Gosto da Alemanha como
país. Tenho por lá bons amigos. Percorri-a de lés a lés antes e depois da
reunificação. Vi em Potsdam o original da ata duma das grandes conferências do
final do conflito mundial 1939-45 (Ialta, Teerão e Potsdam), a foto do jovem
jornalista John Fitzgerald Kennedy assistindo ao encontro, a igreja onde se
albergou o Bundestag depois de os camisas castanhas do Führer terem incendiado
o Reichstag.
Churchill chama a este conflito
a «guerra evitável». Não tanto pelo ódio milenar entre a Alemanha e a França.
Não tanto pelas seis guerras declaradas pela Alemanha à França (se incluirmos a
tentativa frustrada de Bismark) nos cem anos anteriores a 1933. Mas, sobretudo,
pelo ensimesmamento, arrogância, ignorância e medo dos restantes países
europeus e dos EUA, como se fraquezas como se fossem forças conjugadas, aliadas
à debilidade operativa da Sociedade das Nações.
A análise política
corriqueira dos dias de hoje quase exclui a apreciação histórica. Os disparates
feitos dogma lidos e ouvidos por aí, duma loquacidade inconsistente, são, por isso
mesmo, duma limitação constrangedora.
O MSN publica hoje um
artigo não assinado, sem menção de autor, sob o título em epígrafe, impossível
de não ser lido na presente conjuntura. Daí a réplica aqui feita com a devida
vénia. HP
The Ciano Diaries
“Um olhar por algumas
entradas no diário pessoal de Galeazzo Ciano, ministro dos Negócios
Estrangeiros da Itália fascista e genro de Benito Mussolini, mostra-nos os
pontos de encontro entre a Grécia da II Guerra Mundial e a atual crise que o
país ultrapassa. Patrick Cockburn destaca no jornal britânico The Independent
as frases retiradas dos diários de Ciano, escritos que datam dos anos da II
Guerra Mundial.
No artigo de opinião, o especialista britânico critica
duramente a atuação do FMI e União Europeia e as políticas de austeridade,
argumentando que a situação atual da Grécia e a tensão vivida entre os
responsáveis gregos e os credores internacionais apresenta curiosas semelhanças
com o país ocupado pelas forças do Eixo.
Os avisos e a pressão sobre o "Duce "Em
outubro de 1940, Mussolini já ocupava a Albânia desde 1939 e vinha a pressionar
constantemente a fronteira do país com a Grécia. Aliada às pretensões imperialistas
e a vontade de afirmação no Mediterrâneo do regime fascista italiano estava a
constante pressão de Adolf Hitler sobre o duce.
Nesse ano, os nazis dominavam o conflito por completo,
com importantes vitórias frente ao Exército Vermelho e a ocupação de cada vez
mais territórios do norte da Europa. Mussolini, por sua vez, lidava com grandes
perdas nos territórios do norte de África e precisava de se reafirmar enquanto
potência do Eixo e sair da sombra do führer. Apesar dos avisos e ultimatos
deixados, a invasão acabou mesmo por acontecer, a 28 de outubro de 1940.
As tropas gregas ainda impuseram importantes perdas
aos homens de Mussolini, mas o exército helénico acabaria por cair a 6 de abril
de 1941 frente às forças italianas e alemãs.
As frases são retiradas do livro "The Ciano
Diaries, 1937-1943", publicado em 1945 (sem edição em Portugal), e alertam
para o desastre económico e social do país ao fim de dois anos de ocupação.
6 de Outubro de 1942: «Cloudius (responsável pelas
Finanças do III Reich) encontra-se em Roma para discutir a questão financeira
da Grécia, que é muito má. Se continuar a este ritmo, resultará numa inflação
sensacional e inevitável, com todas as suas consequências.»8 de Outubro de
1942: (Ciano reescreve uma das respostas de Mussolini após ter exposto as suas
preocupações quanto à questão grega) «"Se perdermos esta guerra, será
devido à estupidez política dos alemães, que nem sequer tentaram usar o senso
comum, e transformaram a Europa num quente e traiçoeiro vulcão". Ele
(Mussolini) pretende falar com Himmler sobre esta questão, mas não vai chegar a
lado algum ”.
Fevereiro 2015
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