terça-feira, 1 de dezembro de 2015

BOM AUGÚRIO

Adalberto Campos Fernandes
Em Portugal os debates televisivos sobre futebol e política têm a mesma estrutura. Os defensores de cada uma das principais capelinhas, servindo-se da linguagem nós versus vocês repetem a cantilena dos argumentários oficiais. Não há qualquer inovação discursiva numa ou noutra cadeia emissora. Nas entrevistas os argumentário à la carte funcionam da mesma forma. Aos arguentes apenas interessa perguntar sobre fait divers eventualmente fraturantes, incómodos, num sadismo intolerável e de interesse formativo menor.
Passámos anos a bramar contra a legislação eleitoral por via do impedimento a construírem-se novas maiorias pelo método de Hondt num terreno de voto consolidado. Eis que a população votante proporciona a possibilidade legal e legítima para o tido por inalcançável. Desde a Queda do Muro de Berlim fez agora 25 anos o grosso da política, da esquerda à direita, inclinou-se francamente para a direita. A social-democracia clássica (PSD e PS em Portugal) perdeu brilho. A esquerda comunista caminha para a social-democratização.
António Costa ao centro
É natural que o balão discursivo situacionista de até há dias perca substância no próximo devir. E, se não no futebol mas na vida do dia-a-dia, possamos ouvir outras opiniões.
Durante anos assisti ao denegrir da minha primeira especialidade médica, a saúde pública. Aqueles detentores da saúde como meio de enriquecimento ao instante e bem assim todos os aspirantes a tal graduação, bem como os minados pela inveja do conhecimento, sempre a minaram. Quando vi o seu ascendente por todo o mundo em paralelo com o bombardeio mortífero a que era sujeita no meu país desenhei montes de cenários explicativos, mas sem sucesso. Eis que o governo em funções tem um especialista desta matéria, e dos bons, na pasta da saúde.
Nos anos 90 li, em muitas obras sobre economia com as expetativas como motor, citações de Santo Agostinho no lado humanista. Foi chão que deu uvas… A política virou campo exclusivo da economia e as pessoas feitas coisas, sem expetativas, deixaram de importar. Nalguns políticos esse discurso é obsessivo, dum só sentido. Por isso o pensamento e as estéticas, agitadores da vida, deixaram também a harmonia oficial. Termos por ora um ministro da saúde pública e um ministro para a cultura é uma representação social da exaltação da vida no país. Serve-me como indicador de bom augúrio.
Não ponho as mãos no fogo por rigorosamente ninguém. Mas não deixo de mostrar o meu respeito pelos artífices desta possibilidade de maioria. Estou confiante na sua capacidade para manterem a harmonia essencial à sua exequibilidade no bem-fazer.
Bom seria também a social-democracia sobrenadante do caldo espúrio do ultraliberalismo económico, sufocada, aproveitar o momento e poder libertar-se desse jugo.
Henrique Pinto
1 de Dezembro 2015 
Mário Soares, João Soares e Fernando Medina


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