domingo, 21 de novembro de 2010

SONHO DUMA TARDE DE OUTONO

A Oração de Sapiência no OLCA
Para as três escolas do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes – de Música, de Dança e Conservatório Sénior – assinala-se hoje perante vós a Abertura Solene do Ano Lectivo. Distingue-nos e emociona-nos a presença de todos vós, aqui. Honra sobremaneira esta instituição a participação das autoridades do concelho e do distrito, e, de forma tão carinhosa, dedicada, a participação do Professor Doutor António Pinho Vargas, fautor da Oração de Sapiência deste momento singular para todos nós. Um Bem-haja bem extenso, pois, por tão soberana aceitação e reconhecimento.
A mudança dos últimos trinta anos
Ao longo dos últimos 64 anos e de uma forma continuada, Leiria e a sua região têm contado com o contributo artístico desta casa e do empenho voluntarista de quantos, amadores e profissionais, por ela têm dado o melhor de si, com gosto no que fazem, por diletantismo, obviamente, mas sempre no propósito de servir o Outro, de preitear a sua comunidade alargada.
E nos trinta anos que passaram até hoje, o Orfeão de Leiria, depois Conservatório de Artes, foi pioneiro na mudança do paradigma artístico a muitos níveis, introduziu todas as vertentes e projectos que hoje se multiplicam por aí – quantos deles sem pagarem autoria ou baixando mesmo ao nível do inverosímil, para cavalgarem a onda da comunicação, sem cessar. Mas a vida é assim.
Sem o espavento do acessório o Orfeão cresceu em estrutura, processo e impacto, sem cedências ao fácil, ao demagógico. Com infraestruturas próprias ou em parceria – a realizada com a empresa Leirisport, gestora do Estádio Municipal de Leiria, de grande alcance no presente e no futuro, tal como a operada com a Paróquia de Leiria -, temos uma elasticidade de oferta notável. Espera-se começar ainda em Dezembro próximo as obras do piso recuado, com recurso ao crédito bancário, de molde a favorecer uma melhoria substantiva na qualidade da oferta, que é já de si qualitativamente alta. E apostamos muito na capacitação do nosso «exército», recursos humanos de bom nível e extrema dedicação.
Atraente para nichos com maior capacidade financeira
Encarando os novos tempos com frontalidade e optimismo fizemos agora o que muitos renegam no alijarem a carga a pretexto da conjuntura difícil – admitir mais pessoal e muito qualificado –, dotando a instituição do há muito desejado, uma ossatura técnica profissional, estratégica, apta a, em consonância com a direcção, amadora, e com as direcções pedagógicas, assaz conhecedoras e especializadas, optimizar-lhe o futuro.
É também com essa frontalidade e optimismo que enfrentamos o voto de continuarmos sendo a maior escola artística do país, mantendo os níveis de exigência pedagógica e artística mais ousados. Mas temos também por imperioso diversificar a oferta em 2011-12 exa novas modalidades artísticas na música e dança e a nichos de procura não influenciados pelas comparticipações financeiras e contratualizações públicas. Tem-se em vista satisfazer, não apenas formas alternativas de aprender e praticar artes, mas também os propósitos dum leque substantivo de famílias que pode pagar e tem exigências diferentes das que até agora o Estado e o comum das Escolas lhes pode proporcionar. É ainda um propósito de minorar a dependência de contratualizações públicas.
O Tio Patinhas
Obviamente que manter a actividade pedagógica neste patamar, e, simultaneamente, apresentar ao país o resultado das suas escolas e grupos artísticos, de par com uma prática cultural electiva, implica «com muito pouco fazer muito». Provavelmente, haverá até quem pense que o OLCA é rico e nada em recursos ao jeito do Tio Patinhas. Não é verdade. Mas o trabalho produzido aqui, sem qualquer arrogância, dizemos, supera o somatório do de dezenas de outras instituições igualmente dedicadas, se juntas, sem que alguma vez tenhamos feito ou venhamos a fazer, o reivindicar de qualquer proporcionalidade também em compensações financeiras, em público ou em privado. E este trabalho está à disposição incondicional de todas as instituições que o desejem fruir.
Para tal conseguir é necessário o prestígio do trabalho feito, da prática artística – sem contorcionismos, aqui a música «não cura fracturas do fémur» – só ela é indutora de ganhos cognitivos e sensoriais. É esse prestígio que nos trás alunos. São esses alunos o alvo das contratualizações, com o Estado ou outras entidades.

