Como
diria o meu amigo Luís Osório já lá vai o tempo de discutir política para
pessoas desconhecidas. Estou nessa. Também pouco me importa cogitar sobre a Grécia.
Todavia, o cinismo que perpassa nas declarações de dirigentes de
responsabilidade, a arrogância de «jovens turcos» comentadores de TV, a
mediocridade jornalística encarregue de «cobrir» as eleições gregas, e por aí
adiante, levam-me a fazer uma evocação. O povo grego, se nada se alterar,
pagará com austeridade até 2037, as fraudes do Banco Goldman Sachs, que camuflou
as contas gregas ao tempo de Papademos tendo em vista a adesão ao Euro. A
senhora ministra grega que, à altura, materializou tal operação, entrou de imediato
para a administração e quadro acionista do «Banco que governa o mundo». Este,
por sua vez, cobrou uma fatia muito substantiva, ruinosa, às contas gregas.
Não
me venham agora com teorias da conspiração, a que sou alérgico. Deixem-se de mais
temer o Grupo Bildeberg como a suposta «maçonaria
reinante, que a realidade palpável ! Não acusem os gregos de ladrões – até nem
me são simpáticos -, mas apenas alguns gregos, bem relacionados como podeis ver
pelo texto recente de Eduardo Febbro, ou no livro «Como o Goldman Sachs governa
o mundo», não sofredor de contestações. E lembremo-nos, este banco pela mão do
falecido António Borges, seu antigo dirigente, interferiu em Portugal no
processo recente de privatizações. Que culpa têm os gregos em geral? Puxa!
Olhem meus caros, vale a pena reler Churchil nessa magnífica reedição do jornal
Expresso.
31
de Janeiro 2015
Henrique Pinto
Alguns comentadores passam a vida a nada
saber
“Há empresas que roubam para o império para o qual
trabalham. A Goldman Sachs é uma delas. O banco de negócios norte-americano
encheu seus cofres com um botim de 600 milhões de euros (800 milhões de
dólares) quando ajudou a Grécia a maquiar suas contas a fim de que este país
preenchesse os requisitos para ingressar na zona do euro, a moeda única
europeia.
A informação não é nova mas até agora se desconheciam os detalhes mais profundos do mecanismo pelo qual o Goldman Sachs enganou todos os governos europeus que participavam da criação da moeda única. O porta estandarte da oligarquia financeira operou protegido por sólidas cumplicidades no seio das instituições bancárias europeias e dentro do poder político, que fez tudo o que esteve ao seu alcance para impedir as investigações.
A informação não é nova mas até agora se desconheciam os detalhes mais profundos do mecanismo pelo qual o Goldman Sachs enganou todos os governos europeus que participavam da criação da moeda única. O porta estandarte da oligarquia financeira operou protegido por sólidas cumplicidades no seio das instituições bancárias europeias e dentro do poder político, que fez tudo o que esteve ao seu alcance para impedir as investigações.
Dois dos protagonistas desta mega fraude falaram pela primeira vez sobre as
transações encobertas mediante as quais Atenas escondeu o tamanho de sua
dívida. Trata-se de Christoforos Sardelis, chefe do escritório de gestão da
dívida grega entre 1999 e 2004, e de Spyros Papanicolaou, o homem que o
substituiu até 2012.
O resultado da operação foi uma gigantesca fraude que fez do suposto salvador, no caso o Goldman Sachs, o operador da derrocada da Grécia e de boa parte da Europa. Levando-se em conta somente os bancos franceses, a aventura grega custou 7 bilhões de euros : o BNP Paribas perdeu 3,2 bilhões, o Crédit Agricole, 1,3 bilhões, a Société Générale, 892 milhões, o BPCE, 921 milhões e o Crédit Mutuel, 359 milhões. Esse foi o custo só para o sistema bancário francês : os povos pagaram e pagarão em sacrifícios e privações muito mais do que isso.
O resultado da operação foi uma gigantesca fraude que fez do suposto salvador, no caso o Goldman Sachs, o operador da derrocada da Grécia e de boa parte da Europa. Levando-se em conta somente os bancos franceses, a aventura grega custou 7 bilhões de euros : o BNP Paribas perdeu 3,2 bilhões, o Crédit Agricole, 1,3 bilhões, a Société Générale, 892 milhões, o BPCE, 921 milhões e o Crédit Mutuel, 359 milhões. Esse foi o custo só para o sistema bancário francês : os povos pagaram e pagarão em sacrifícios e privações muito mais do que isso.
A operação financeira foi astuta. O Tratado de Maastricht, da União Europeia,
fixava requisitos rígidos para integrar o euro : nenhum membro da zona euro
podia ter uma dívida superior a 60% do PIB e os déficites públicos não podiam
superar os 3%. Em junho de 2000, para ocultar o peso gigantesco da dívida
grega, que era de 103% de seu PIB e obter assim a qualificação da Grécia para
entrar no euro, Goldman Sachs bolou um plano : transportou a dívida grega de
uma moeda a outra.
A transação consistiu em mudar a dívida que estava cotizada em dólares e em yens para euros, mas com base em uma taxa de câmbio fictícia. Assim se reduziu o endividamento grego e, com isso, a Grécia respeitou os critérios fixados pelo Tratado de Maastricht para ingressar no euro. Um detalhe complicou a maquiagem: o Goldman Sachs estabeleceu um contrato com a Grécia mediante o qual dissimulou o acerto sob a forma do que se conhece como um SWAP, um contrato de câmbio para os fluxos financeiros que equivale a uma espécie de crédito.
