaustivos. E a dada altura lá vinha o «futebol vertical», excelente, a marca de água dum protagonista. Acho hilariante. O homem quereria identificar o jogo feito «ao longo do campo», o longitudinal, percebe-se a ideia. Vertical, de baixo para cima, só mesmo se a bola vai em arco para as bancadas ou sobe num balão de assobios. O grave para a língua portuguesa, mesmo se em patamar inferior ao Acordo Ortográfico - algo que às quatro línguas mais faladas em relação à nossa nunca fez falta – é ver essa expressão de má geometria num escrevedor de metáforas redondas, no Expresso, outro jornal de referência, e ouvi-la amiúde aos comentadores das rádios.
Henrique Pinto
Janeiro 2010
FOTO: Arouna Koné, jogador do mónaco

2 comentários:

  1. Caro amigo,
    Um anno 2010 pleno de saude unico carburante que permita a sua velocidade de cruzeiro!, extensivel a esposa e filha.
    Quanto ao OL/CA vou seguindo os eventos e projectos por mail, um abraço a toda a "equipe"

    Cordialement

    Jorge PESSANHA
    (Paris)

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  2. Bom tarde, caríssimo! Valeu a pena viver este dia só para ler a sua simpática mensagem.Muito obrigada. Oxalá o contributo tivesse sido maior, mas mesmo assimtem sido um gosto colaborar. Um abraço amigo, Ana Moderno.

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