Todos esperavam as ondas mas estas fizeram-se esperar mais umas
boas horas. E quando chegaram pôde instalar-se a dúvida sobre se o record de Garrett McNamara foi ou não
superado. Mas alguns milhares de pessoas e centenas de câmaras com tripé
alcandoravam-se nas arribas da praia do Norte. Na adolescência publiquei um
texto sobre a possibilidade de todas as marcas poderem ser batidas. Foi quando
nuns jogos olímpicos se atingiram os 9,8 segundos nos 100 metros livres, em
atletismo. Assim tem vindo a acontecer, os limites do impensável estão cada vez
mais baixos.
O sucedido entre nós com a mortalidade infantil, na sequência de
medidas organizativas singelas no quadro do SNS, é um desses casos típicos mas
na área social. Independentemente do que possa ter sucedido agora, a onda
gigante do surfista do Hawai foi uma alavanca decisiva, um acontecimento
singelo e logo de influência desproporcionada para o que se lhe seguiu. Há um
novo interesse pelo mar. As possibilidades económicas que afluxos de
apaixonados do surf e curiosos apenas
ou peritos em áreas conexas de sucesso trouxeram são um precioso maná. E os
nazarenos inteligentes como os investidores em Peniche ou no Guincho têm vindo
a cavalgar esta onda sabiamente. A associação já verificada entre os interesses
destes dois últimos clãs pode até vir a suscitar um crescimento para patamares
não esperados.
As posturas
de sua eminência
Há uns anos, vinha do Norte, e ouço na rádio, «podemos estar à beira de ter
o primeiro papa português!». Senti um calafrio e parei na berma. Para lá de
todas as veleidades pessoais ou da informaçãozinha de grupo a que se deu o
impulso necessário para a erupção nas redações, a notícia incomodou-me pela
ignorância que dela emanava. Então, pensei, esta gente desconhece até o nome de João XXI, nascido Pedro Julião, renomado como
Pedro Hispano, o papa entre 1276 até à data da sua morte, famoso médico,
filósofo, professor e matemático português do século XIII? Telefonei para a
estação emissora e a patética notícia não foi repetida.
Doutra vez pedi a um grupo muito eclético de
pessoas a gentileza de darem o rosto pela campanha na RTP para a erradicação da
paralisia infantil e só uma dentre um vasto espetro me mandou delicadamente às
malvas. Exatamente o senhor cardeal que ora surge a perorar contra os que não
entendem esta austeridade. Na altura disse-me: não posso tomar partido por
nenhum lado. A coisa caiu-me mal. «Então sua eminência, fui tantas vezes ver
doentes à sua terra quando nem estrada tinha, em várias ocasiões enterrei o
carro na lama, nunca levei um tostão a nenhum deles, e o senhor acha que há
partidos na defesa dos doentes?». Ora não lhe ouvi palavra quando o governo
anterior foi derrubado pela ambição e ignorância pessoal e de índole
corporativa. Porquanto um PEC não era exatamente um resgate. Não teria porventura
as consequências deste. Para lá da valia ou não da situação governativa anterior,
com certeza não se teria chegado a este ponto doloroso. Mas ao que parece sua
eminência agora já não se importa de tomar partido.
Aleivosias
da opinião
Pois hoje pela manhã vi nas mensagens do
facebook o alerta duma amiga querida: «Boa noite Henrique Pinto! Verifiquei que
faz parte de um grupo fechado intitulado. “Queremos José Sócrates na prisão por
gestão danosa…”. Penso ter havido confusão... Será? Um abraço!».
Fiquei obviamente incomodado. Nem conheço bem José Sócrates nem penso que lhe caiba a responsabilidade mor
por este descalabro, a despeito desta ou daquela opção de governação. Mas a
verdade é que jamais diria uma coisa dessas de alguém, quem quer que fosse, mesmo
se o pensasse. E não é o caso. Sou inteiramente alheio a isso, que não vi em
lado nenhum, e se aconteceu considero-o um abuso, uma atitude muito feia. Nada
me liga a qualquer formação partidária sem nada ter contra os que a elas aderem.
Para mim as pessoas estão em primeiro lugar. Todavia, posturas de fanatismo
como estas, geradoras de semelhantes equívocos, são também as responsáveis por
algum descrédito, tanto das redes sociais como da própria política organizada.
O que nunca é bom quando acontece. Foi assim que a minha amiga se apressou a
tranquilizar-me: «Por isso estranhei ver lá o nome e a foto...mas também lá
estão mais cinco acima de qualquer suspeita... Temos sempre que estar de pé
atrás nestas coisas da net...».
Eu acho que muitas das pessoas que assim possam agir e pensar, falsificando documentos, até devem ser iliteratas. Outras ainda são mesmo fanáticas de qualquer cor. Mas muitas delas
nem dão prioridade às pessoas nas passadeiras…
Ora já há muito tempo que sabia da pressão que poderá ter sido exercida há
dois anos por um dos delfins do Norte sobre o atual primeiro-ministro: «ou cai
o governo ou há eleições no partido». Voltou agora a falar-se disso. A ser
credível o putativo ultimato, a opção tomada e a competência da sua implementação,
mais do que qualquer passado crítico, ditaram a catástrofe do presente. Que
nenhum cardeal de qual seja a confissão pode ou deve ignorar.
Ao que vemos cada qual cavalga as ondas à sua maneira. Esta ganância e
irresponsabilidade dificilmente serão tão cedo negativamente sancionadas pela
opinião pública. Mas cedo ou tarde sê-lo-ão!
Outubro 2013
Henrique Pinto