Esse esquema fraudulento fez com que, na base dos chamados « produtos derivativos » implicados na operação, em apenas quatro anos a dívida que a Grécia contraiu com o Goldman Sachs passasse de 2,8 bilhões de euros para 5,1 bilhões. Dois jornalistas da agência Bloomberg, Nick Dunbar e Elisa Martinuzii, realizaram uma paciente investigação ao término da qual desnudaram este obscuro mecanismo.
A transação consistiu em mudar a dívida que estava cotizada em dólares e em yens para euros, mas com base em uma taxa de câmbio fictícia. Assim se reduziu o endividamento grego e, com isso, a Grécia respeitou os critérios fixados pelo Tratado de Maastricht para ingressar no euro. Um detalhe complicou a maquiagem: o Goldman Sachs estabeleceu um contrato com a Grécia mediante o qual dissimulou o acerto sob a forma do que se conhece como um SWAP, um contrato de câmbio para os fluxos financeiros que equivale a uma espécie de crédito.
Esse esquema fraudulento fez com que, na base dos chamados « produtos derivativos » implicados na operação, em apenas quatro anos a dívida que a Grécia contraiu com o Goldman Sachs passasse de 2,8 bilhões de euros para 5,1 bilhões. Dois jornalistas da agência Bloomberg, Nick Dunbar e Elisa Martinuzii, realizaram uma paciente investigação ao término da qual desnudaram este obscuro mecanismo.
Segundo explicou aos jornalistas o chefe do escritório de gestão da dívida
grega entre 1999 e 2004, Christoforos Sardelis, neste momento a arquitetura da
proposta do Goldman Sachs escapou de suas mãos. Logo em seguida, disse
Sardelis, os atentados de 11 de setembro e uma má decisão dos bancos plantaram
a semente do desastre atual. A conclusão da investigação é contundente : Grécia
e Goldman Sachs hipotecaram o futuro do povo grego e acionaram uma bomba
relógio que, 10 anos mais tarde, explodiria nas mãos da sociedade.
Em matéria de grandes fraudes organizados por bancos de investimento a impunidade é a regra. Ninguém foi nem será condenado. Christoforos Sardelis afirmou que « o acordo com o Goldman Sachs é uma história muito sexy dentre dois pecadores. O Goldman Sachs obteve apetitosos lucros nesta operação truculenta. No entanto, o banco de negócios norte-americano afirma em sua defesa que não fez nada de ilegal, que tudo o que foi realizado respeitava ao pé da letra as diretrizes do Eurostat, o organismo europeu de estatísticas.
Em matéria de grandes fraudes organizados por bancos de investimento a impunidade é a regra. Ninguém foi nem será condenado. Christoforos Sardelis afirmou que « o acordo com o Goldman Sachs é uma história muito sexy dentre dois pecadores. O Goldman Sachs obteve apetitosos lucros nesta operação truculenta. No entanto, o banco de negócios norte-americano afirma em sua defesa que não fez nada de ilegal, que tudo o que foi realizado respeitava ao pé da letra as diretrizes do Eurostat, o organismo europeu de estatísticas.
O Eurostat, por sua vez, alega que só tomou conhecimento em 2010 dos níveis de
endividamento grego. A defesa parece pobre porque as primeiras denúncias sobre
a maquiagem das contas gregas e o papel desempenhado pelo Goldman Sachs datam
de 2003.
Em um informe de 2004, o Eurostat escreveu: «falsificação generalizada dos dados sobre o deficit e a dívida por parte das autoridades gregas». Graças à cumplicidade do organismo financeiro norte-americano e de várias instâncias e personalidades europeias, a Grécia pôde dissimular durante vários anos o «pacote» escondido de sua dívida. Em 2010, Jean Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), se negou a entregar os documentos requeridos para dar a conhecer a amplitude da verdade.
No meio a esta grande mentira, há um personagem que hoje é central : trata-se de Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu e grande partidário de terminar de uma vez por todas com o modelo social europeu. Draghi é um homem do Goldman Sachs. Entre 2002 e 2005 foi vice-presidente do Goldman Sachs para a Europa e, por conseguinte, estava a par da falsificação de dados sobre as finanças públicas da Grécia. Foi o seu próprio banco que estruturou a falsificação.
Em um informe de 2004, o Eurostat escreveu: «falsificação generalizada dos dados sobre o deficit e a dívida por parte das autoridades gregas». Graças à cumplicidade do organismo financeiro norte-americano e de várias instâncias e personalidades europeias, a Grécia pôde dissimular durante vários anos o «pacote» escondido de sua dívida. Em 2010, Jean Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), se negou a entregar os documentos requeridos para dar a conhecer a amplitude da verdade.
No meio a esta grande mentira, há um personagem que hoje é central : trata-se de Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu e grande partidário de terminar de uma vez por todas com o modelo social europeu. Draghi é um homem do Goldman Sachs. Entre 2002 e 2005 foi vice-presidente do Goldman Sachs para a Europa e, por conseguinte, estava a par da falsificação de dados sobre as finanças públicas da Grécia. Foi o seu próprio banco que estruturou a falsificação.
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