segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A EUROPA ALEMÃ

É perfeitamente natural que o dirigente sionista, com o desígnio histórico de pôr fim à diáspora judaica, fazendo afluir todos os judeus a Israel, esteja a cumprir com os seus preceitos de fé, a defender a não assimilação dos judeus nos países onde vivem. Por muito pouco polido que um tal discurso possa parecer a outras crenças ou descrenças, como se ouviu em França aquando do affair Hebdo. Todavia, o forçar a nota no atual contexto não deixa de nos parecer insensatez ou insensibilidade quando tal fé germina mundo inteiro e onde quem a professa está muito mais seguro que no atual estado sitiado e securitário, herdeiro do Reino de Israel, mas ainda não reconhecedor das restantes autonomias, nomeadamente a dos vizinhos cujas tribos também já ocuparam o seu atual território. Aliás, um fato vulgaríssimo na Europa e em África. 

Despedido da tropa, preso por agitador, ridicularizado pelas suas fracas qualidades como émulo de Van Gogh, acabando a pintar paredes, invejoso do alheio, da vida estável e próspera de muitos judeus que conhecera, tanto no seu país como ali na cidade onde adornou, o pobre cabo cismou planos de grandeza e vingança e consumou-os no crime mais horrendo da história. Não é vulgar tal odio ser apanágio de pessoas com uma determinada deficiência, mas também não é caso raro ou nunca visto. O economista tem mão de ferro sobre todos os desfavorecidos – mesmo se estes, nalguns casos martirizados por povos diferentes, principalmente no século vinte, tenham sido ainda vítimas dos seus governantes e de alguns dos seus ricos -, vê-os invariavelmente como párias, gastadores, inúteis, parasitas.

Há muito os partidos tradicionais deixaram de representar quem quer que seja. Obviamente, uns estão mais longe do interesse dos cidadãos em relação a outros. Há quatro anos esboçou-se entre nós um princípio de exaltação da cidadania, primeiro numa candidatura presidencial, depois no concurso autárquico.

Não tenho quaisquer dúvidas, essa candidatura solista (mesmo com os entraves internos no seu percurso, mormente assessorias menos indicadas), se tivesse nascido hoje sairia vencedora. Mas apareceu fora do tempo e o desfecho inesperado da sua trajetória ainda faz muita gente arrepiar-se com desdém. O movimento da cidadania está vivíssimo na Catalunha e até certo ponto marca presença no Podemos e no Syrisa. E tem uma extensão crescente em Portugal, na liberdade e descontentamento, embora de forma inorgânica. Se fossemos condenar tais correntes como de extrema esquerda, quando mobilizam boa parte dos eleitorados, que diríamos de PSD e PS, bem como fatia de leão dentre a nossa imprensa, onde os dirigentes mor militaram em grupos maoistas ou trotskistas?

Afinal, as motivações de cabos de guerra desocupados, ministros e deputados à beira do desemprego político e políticos sobranceiros e transitórios, são muitas vezes bem mais causadoras de desequilíbrios, dessolidarização e estados de não paz, que os povos de quem se julgam donos e senhores.
Fevereiro 2015
Henrique Pinto  

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