A psiquiatra explicava o porquê de muitos divórcios
serôdios e pacíficos. «Buscam em cada corpo jovem a satisfação dos últimos anos
de vida sexual ativa». Roth, em Sabbath, é cruel, «os homens vivem esse período
numa embriaguez erótica». Há apenas alguma verdade nisso!
A fuga à culpa judaico-cristã, própria do cosmopolitismo,
vascularização sem depósitos ateromatosos, apanágio de alimentação saudável,
menor degradação física e psicológica dos idosos, sobretudo urbanos, erotismo como
nunca visto nas relações quotidianas, e «ajudas técnicas» do desenvolvimento
farmacológico, podem levar a uma vida sexual profícua, aproximada ou coincidente
com uma longeva idade real.
O ritmo circular da vida física e intelectual alarga-se a
cada ano civilizacional se num ambiente favorável. O ritmo circadiano é menos
elástico. Nada é igual em alguém no minuto seguinte. Até um alimento comum é
menos termogénico à noite que pela manhã.
A moda é efémera. Não obstante, há tendências de sempre metamorfoseadas
pela moda. Do tempo dos faraós ao dos aztecas, os brincos femininos dos últimos
séculos, ou piercings em partes do
corpo inimagináveis, de jovens de hoje, as pessoas mudaram o seu aspeto
exterior em jeito invasivo.
Perguntam-me, «Senhor Professor (…) ao observar esta
menina fisicamente perfeita (quase tudo fabricado), o que pensa dos implantes e
"tratamentos" corporais do género? (…)». Era a foto duma atleta
esbelta.
Nada tenho contra os implantes cirúrgicos. Sejam válvulas
cardíacas ou mamas. Cada vez há mais homens e mulheres que os fazem. O processo
evoluiu ao longo da história da Humanidade de par com a estética e a cirurgia, adaptou-se
à ética vigente. O potencial da medicina permite serem quase seguros na ótica imunológica,
infeciosa e anatómica. Na perspetiva erótica implantes mamários ou nadegueiros
femininos funcionam mais ou menos bem se as cirurgias forem bem feitas. Sexualmente,
em muitos casos, são um perfeito desastre.
Um tal corpo não se constrói de implantes. Faz-se com exercício
físico – tratava-se duma praticante de fitness,
ombros largos, ventre escorreito -, uma dieta adequada e sem emagrecer à pressa.
Fitness sem dieta e dieta sem
exercício físico são parcerias não funcionais. E fitness com os suplementos proteicos prescritos em ginásios e não
só (quando muito, toleráveis em alta competição), também não conduz a algo de
bom.
Há hábitos ou modas a modificarem o ritmo da vida
deletérios em grau superior aos tais procedimentos intrusivos. O envelhecimento
ativo, incluindo as vertentes erótica e sexual, enriquece advogados, mas nada tem
de anómalo.
Henrique Pinto, médico
Consulta de Nutrição Clínica
In Jornal Diário de Leiria
De 8 de Janeiro 2015
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