Sou sempre cautelosa,
diplomata, julgo, nunca querendo ferir alguém, desejosa de agradar, tolerante. Daí
o não ser muito direta nem frontal. Evoco muitas vezes a frase de Montalbán «se
afirmam dizer-te na cara tudo quanto pensam, afasta-te, não tarda mordem-te!».
Também as pessoas
mesureiras, sempre risonhas, de elogio fácil e permanente, como se dependentes,
me suscitam cautela. Desprezadas são tempestade.
E digo tolerante longe
do sentido judaico-cristão, que me levaria a cegamente e com o peso da culpa,
abraçar quem me atraiçoa. Faço-o num outro, o meu. Se as pessoas me forem
adversas - e raramente o foram na minha vida, felizmente -, desvio-me com
discrição, sem cortes bruscos. Portanto, dir-lhe-ei apenas que me agrada conviver
com pessoas mais jovens que eu.
Fui sempre assim. Acho
que isso me fez ser o que hoje sou. Desde os meus médicos internos, gerais e de
especialidade, os meus alunos nas universidades, os meus colegas de
pós-graduações (fui sempre a mais velha), a malta da cultura, principalmente,
onde Servi longamente, todos foram estímulos de vida. Creio que, numa fração
menor, o contrário também terá sido verdade.
Fui sempre a mais velha
mas sempre com um passo à frente dos meus colegas de ofício e de curso.
Como vou reorientando
a minha praxis profissional - agora que deixei, voluntariamente, etapas já
gastas para o meu gosto de envolvimento - voltei à universidade para me
adestrar melhor em ferramentas de determinada área. Como já não sou jovem em idade, acho
mesmo assim que estou à altura de mais outro desafio jovem, bem mais
competitivo em função das capacidades.
E dou por mim a ter de estudar como uma
leoa porque o ambiente me leva a tal. É ótimo, digo eu. Mas são sempre os
outros quem nos avalia melhor. E eu gosto disso.
Henrique Pinto
Outubro 2013
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