O filme A Ponte dos
Espiões, uma excelente obra de Spielberg com Tom Hanks (descendente duma
família micaelense), evoca uma troca de espiões urdida em Berlim em 1962, das épocas
mais duras da guerra fria. Vivia-se aqui o período do regime totalitário de
Salazar marcado pelo início da guerra colonial em África, pela debandada dos
continentais a salto, rumo à Europa, e a terceira vaga emigrante dos açorianos
para a América do Norte.
O filme, pedagógico e cru,
cuja história se inicia em 1957 com a prisão dum espião soviético em solo estadunidense,
só em frases curtas nos lembra atravessar-se por lá à altura um inferno não
menos doloroso, o da caça às bruxas de MCcarthy.
Aqui, o homem político mais
autoritário depois de Salazar acaba o esperado último mandato numa atmosfera íntima
de quase ódio e de pública intolerância dado o seu manifesto encosto
conservador. Com ele vão-se também os grandes dogmas do neoliberalismo, presos
numa linguagem de carroceiro, o esbulho de todos para proveito de alguns. O
país empobrecido e com um Estado mínimo ficaria totalmente aberto à livre
invasão do capital selvagem se tal praxis durasse uns meses mais.
António Costa com a sua
têmpera, perseverança política e astúcia negocial, logrou uma solução de
governo moderada, resgatando a esperança para milhões de cidadãos. É talvez o
melhor epílogo para o entrosamento dum filme com a história do mundo e as
histórias do tempo no seu argumento. No tempo, nada é desgarrado. Podem existir
finais felizes.
Henrique Pinto
Leiria, Novembro 2015
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