Sobre a Cultura em si e sobre o livro em questão escrevi o texto que se segue.
UMA HISTÓRIA DE AMOR
«A cultura é tudo o que nos ultrapassa associado a
uma componente ética, de comunicação, de descodificação do mundo e de
conhecimento. É o que construímos como sociedade e a forma como nos
relacionamos uns com os outros. Nesta expressão de Guta Moura Guedes se espelha
o percurso de Henrique Pinto em 45 anos de intervenção, de Cascais a Coimbra e
depois Leiria. É esse trajeto, extensivo à praxis médica, associativa e de
solidariedade que avulta no preito que ora lhe é feito.
Quanto ao livro trata-se dum Ensaio sobre a cultura
aplicado a um Estudo de Caso, embrulhado pela crónica duma dedicação exacerbada
ao trabalho, uma história de amor. A cultura, como se vê, seria redutora se
encaixada num sucedâneo de eventos e práticas. E nenhum fluxo cultural tem significado
se anichado em práticas que excluam a ampliação dos seus efeitos pela
comunicação.
Em cultura as ações «não se fazem porque se fazem», numa postura
de empirismo errático mas porque «há razões para o fazer». É o estudo dessas
razões, em concreto, com base numa imensa visão do mundo contemporâneo, tendo
por objeto de estudo o Orfeão de Leiria Conservatório de Artes no período
1983-2013, que avulta nesta obra.
Foi um caminho pleno de cargos, funções e práticas, do
campo local ao regional e ao nacional, e por fim ao mundo. Feito sempre na
convicção que «é preciso saber quando uma etapa chega ao fim» e que, «se se insiste
em permanecer num patamar mais do que o tempo necessário se perde a alegria e o sentido das outras etapas que é
preciso serem vividas».
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos,
saindo em alta sem rabos de palha nem dívidas e com a planeada continuidade das
instituições devidamente assegurada com pessoas de bem e património material e
imaterial conseguido. Não importa os nomes que se dão às situações, o que se
releva é deixar no passado os momentos da vida que já acabaram.
A ação do OLCA no período 1983-2013 contribuiu de
forma decisiva para o Desenvolvimento cultural
local/regional, enquanto fenómeno cultural pós-moderno, reflexo da
globalização, na sociedade contemporânea.
A sua ação neste período, dinamizando a cultura local/regional, com a democratização do acesso e do consumo a/de produtos culturais com evidência
científica dos resultados no impacto do funcionamento cerebral,
tem contribuído para a melhoria do desenvolvimento
intelectual
dos seus utentes.
Como um caso de excelência, o projeto cultural do OLCA tem condições de implantação para se sobrepor à
degradação do tecido cultural sob a influência da economia
neoliberal.
Esta estratégia de intervenção em política
cultural seria necessariamente equívoca se não ancorada
no estudo rigoroso da realidade. É o que Pais, J. M. (2005)
apelidava de «grounded policies», isto é, políticas de
intervenção que tenham sempre por referência o chão que pisam e os contextos
de vida objetivos, subjetivos e trajetivos.
O objeto do Estudo de Caso Orfeão de
Leiria Conservatório de Artes 1983 - 2013, referência cultural
local, nacional e com franca internacionalização, apesar de a
sua prática ser passível de estar abrangida no que Augusto Santos Silva
considera deverem ser «paradigmas culturais para o país», escudando-se em
exemplos como as políticas culturais de Cascais e Porto,
enquanto autarquias
(Silva, A. S. 2007), quando tais pressupostos estão diferidos em duas décadas dos
postos em prática antes por aquela instituição, é particularmente importante,
tal o pioneirismo. Então houve que procurar explicá-la do ponto de vista
sociológico. Tanto mais que já o filósofo José Gil disse o que não se inscreve
não existe.
Henrique Pinto
12 de Novembro 2013
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