Adalberto Campos Fernandes
Em Portugal os debates
televisivos sobre futebol e política têm a mesma estrutura. Os defensores de
cada uma das principais capelinhas, servindo-se da linguagem nós versus vocês repetem a cantilena dos
argumentários oficiais. Não há qualquer inovação discursiva numa ou noutra
cadeia emissora. Nas entrevistas os argumentário à la carte funcionam da mesma
forma. Aos arguentes apenas interessa perguntar sobre fait divers eventualmente fraturantes, incómodos, num sadismo
intolerável e de interesse formativo menor.
Passámos anos a bramar
contra a legislação eleitoral por via do impedimento a construírem-se novas
maiorias pelo método de Hondt num terreno de voto consolidado. Eis que a
população votante proporciona a possibilidade legal e legítima para o tido por inalcançável.
Desde a Queda do Muro de Berlim fez agora 25 anos o grosso da política, da
esquerda à direita, inclinou-se francamente para a direita. A social-democracia
clássica (PSD e PS em Portugal) perdeu brilho. A esquerda comunista caminha para
a social-democratização.
António Costa ao centro
É natural que o balão
discursivo situacionista de até há dias perca substância no próximo devir. E,
se não no futebol mas na vida do dia-a-dia, possamos ouvir outras opiniões.
Durante anos assisti ao
denegrir da minha primeira especialidade médica, a saúde pública. Aqueles detentores
da saúde como meio de enriquecimento ao instante e bem assim todos os
aspirantes a tal graduação, bem como os minados pela inveja do conhecimento,
sempre a minaram. Quando vi o seu ascendente por todo o mundo em paralelo com o
bombardeio mortífero a que era sujeita no meu país desenhei montes de cenários
explicativos, mas sem sucesso. Eis que o governo em funções tem um especialista
desta matéria, e dos bons, na pasta da saúde.
Nos anos 90 li, em muitas
obras sobre economia com as expetativas como motor, citações de Santo Agostinho
no lado humanista. Foi chão que deu uvas… A política virou campo exclusivo da
economia e as pessoas feitas coisas, sem expetativas, deixaram de importar.
Nalguns políticos esse discurso é obsessivo, dum só sentido. Por isso o
pensamento e as estéticas, agitadores da vida, deixaram também a harmonia oficial.
Termos por ora um ministro da saúde pública e um ministro para a cultura é uma
representação social da exaltação da vida no país. Serve-me como indicador de
bom augúrio.
Não ponho as mãos no fogo
por rigorosamente ninguém. Mas não deixo de mostrar o meu respeito pelos
artífices desta possibilidade de maioria. Estou confiante na sua capacidade
para manterem a harmonia essencial à sua exequibilidade no bem-fazer.
Bom seria também a
social-democracia sobrenadante do caldo espúrio do ultraliberalismo económico,
sufocada, aproveitar o momento e poder libertar-se desse jugo.
Henrique Pinto
1 de Dezembro 2015
Mário Soares, João Soares e Fernando Medina
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