A família Mccartney
A Fátima Campos Ferreira promove
há anos um programa de diálogo no canal um da televisão. É um trabalho perseverante,
muito esforçado, nem sempre conseguido, tão vasta é a diversidade de
aproximações a um tema. Para as pessoas atentas este amplo espetro de opiniões,
longe de confundir, pode também abrir-lhes os espíritos.
O tema candente das carnes
vermelhas, demonizado pelo enviesamento da informação desde a origem até ao
produto final, e sobretudo as confusões relacionadas com quantidades e risco,
abriu a porta a correntes várias sobre o tipo de alimentação.
Por detrás da oratória
esteve sempre presente o grau de risco quando ele, para os produtos em causa,
não está definido ou é comparativamente muito pequeno.
A exploração intensiva da pecuária é passível de sustentar o aquecimento global do planeta
Lembro-me de algumas
batalhas duras onde fui interveniente em nome da Saúde. Quando a água de
abastecimento da cidade era de recolha superficial no rio onde, a montante, era
vazada quantidade imensa de matéria orgânica. Esta, misturada com o cloro para o
tratamento produzia químicos organo-clorados de comprovada cancerinogénese para
o sistema urinário humano. Não fora ter a imprensa do meu lado e teria sido
banido.
Empresas de fabrico de
pasta de papel fabricavam resíduos passíveis de alta contaminação
microbiológica depois vertidos da lagoa de retenção para o mar e inundavam as
praias. O coletor submarino foi a solução encontrada depois de muito suor e
ódio.
Alimentação saudável
Em 50 restaurantes mais
frequentados, quer nas zonas de acesso à cidade como nos mais centrais, 49
tinham contaminação microbiológica continuada. Caiu também sobre mim o Carmo e
a Trindade. E no entanto estava determinado com rigor o risco relativo.
Obviamente, o caciquismo no aparelho da Saúde era tremendo, hoje os média têm
também outra liberdade.
As quantidades de carne,
vermelha ou branca, a ingerir saudavelmente estão perfeitamente definidas em
função da idade e peso. É a isso que se chama comer com moderação. Os exageros,
acima ou abaixo desses patamares, como em tudo na vida, são motivo de doença. A
observância dos limiares estabelecidos entra nos pressupostos de estilos de
vida saudáveis.
Agora, há cambiantes a ter
em conta, desde os regimes estritamente carnívoros aos absolutamente verdes. Os
primeiros são um erro absoluto, falta-lhes boa parte das vitaminas e minerais
essenciais presentes nos produtos da terra. Aos segundos exige-se uma ampla
diversidade de vegetais e leguminosas para suprir a necessidade do todo em
aminoácidos, sobretudo da parte das proteínas de qualidade, as de alto valor
biológico, existentes numa pequena dose de carne. E requerem ainda suplementos
vitamínicos e minerais.
Os produtos sujeitos a altas temperaturas produzem aminas tricíclicas e hidrocarbonetos policíclicos, químicos classificados como potencialmente cancerígenos
A DGS, Direção Geral da Saúde
elaborou manuais para ambos os regimes ao alcance dos profissionais. E a
ciência impregna agora parte considerável da discussão editada.
De radicalismos (reais ou
inventados pelos tacticismos) não precisamos. Mas quando Paul Mccartney foi ao
Parlamento Europeu clamar contra os efeitos deletérios para o aquecimento
global do planeta resultantes da vasta exploração pecuária, não era capricho de
vedeta. Se a comunidade científica e um contingente imenso de fazedores de opinião
clamam contra os malefícios da mesma natureza, e também da qualidade do ar,
atribuídos aos combustíveis fósseis, estão dentro da razão. Todavia, ambos os
problemas implicam revoluções empresariais, sociais e políticas específicas de
grande vulto que a mundialização do comércio e indústria vêm tolhendo.
Seguramente, chegará a altura da implosão de tais pressupostos.
Henrique Pinto
Novembro 2015
PS. Artigo 890 do Blogue
Medicult
Os combustíveis fósseis, o aquecimento do planeta e a deterioração da qualidade do ar
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