Daí que o Dr. Fernando Nobre – conhecedor do mundo como poucos – tenha privilegiado a Mulher na sua campanha presidencial. Ele sabe que nenhuma especificidade existe no género que suscite atenção parcelar. Mesmo assim, sendo a maioria no contingente universitário, por exemplo, as mulheres portuguesas são também a maioria no desemprego.
Para as pessoas limitadas a ampliar o efeito de comentários da sua mesma área política – como o tem feito o meu colega Defensor de Moura no usufruto dos maus hábitos do debate político em Portugal – no jeito por ele mesmo apodado de Tretas & Larachas, a queimar tempo aos opositores enredando-os no ir atrás das suas questiúnculas, porventura este será também um tema menor. Para comentadores como Inês Serras Lopes o presidente da República também não poderia usar os seus poderes para trazer este tema candente à discussão e consciencialização públicas. Quando muito, para ela, terá relevo como mero indicador de carácter. Como se, mesmo se nela crendo, o carácter fosse coisa de somenos no processo decisório.
É sobretudo a solidariedade com a imensa mole de mulheres descriminadas, exploradas e escravizadas na maior parte do mundo, convicto de este gesto poder funcionar como acção catalisadora, o móbil do seu apelo. Na certeza de nenhuma realidade sociológica ser reprodutível por si só ou de gestação espontânea.
Amanhã, o Jantar com Mulheres, incluído na campanha presidencial, terá a todo o tempo presente esse grito surdo, essa angústia incolor, a escravidão no género humano. É um acto sublime.
Henrique Pinto
Dezembro 2010
FOTOS: a amiga Luciana Góis, actriz e militante católica de Aracajú, Brasil; mulheres da Guiné Bissau; Teresa Serrenho, Helena Godinho, João Ermida e Maria José Miranda (neta de uma conhecida activista da primeira República), na apresentação da Comissão de Honra do Dr. Fernando Nobre em Leiria; Fernando Nobre e Defensor de Moura na RTP
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