Véronique Terrasse, porta-voz
da Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro (IARC) - um órgão
da Organização Mundial de Saúde (OMS) a que não compete fazer doutrina de saúde
-, lançou alarme desmesurado. Se os jornalistas a cobrirem a conferência de
imprensa saíram altamente confundidos, o público em geral por todo o mundo
ficou ainda mais confuso.
Dias depois a própria OMS
procurou pôr água na fervura, a tranquilizar consumidores de carne vermelha e
de carne processada e a própria indústria. Entre nós as corporações de carnes e
da hotelaria, através de peritos qualificados (alguns bastante diferenciados),
lograram transmitir bom senso e moderação através dos média. Quanto à Saúde
pouco mais se ouviu além do Dr. Mário Durval, impreparado e desconhecedor, e de uma ou outra voz no Prós e Contras (RTP canal Um).
Véronique Terrasse
Estudos efetuados desde 2002
sugeriam que os pequenos aumentos no risco de vários tipos de cancro (mesmo se
riscos pequenos para a saúde pública), podiam estar associados a um consumo
muito elevado de carne vermelha ou processada. Foi pedido à Agência (que não
faz investigação) para produzir prova (associação de causas, nunca de
apreciação do risco) quanto à carcinogénese destas carnes. O Grupo de Monografias
do IARC fez uma meta análise de 800 estudos epidemiológicos. Estes nem eram
absolutos. E classificou o consumo de carne vermelha como provavelmente cancerígena
para o ser humano, baseada na prova limitada
(há associação positiva entre exposição ao agente e cancro mas não se pode
afirmar não haver enviesamento nas conclusões), sobre o uso alimentar desta
carne provocar cancro (principalmente o do colon e reto). A carne processada
foi classificada por igual com base na prova suficiente para fazer tal associação cancerígena (apenas em 10
estudos). Aliás, todos os produtos sujeitos a altas temperaturas (até as
sardinhas assadas) produzem químicos cancerígenos.
Francisco George, um dos melhores diretores gerais da saúde de sempre em Portugal
Sabe-se ser a carne, a alternar
com o peixe (incluindo as sardinhas assadas), de elevado benefício para a
saúde, ingerida com moderação nas doses medicamente prescritas. Fatores
cancerígenos existem à volta de 400 na nossa dieta. Classificar (estabelecer a
força da prova), como se fez, e apenas para a carne processada, não é
estabelecer grau de risco. Mesmo assim não se pode equipar ao perigo do tabaco,
amianto ou do álcool. De acordo com as estimativas mais recentes, cerca de 34.000
mortes/ano por cancro em todo o mundo são atribuídas a dietas muito ricas em
carnes processadas. Aliás, estas nem constam num regime alimentar saudável dado
serem fator de risco para as doenças cardiovasculares. Um dia não diz dias! Estes
números contrastam com as mortes por cancro no mundo/ano devidas ao tabaco (um
milhão), ao álcool (600.000) e à contaminação do ar (mais de 200000).
Henrique Pinto, Professor Doutor
Médico graduado em
Nutrição Clínica
Bolseiro OMS e Consultor
internacional
In Jornal de Leiria
Novembro 2015
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