sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

FIADORES E INFIÉIS

Africa Peace Conference em Nairobi, Quénia, 2003
Tenho esperança de a truculência baixar de tom e de cariz. Tenho esperança na continuidade longeva deste equilíbrio negocial. Quem sabe se, conjugadas estas duas versões de fé bem-intencionada, o rincão pátrio possa abrir-se mais ao diálogo, à tolerância e às regras mínimas do viver a democracia.
Estamos habituados ao discurso do ping pong e ao lançar do opróbrio sobre os antecessores, rivais ou juízes quando se alteram os mandatos ou o jogo corre mal. É uma praga generalizada.
Helena Roseta no Parlamento, 1975
Na derradeira reunião que marcou a minha saída, há meses anunciada, dum longuíssimo mandato diretivo, eu disse por amizade e brincadeira ao fazer aprovar uma auditoria financeira, «nada me livra de ao chegar à porta já me estarem a roer na casaca». Se tal veio a acontecer ignoro. Sei que volvidos anos continuo sendo eu um dos fiadores de conta caucionada que se destinava a evitar atrasos no pagamento aos trabalhadores.
Não vejo um espírito semelhante na comunidade! Diga-se também que nem sempre é por língua atrevida de quem chega. Muitas vezes quem aflui estraga. Todavia, a regra está em deixar degradar-se ao máximo aquilo que se vai deixar. Nada comparável ao espírito patriótico dos almirantes franceses perante a sua esquadra – afundaram-na no porto de Marselha -, quando em vias de ser integrada pelas tropas de Hitler. O hábito é prevalecer a mesquinhez de apoucar os sucessores, quais infiéis.
Henrique Pinto

4 de Dezembro de 2015
Debate sobre Envelhecimento Ativo com António Salles

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