Mas o papel dos mecenas públicos e privados neste sucesso, muitos dos quais aqui representados hoje, é incontornável. Como é incontornável o contributo das autarquias da região. Como é absolutamente fundamental o Protocolo subscrito com a Câmara Municipal de Leiria, assente na prestação de serviços específicos por parte do OLCA - e não aberto, oscilante -, o que nunca será demais realçar.
O êxito desta casa é portanto o somatório dos êxitos de quantos nela porfiam, de quantos nela crêem, de quantos nela apostam, de quantos nela vivem e a amam, de quantos a suportam. 
António Pinho Vargas, hoje
Mas para glorificar esta Abertura Oficial do Ano Lectivo no OLCA, este acto solene, contamos, para além de música e dança, nossas, com a palavra amiga de tão distintas personalidades. O Professor Doutor António Pinho Vargas fará a Oração de Sapiência desta sessão. Já esteve no Festival Música em Leiria apenas com o estatuto de músico fabuloso, numa sessão memorável. Hoje é um académico distinto, como podeis ver pelo curriculum distribuído. Licenciado em História pela Faculdade de Letras do Porto, António Pinho Vargas completou o Curso Superior de Piano no Conservatório daquela cidade e diplomou-se em Composição no Conservatório de Roterdão, onde estudou três anos como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Frequentou cursos de Nunes, Cage e Andriessen, e seminários de composição com Ligeti na Hungria e Donatoni em Itália. É profusamente galardoado e premiado por creditadíssimas instituições. Condecorado pelo senhor Presidente de República Portuguesa com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, em 1995, foi professor de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa. Desempenhou as funções de consultor na Fundação de Serralves e no Centro Cultural de Belém. Ligado ao jazz por vários anos, gravou sete discos com dezenas de composições originais. Com o seu grupo de jazz apresentou-se em muitos países da Europa, África, Ásia e nos Estados Unidos. Compôs música para teatro e cinema.
Sobretudo a partir da sua estada na Holanda, António Pinho Vargas tem-se dedicado principalmente à música contemporânea, ocupando lugar de relevo no actual panorama português. Algumas das suas obras foram executadas mundo fora. Participou em inúmeros festivais mundiais.
António Pinho Vargas terminou o seu doutoramento na Universidade de Coimbra sob a orientação do Professor Boaventura de Sousa Santos (C.E.S. da Universidade de Coimbra) e do Professor Max Paddison (Universidade de Durham), com uma bolsa da Fundação da Ciência e Tecnologia.
O trabalho tem o título Música e Poder: para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu. É actualmente Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e professor na Escola Superior de Música de Lisboa.
É esta personalidade brilhante que teremos todos o ensejo de ouvir dentro de alguns instantes. Bem-haja.
Henrique Pinto
Leiria, 20 de Novembro de 2010
FOTOS: Edifício principal do OLCA; António Pinho Vargas durante a Oração de Sapiência no OLCA; Henrique Pinto, presidente do OLCA, em debate com os amigos MNE Luís Amado e Professor Doutor Carlos André, numa sessão de Café das Quintas da instituição; Henrique Pinto com as colaboradoras Dra. Sandrina Antunes, Sub Directora Pedagógica Sofia Rocha e Dra. Teresa Diniz; Dra. Rosa Gaspar, Adjunta do Governo Civíl de Leiria, Henrique Pinto, Dr. Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara de Leiria; Eng. João Eliseu, Presidente da Assembleia Geral do OLCA e Professor Doutor António Pinho Vargas; Directoras Maria José Reis, Maria do Céu Mendes e Adelaide Pinho; Dr. Gonçalo Lopes, discursando; Neuza Bettencourt, Directora Pedagógica; as minhas luzes; Dr. César Santos, Graça Sousa, Henrique Pinto e António Pinho Vargas, à conversa; António Pinho Vargas e a Oração de Sapiência, na Abertura Solene do Ano Lectivo no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes

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