A imprensa tem-se referido amiúde a «falsos independentes». É um
conceito estúpido e enviesado. Nem alcanço bem onde escribas e palradores tais quereriam
chegar. Se fossem os partidos a lançar dois candidatos em simultâneo para ver
qual chegaria primeiro eu poderia entender. Um
indivíduo que sai dum partido
para concorrer fez necessariamente um corte na vida, tão doloroso como a morte
de quem se ama ou um divórcio forçado. E alguém a viver sempre fora duma
estrutura política não deixa de ser independente se nalgum momento for apoiada
por quaisquer delas.
Dizer-se que os partidos são essenciais em democracia não chega. O
relevante é todos os indivíduos se sentirem representados de alguma maneira. E
isto tanto pode acontecer em partidos como em associações
cívicas ou grupos de
democracia participativa. Mas o exercício da cidadania acontece cada vez menos nos
partidos políticos, donos das regras, da vida das pessoas, das consciências,
num fanatismo aceite e omnipresente.
No extremo oposto, os grupos de cidadania também se radicalizaram à
nascença quase ao ponto da autoexclusão. Atomizados, sem qualquer cimento que
os una – mesmo que tão só estrategicamente -, colocando-se em redoma de cristal
num purismo absoluto, limitaram fortemente a sua capacidade de influenciar
alguém com pedagogia.
Talvez haja agora espaço para que os conceitos independência,
representatividade e cidadania possam confluir. Até Cavaco Silva reconhece a premência
de se alterar a Lei Eleitoral. Ora essa confluência tem de envolver semelhante
mudança legislativa. Pode ser ainda compreensível que os republicanos tenham
acabado com os círculos uninominais em 1911, herança da monarquia
constitucional da qual se queriam distanciar.
Compreende-se menos que não tenham
sido reintroduzidos na constituição de 1976 por força do esquerdismo generalizado
e do direitismo púdico. Mas nos dias de hoje são incontornáveis.
Claro, há riscos óbvios. Uns vão continuar a temer a eventual perda
das câmaras ora ganhas. Outros pensarão poderem descer ainda mais na expressão
do voto. E, numa falsa conceção de democracia, procurarão impedir essa mudança
de qualquer forma ao invés de estudarem como construir um sistema novo arredando
de vez os receios políticos desta natureza.
Henrique Pinto
Outubro 2013
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