A foto respeita
a esse extraordinário filme de Luchino Visconti, dos sixtees, O Leopardo,
baseado na obra homónima de Giuseppe Lampedusa.
Numa das
últimas edições de O Eixo do Mal, programa da Sic Notícias, uma sátira à vida política e social
portuguesa, Clara Ferreira Alves, em jeito de remate final, recomendou a
leitura de dois livros, O Leopardo, aqui referido, e A Peste, de Albert Camus. Como
que a dizer, encontram-se sempre coincidências com a atualidade na espiral da
história e na qualidade como os grandes mestres da literatura as ficcionaram.
Vi o filme no
defunto Festival de Cinema da Figueira da Foz e estive no debate sobre ele
coordenado por Eduardo Prado Coelho, no hall do Casino. Eram tempos difíceis.
Neste filme
icónico, tanto Claudia Cardinale (Angelica), lindíssima tal esta foto, como Burt
Lancaster (o Principe Salina), têm papeis superlativamente interpretados.
Na Sicília de 1860, estava-se em plena reunificação italiana, conturbadíssima,
o período do «Risorgimento», o príncipe Salina testemunha a decadência da
nobreza e a ascensão da burguesia. Num cenário caótico de fortes contradições
políticas, ele luta pela manutenção dos seus valores.
Albert Camus é
para mim dos maiores escritores de sempre, inexplicavelmente votado ao
abandono.
No livro A
Peste, vemos no porto de Oran, na Argélia, milhares
de ratos a fugirem e a morrerem, seguindo-se-lhe cães e gatos, e finalmente a
doença começa a infetar as pessoas. Cottard é um homem a mostrar-se misteriosamente
feliz com a propagação da peste. Por entre a separação das famílias e o
sofrimento, emergem personagens como o jornalista Rambert, que inicia
negociações com contrabandistas, tentando conseguir maneira de escapar da
cidade e reencontrar os seus entes queridos. O operário Joseph Grand, como o vigário
e o médico, mais tarde todos atingidos pela epidemia, formam esquadrões para
prevenção da doença. O vigário Paneloux faz um sermão duríssimo, afirma ter
sido Deus a mandar a doença sobre o povo de Oran como castigo pelas suas
faltas. Quando parece certo estar à beira da morte Grand consegue uma repentina
e milagrosa recuperação. A mesma «ressurreição» acontece a uma mulher na
cidade, e pouco depois, os ratos começam a reaparecer nas ruas do burgo.
Paneloux mostra-se agora
dócil e complacente para com os seus fiéis. Grand deseja poder vir a contar a
história do ponto de vista das vítimas, compartilhando com elas os sentimentos
de amor, abandono e sofrimento que todos sentiram durante o tempo da peste. O
livro termina com uma sombria observação, embora o bacilo da peste possa dissimular-se
anos a fio, ele nunca morre nem desaparece de todo.
Janeiro 2015
Henrique Pinto
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