quarta-feira, 20 de novembro de 2013

LIVRO, JANTAR, HOMENAGEM, PORQUÊ? (4)

Os três eventos ocorrerão a 29 de Novembro, na Quinta do Fidalgo, na Batalha (ver Eventos) e têm a centralidade na minha pessoa. Porquê?
Estou grato a quem teve a ideia que talvez tivesse desdenhado se dela  soubesse. Estou grato a quem edita o meu livro, francamente original é certo, mas só Saramago e José Rodrigues dos Santos têm edições garantidas em Portugal. Façamos então um breve percurso pelo tempo.
«A cultura é tudo o que nos ultrapassa associado a uma componente ética, de comunicação, de descodificação do mundo e de conhecimento. É o que construímos como sociedade e a forma como nos relacionamos uns com os outros. Nesta expressão de Guta Moura Guedes se espelha o percurso de Henrique Pinto em 45 anos de intervenção, de Cascais a Coimbra e depois a Leiria. É esse trajeto, extensivo à praxis médica, cultural, associativa a múltiplos níveis e de solidariedade, que, julgo,  avulta no preito que ora me é feito.
Quanto ao livro «Do Estado Novo ao Pós-modernismo cultural» trata-se dum Ensaio sobre a cultura aplicado a um Estudo de Caso, embrulhado pela cronica duma dedicação exacerbada ao trabalho, uma história de amor. 
A cultura, como se vê, seria redutora se encaixada num sucedâneo de eventos e práticas. E nenhum fluxo cultural tem significado se anichado em práticas que excluam a ampliação dos seus efeitos pela comunicação. Em cultura as ações «não se fazem porque se fazem», numa postura de empirismo errático, mas porque «há razões para o fazer». É o estudo dessas razões, em concreto, com base numa imensa visão do mundo contemporâneo, tendo por objeto de estudo o Orfeão de Leiria Conservatório de Artes no período 1983-2013, que avulta nesta obra.
Foi um caminho pleno de cargos, funções e práticas, do campo local ao regional e ao nacional, e por fim ao mundo. Feito sempre na convicção que «é preciso saber quando uma etapa chega ao fim» e que, «se se insiste em permanecer num patamar mais do que o tempo necessário se perde  a alegria e o sentido das outras etapas que é preciso serem vividas». Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, saindo em alta sem rabos de palha nem dívidas e com a planeada continuidade das instituições devidamente assegurada com pessoas de bem e património material e imaterial conseguido. Não importa os nomes que se dão às situações, o que se releva é deixar no passado os momentos da vida que já acabaram.
A ação do OLCA no período 1983-2013 contribuiu de forma singular e decisiva para o Desenvolvimento cultural local/regional, enquanto fenómeno cultural pós-moderno, reflexo da globalização, na sociedade contemporânea. A sua ação neste período,
dinamizando a cultura local/regional, com a democratização do acesso e do consumo a/de produtos culturais com evidência científica dos resultados no impacto do funcionamento cerebral, tem contribuído para a melhoria do desenvolvimento intelectual dos seus utentes. Como um caso de excelência, o projeto cultural do OLCA tem condições de implantação para se sobrepor à degradação do tecido cultural sob a influência da economia neoliberal.
Esta estratégia de intervenção em política cultural seria necessariamente equívoca se não ancorada no estudo rigoroso da realidade. É o que Pais, J. M. (2005) apelidava de «grounded policies», isto é, políticas de intervenção que tenham sempre por referência o chão que pisam e os contextos de vida objetivos, subjetivos e trajetivos. 
O objeto do Estudo de Caso Orfeão de Leiria Conservatório de Artes 1983 - 2013, referência cultural local, nacional e com franca internacionalização, apesar de a sua prática ser passível de estar abrangida no que Augusto Santos Silva considera deverem ser «paradigmas culturais para o país», escudando-se em exemplos como as políticas culturais de Cascais e Porto, enquanto autarquias (Silva, A. S. 2007), 
quando tais pressupostos diferem em duas décadas dos postos em prática antes por aquela instituição, é particularmente importante, tal o pioneirismo. Então houve que procurar explicá-la do ponto de vista sociológico. Tanto mais que já o filósofo José Gil disse o que não se inscreve não existe.
Henrique Pinto

Novembro 2013

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