É perfeitamente natural que o dirigente
sionista, com o desígnio histórico de pôr fim à diáspora judaica, fazendo
afluir todos os judeus a Israel, esteja a cumprir com os seus preceitos de fé,
a defender a não assimilação dos judeus nos países onde vivem. Por muito pouco
polido que um tal discurso possa parecer a outras crenças ou descrenças, como
se ouviu em França aquando do affair Hebdo. Todavia, o forçar a nota no atual
contexto não deixa de nos parecer insensatez ou insensibilidade quando tal fé
germina mundo inteiro e onde quem a professa está muito mais seguro que no atual
estado sitiado e securitário, herdeiro do Reino de Israel, mas ainda não
reconhecedor das restantes autonomias, nomeadamente a dos vizinhos cujas tribos
também já ocuparam o seu atual território. Aliás, um fato vulgaríssimo na
Europa e em África.
Despedido da tropa, preso
por agitador, ridicularizado pelas suas fracas qualidades como émulo de Van
Gogh, acabando a pintar paredes, invejoso do alheio, da vida estável e próspera
de muitos judeus que conhecera, tanto no seu país como ali na cidade onde
adornou, o pobre cabo cismou planos de grandeza e vingança e consumou-os no
crime mais horrendo da história. Não é vulgar tal odio ser apanágio de pessoas
com uma determinada deficiência, mas também não é caso raro ou nunca visto. O economista
tem mão de ferro sobre todos os desfavorecidos – mesmo se estes, nalguns casos martirizados
por povos diferentes, principalmente no século vinte, tenham sido ainda vítimas
dos seus governantes e de alguns dos seus ricos -, vê-os invariavelmente como
párias, gastadores, inúteis, parasitas.
Há muito os partidos
tradicionais deixaram de representar quem quer que seja. Obviamente, uns estão
mais longe do interesse dos cidadãos em relação a outros. Há quatro anos
esboçou-se entre nós um princípio de exaltação da cidadania, primeiro numa candidatura
presidencial, depois no concurso autárquico.
Não tenho quaisquer
dúvidas, essa candidatura solista (mesmo com os entraves internos no seu
percurso, mormente assessorias menos indicadas), se tivesse nascido hoje sairia
vencedora. Mas apareceu fora do tempo e o desfecho inesperado da sua trajetória
ainda faz muita gente arrepiar-se com desdém. O movimento da cidadania está vivíssimo
na Catalunha e até certo ponto marca presença no Podemos e no Syrisa. E tem uma
extensão crescente em Portugal, na liberdade e descontentamento, embora de
forma inorgânica. Se fossemos condenar tais correntes como de extrema esquerda,
quando mobilizam boa parte dos eleitorados, que diríamos de PSD e PS, bem como fatia
de leão dentre a nossa imprensa, onde os dirigentes mor militaram em grupos
maoistas ou trotskistas?
Afinal, as motivações de cabos de guerra desocupados, ministros e deputados à beira do desemprego político e políticos sobranceiros e transitórios, são muitas vezes bem mais causadoras de desequilíbrios, dessolidarização e estados de não paz, que os povos de quem se julgam donos e senhores.
Fevereiro 2015
Henrique Pinto
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